Capítulo 1 - Os novos vizinhos

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Um feche de luz que atravessava a janela de vidro e passava pelo tecido da cortina bateu diretamente nos meus olhos, me fazendo abri-los devagar. Olhei para as partículas de poeira que se tornavam visíveis à medida que passavam pela luz. Mas se tem uma coisa que de fato me irrita é acordar com uma faixa de luz solar forte bem na sua cara. Tenho certeza de que muitas pessoas podem ter ficado cegas por causa disso. 

Mudo a cabeça de posição para que a luz não fique tão diretamente nos meus olhos e bocejo. E percebo que o meu bafo matinal já está marcando presença. Eu sou fresco o suficiente para não aguentar o gosto estranho que fica na minha boca quando eu acordo. Me sento na cama e fico alguns instantes parado, tentando recuperar a consciência depois de uma noite inteira de sono e uma faixa do Sol na minha cara. Passo a mão pelo meu cabelo e, pelo meu tato, consigo deduzir que a divisão dele está completamente errada, e isso realmente me incomoda.

Me levanto e vou até o banheiro. Analiso minha situação no espelho e, de fato, a linha que reparte o meu cabelo está parecendo um caminho de rato, como diria meu pai. Pego um pente na prateleira perto da porta e começo a ajeitar da maneira que eu acho melhor. O problema é que como meu cabelo passou a noite toda na mesma posição, sinto um pouco de desconforto quando ele volta para a posição que eu uso novamente. Jogo um pouco de água no meu rosto para me despertar (e de fato funciona), me apoio na pia e fico encarando minha figura no espelho. Minhas olheiras estão bem percebíveis, e tem uma marca de lençol dobrado na minha bochecha. Normal. Passo mais água no meu rosto e escovo os dentes, feliz em saber que estou expulsando o bafo matinal e o substituindo por um cheiro refrescante de menta. 

Finalizo tudo que tenho para fazer no banheiro e troco de roupa, usando a mesma blusa cinza e moletom que estou usando a três dias, mas que por enquanto não está suja.

Desço para a cozinha e meus pais já estão acordados. Percebo então que acordei mais cedo que o normal, já que eles ainda estão arrumando a mesa para o café.

-Bom dia, filho. Acordou cedo. - diz minha mãe, confirmando a minha teoria.

-Bom dia. - respondo, porém mentalmente estou xingando a mim mesmo por não ter fechado a cortina antes de me deitar. Puxo uma das cadeiras para trás, verificando antes se não é a que está com uma perna meio solta. Não é. Me sento e faço um impulso com as pernas para colocar a cadeira novamente mais perto da mesa. Logo minha mãe colocou um prato de porcelana com um sanduíche em frente a mim. Depois meu pai se sentou do outro lado da mesa e pôs o notebook perto de si, com os óculos pendurados na ponta do nariz.

-Mal deu nove horas e o senhor já está trabalhando? - questiono, em seguida dando uma mordida no sanduíche. Ele levanta os olhos na minha direção e solta uma risada discreta.

-Trabalho, meu filho. O trabalho nunca para.

-Mas pode dar uma pausa para tomar um café. - Minha mãe responde, colocando uma caneca de café ao lado do notebook e tentando parecer irritada, mas falha miseravelmente e desiste quando meu pai dá um beijo em sua mão. Essa é a relação dos meus pais. Já disse para mim mesmo que se eu for me relacionar com alguém algum dia, quero que seja que nem os meus pais.

Dei mais uma mordida no sanduíche e passei a mão no cabelo para ver se ainda tinha o que arrumar. Então a fisionomia da minha mãe mudou, como se ela tivesse lembrado de alguma coisa. Abriu um pouco mais os olhos, pressionou os lábios e estalou os dedos.

-Jimim, já ia me esquecendo – acertei. -Uma nova família está vindo se mudar para a casa aqui do lado. Não é legal?

Levantei uma sobrancelha e fiquei encarando a minha mãe, tentando ainda formular uma resposta.

-Eles devem chegar quando? - perguntei, porque foi a única coisa que me passou pela cabeça.

-Hoje mesmo, por volta da três da tarde.

Jikook - Atitudes Valem Mais do que PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora