Terror na Floresta - Conto

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Tudo não passava de uma simples brincadeira até o momento em que Mani se perdeu na floresta. De uma hora para outra ela não conseguiu mais escutar os passos e as risadas das outras crianças e a única coisa que ouvia no momento eram os sons da mata e de seus dois irmãos mais novos que se agarravam a ela.

– Parem de fazer barulho – pediu Mani aos irmãos. – Estou tentando escutar algum som da aldeia.

– Mas, Mani, já está ficando escuro. Jaci já vai aparecer – disse o menor.

– Por isso estou pedindo para ficarem em silêncio! – exaltou-se a índia.

Em resposta ao seu grito, um leve rastejar e um silvo próximo aos irmãos pôde ser ouvido. Acompanhada do silvo uma voz suave e arrastada pareceu ecoar diretamente nos ouvidos de Mani. "Entregue-me eles!" Um arrepio percorreu todo o corpo da menina.

– O que disse? – ela perguntou com voz trêmula. – Quem está aí?

– Ninguém disse nada, irmã! – respondeu o maior.

– Entregue-me eles! Sssss – a voz repetiu parecendo mais próxima.

No chão da mata, arrastando-se por entre as folhas caídas, Mani viu a cauda de uma serpente estranhamente colorida, vindo em direção a eles. Ela sabia que aquela não seria a melhor opção no momento, mas foi a única atitude que conseguiu tomar. Segurou com força a mão de seus irmãos e gritou.

– Corram!

Enquanto corria, pensamentos ecoavam em sua cabeça. "O que era aquela voz? Meus irmãos não escutaram! Estou enlouquecendo? Será um espírito mau?" O silvo e o som de arrastar os seguiam e pareciam cada vez mais próximo. Mani correu ainda mais rápido.

Por serem muito novos, logo seus dois irmãos se cansaram e eles tiveram que parar. A noite já havia caído. Mani procurou abrigo num entrelaçado de raízes de árvores, abraçando seus irmãos.

Os olhos negros e brilhantes da índia perscrutavam a escuridão da floresta e nada enxergavam. Qualquer barulho, por menor que fosse, fazia o coração de Mani disparar. Os meninos pareciam não entender o medo e a agitação da irmã.

Novamente Mani ouviu o silvo, estava próximo demais.

– Entregue-me os meninos – a voz falou. – Se me entregá-los sua aldeia será salva.

As escamas coloridas da serpente brilhavam na escuridão da noite de forma não natural.

– O que quer dizer? – perguntou Mani.

– Outros como eu estão se dirigindo para sua aldeia neste momento. O que queremos é um sacrifício. Queremos meninos que podem vir a se tornar grandes guerreiros. Sacrifícios assim são os que mais gostamos. Esses dois que tenta proteger serão os mais fortes e valorosos. Se não entregar o que queremos destruiremos sua preciosa aldeia. A escolha é sua. Sssss.

– Não vou entregá-los – gritou Mani. – Vá embora!

– Ssss! Então sua aldeia cairá.

– Não! Peça outra coisa, menos a vida dos meus irmãos.

– Não há mais nada que queiramos! Se não vai entregá-los, eu mesmo vou pegar.

A serpente rastejou por entre as raízes e começou a circundar os pés do irmão mais novo. O menino chorou, agarrando-se fortemente a Mani. Desesperada, a índia puxou a serpente. Sentiu as presas se enterrando em seu braço e o veneno queimando em seu corpo. Ela gritou e jogou longe a serpente.

– Você venceu dessa vez, mas eu voltarei! Ssssss.

O braço de Mani latejava e ela sentia sua mente apagando, mas ela precisava aguentar, precisava proteger os meninos.

Terror na Floresta - ContoWhere stories live. Discover now