Toronto, 1897
Mais um giro, as sapatilhas estavam ficando desgastadas já que a menina não parava de treinar por nada no mundo. Ela sempre perdia a noção do tempo quando começava a dançar, era impressionante. Era como se ela finalmente tivesse encontrado algo que a completasse.
Enquanto a mesma voltava para casa ainda com suas roupas da aula de dança, sentiu algumas olhadas estranhas de homens mais velhos, algo que a incomodou profundamente. Uma menina de 13 anos não deveria receber esse tipo de olhares. O problema era sua roupa que não era longa o suficiente? Ora, ela estava em uma aula de dança e aqueles vestidos e meias não davam muita flexibilidade. Mas não importa pois é uma criança. Ao chegar em casa ofegante recebeu logo um sermão de sua tia.
- E se pensarem mal de você? - A tia repreendeu.
- Eu sou uma criança tia! Eu tenho treze anos! - Falou como se fosse óbvio - Aliás, por qual motivo precisamos estar sempre comportadas? Se pensarem mal de mim o problema é deles não meu, além do mais, quem irá pro inferno serão eles, minha consciência está bem limpa! - Jogou tudo com certa indignação, não com a tia, com a situação no geral.
- Elleonor Franklin, não falamos essa palavra nesta casa - Reclamou.
- Inferno? - Perguntou intrigada - Tia, eu sinceramente não acho que falar a palavra me levará pro lugar.
- Não importa - Suspirou chateada - Eu não gosto, ponto.
- Mas você não acha que numa escala de pecado, pensar mal de uma criança seria pior que falar... - Ameaçou dizer "inferno" mas foi interrompida pela tia.
- Não diga! - Se referiu a palavra - Apenas vá trocar de roupa e desça para comer.
- Tudo bem - Revirou os olhos cansada e arrastou seu corpo até as grandes escadas da enorme residência - Eu sei que estou certa - Murmurou em meio à um riso leve.
Enquanto isso uma loira conversava com uma ruiva na cozinha.
- Não quer ajuda? - A ruiva perguntou insistente.
- Não, Catherine, não - Suspirou em meio a um pequeno sorriso - Eu sei fazer biscoitos.
- Tudo bem - Se fingiu de ofendida - Mas apenas porque eu adoro ver você cozinhando.
- Ah - Sentiu suas bochechas corarem.
- Você fica linda cozinhando - Continuou olhando atentamente a menina.
- Não sabe o que fala... - Engoliu em seco um pouco envergonhada.
- Sei exatamente o que falo. Aceite - Se aproximou da garota e pegou levemente em seu rosto - Você é um colírio para meus olhos, Ismária Franklin.
- Preciso ver o forno - Saiu das mãos da menina com rapidez. Sentiu seu coração acelerar mas fingiu estar tranquila.
- Vou esperar lá fora - Suspirou chateada, na verdade, desapontada e saiu da cozinha.
Ismária respirou fundo desapontada consigo mesma, ela tinha esses sentimentos e essas sensações que ela não fazia ideia de como lidar. No fundo ela sabia exatamente o que ela queria, mas achava tão errado que acabava por se esconder dentro de um armário trancado a sete chaves. Isso não é de hoje, na verdade, sempre esteve com ela, a menina sempre se sentiu diferente, mas agora está começando a se desabrochar, e isso a assustava.
- Sinto cheiro de biscoitos - A menina de cabelos negros desceu as escadas.
- Sua irmã está fazendo biscoitos - A ruiva exclamou - Chegou tarde hoje.
- Ah, eu me distraí enquanto ensaiava - Suspirou cansada em meio à um sorriso - Vamos ter uma apresentação, você vai?
- Não sei pirralha - Se fingiu entediada.
- Cat! Você vai! - A olhou com raiva.
- Relaxa - Riu - Eu vou!
Elle foi até a sala e ouviu sua tia perguntar do porque a menina não aprendia a cozinhar logo, a Franklin mais nova revirou os olhos enquanto dizia que não queria ficar enfurnada em uma cozinha, apreciava a dedicação tanto da tia, como da mãe e da irmã, mas isso não era pra ela. Foi então que a tia começou a falar sobre pretendentes o que fez a menina quase engasgar com sua própria saliva, isso era algo que ela não queria pensar por agora, se achava muito nova pra começar a imaginar um noivo, sim ela queria casar um dia, com alguém especial, ter um romance tão lindo como o de seus pais, mas tinha consciência de que era muito nova, afinal 13 anos não é nada pra história.
- Gilbert sabe cozinhar, certo Elle? - A irmã mais velha chegou se intrometendo na conversa.
Elle não via ou ouvia falar de Gilbert Blythe à cerca de 8 meses desde seu último encontro com o menino. Óbvio que ouvir o nome dele a deixou um tanto mexida, sentia falta de seus amigos, e o Blythe era um amigo próximo. Antes de ir pra Toronto ela ficou confusa sobre seus sentimentos pelo menino, é verdade, mas foi um momento delicado da vida dela. Gilbert era seu amigo e ela não queria pensar nele de outra forma, não como pretendente, seria esquisito talvez.
- Quem é Gilbert? - A mulher perguntou.
- Uh - A ruiva da mesma idade da loira também entrou no assunto - Também quero saber.
- É um amigo - Olhou pra tia e logo pra irmã com certa raiva - Só amigo, nada além disso! - Exclamou - E eu nem sei onde esse menino tá, a última vez que o vi foi em Charletown querendo arranjar um emprego em um navio, deve estar conhecendo alguma parte remota do mundo agora... - Sorriu.
- Mas e o Charlie? - Ismária continuou todos os meninos com quem Elle tinha contato.
- Charlie é quase como um irmão! - Falou como se aquilo fosse óbvio.
- Como era mesmo o nome daquele outro? - Se perguntou.
- Tem mais? - A ruiva indagou curiosa.
- O primo da Diana...
- Carter! - Exclamou - Ele não é uma opção - Engoliu em seco.
Todas foram comer os biscoitos da loira que recebeu uma grande quantia de elogios, a tia falou que seu marido teria sorte o que a deixou um pouco desconfortável. Digamos que a viúva era chata com esse assunto pra cima das meninas. De resto a mulher era maravilhosa, atenciosa, as vezes rígida, mas boa pessoa, cuidava muito bem das meninas e dava ótimos conselhos. Porém pretendentes era seu assunto preferido, Elle achava que era por causa do marido que perdeu, talvez ela não lidasse tão bem com isso, ou talvez uma criação, quem sabe afinal.
No dia seguinte Elle foi até a aula de dança como sempre, assim que chegou viu algumas garotas falando sobre garotos, mais especificamente sobre dinheiro. Ela odiava o fato de que as garotas de sua classe eram extremamente materialistas, elas não se importavam com personalidade, amizade, amor verdadeiro, elas só se importavam com estatus, dinheiro, terras, se o garoto tivesse uma mansão seria considerado o pretendente perfeito, não importa o quão alienado esse pudesse ser. Elle amava Toronto, especificamente suas aulas de dança, mas sentia falta de seus amigos em Avonlea.
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Bom, os primeiros capítulos da segunda parte vão variar entre avonlea e toronto. Em Toronto vai ser obvio pelo ponto de vista da Elle, e em Avonlea vai ser pelo Carter porque sim.
Mas isso vai ser só até ela voltar pra Avonlea, e prometo que não vai demorar rs
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Elle de Elleonor • (Anne With An E)
FanficElleonor Franklin é uma moradora de Avonlea, assim como sua familia. Elle sempre foi a frente de seu tempo e quando uma ruiva cheia de imaginaçã entra em sua vida, ela percebe isso, e ajuda a amiga na luta contra injustiças. No meio disso tudo Elle...