Crônica Cinza

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Dedico essa crônica à herdeira mais estimada, que me inspira todos os dias a ser mais verdadeiro.
Você é arte, e me inspira todos os dias a ser também.

Obrigado por seguir o seu sonho de trabalhar com arte visual.

— Delgado.

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Nós não somos a mesma pessoa.

E eu tenho certeza absoluta disso
Quando fecho os meus olhos para o presente
E passo a enxergar o passado.

...

Em 2009,
Preto era preto
E branco era branco.
Não tinha esse negócio de cinza.

Não tinha,
Pois a única preocupação que viajava sobre a minha cabeça,
Naquela época,
Era se daria tempo de ir assistir todos os desenhos
Depois de guardar os brinquedos espalhados pelo chão
Naquele longo corredor
Daquela enorme casa
Que era a fortaleza imaginária
Dos meus,
Dos dele
E dos dela.

Todos esses pensamentos
(Mesmo que inocentes)
Não faziam ideia do que aconteceria logo depois
Da fuga cinematográfica
Da herdeira mais estimada:
Eles cresceram.

E o preto deixou de ser tão escuro assim
E o branco passou a ser algo mais fosco,
Perdido,
Dentre tantas outras cores que havia
Naquele enorme arco-íris
Que era a vida.

Mesmo que, ainda não de verdade,
Eles sempre souberam que estavam num passo de descobrir
O que havia atrás da cortina
Com que foram cobertos
Este tempo todo:

Nem sempre o preto vinha, de fato, do preto,
E o branco — é claro —, vinha do branco.

E eles entenderam finalmente
O porquê
Da fuga cinematográfica
Da herdeira mais estimada:

Ela sabia que nunca fora preta,
Tampouco branca.

Entretanto, não havia espaço para ser cinza
Quando tudo que esperam de você
É que você seja branco
Todas as vezes.

E, hoje,
Não é surpresa para nenhum dos progenitores
Que somos cinza;
Mesmo que, intimamente,
Nós três sabemos que eles ainda sentem medo
De que sejamos mais pretos do que eles esperavam.

"Eu sempre achei que as borboletas não machucariam nenhum ser vivo,
Mas a expectativa foi toda minha."

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