C A P Í T U L O 18

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Acordei no susto, e fiquei mais assustada ainda ao perceber que Ana não está ao meu lado. Quando olho para a poltrona, vejo Henrique com ela no colo, segurando a mamadeira que ela toma.

— Olha quem acordou? - Ele falou para Ana -

— A quanto tempo está aí? - Perguntei me levantando -

— Um tempinho. - Ele a coloca na cama e segura minha mão - Me desculpe por ontem. Você foi uma heroína pra ela, e eu estou aqui para te apoiar, seja qual for a sua decisão.

— Porque está falando isso? - Ele respirou fundo -

— Tem uma amiga da sua mãe lá embaixo, ela é assistente social e...

Não ouvi suas próximas palavras, apenas sai do quarto, ouvindo seus passos atrás de mim. Quando cheguei na sala, vejo minha mãe sentada no sofá, junto com meu pai, Guilherme e uma mulher com uma pasta nas mãos.

— Alice, esta é Olívia, ela é assistente social, veio nos ajudar com a Ana. - Minha mãe disse -

— Seu ato foi muito corajoso e bondoso, Alice. - A mulher disse sorrindo -

— Não vai levá-la. - Falei -

— Filha, Olívia já tem uma família disposta a adotá-la, um casal de São Paulo, a mulher é arquiteta e...

— Eu quero adotá-la. - Vi as expressões deles mudar -

— Isso não está em discussão. - Disse o meu pai -

— Sinto muito, mas a escolha é minha.

— Alice, eu entendo que queira ajudá-la, mas, tem muitos casais querendo adotar crianças. Casais que tem vidas estruturadas e que são bem sucedidos.

— Todos nós sabemos que precisamos de apenas um "agrado" pra ela ser minha. - A mulher revirou os olhos e se levantou -

— Está me desrespeitando, garota! - Ela disse se alterando -

— Garota não! Baixe seu tom pra falar com ela! - Guilherme disse entrando na minha frente -

— Acho que está na hora de você ir, Olívia. Quando precisarmos dos seus serviços, ligaremos. - Meu pai falou -

  Fui até o meu quarto, tomei um banho e me vesti. Com toda essa discussão eu esqueci que ainda estava de pijama.
Peguei Ana no colo e desci, vendo apenas Guilherme e Miguel na sala.

— Eles estão te esperando, no escritório. - Guilherme falou - Deixa ela com a gente.

A entreguei a ele e fui para o escritório. Meu pai está sentado em sua cadeira, minha mãe em uma das cadeiras na sua frente, e Henrique de pé, encostado na parede. Parei no meio da sala.

— Sua mãe e eu conversamos. E você sabe que queremos o melhor pra você, Alice. E para o seu bem, a Ana vai para a adoção. - Meu pai disse, calmo e sério -

— É para o seu bem minha filha, você é muito jovem, não pode ser responsável por ela. - Minha mãe falou -

— E se ela não fosse a responsável legal? - Henrique sugeriu, fazendo com que nós o olhemos-

— Como assim? - Perguntei -

— Alice e eu seremos os responsáveis legais. Eu sou maior de idade. - Continuou -

— Porque não param com esta loucura? Vocês são apenas namorados e não... - Meu pai começou, e eu o interrompi -

— Henrique e eu queremos nos casar. Já tem um tempo que estamos planejando isso, só estávamos esperando um momento pra contar.

— Adotar uma criança, se casar, por acaso você está grávida, Alice? - Meu pai se altera, se levantando -

— É claro que não! - Respondi -

— Alice, você é muito nova...

— Querem saber? - Interrompi minha mãe - Você se casou com 16 anos, porque teve seus motivos e porque se apaixonou. Eu o amo, e preciso dele. E se vocês não permitirem, eu pego a Ana e vou embora com ele.

— Você tem um gênio forte... - Meu pai sussurrou - Se é isso que quer, que os dois querem. Eu vou apoiá-los. Mas saibam que a responsabilidade será inteiramente de vocês.

  Com apenas uma ligação do influente senhor Renan Albuquerque, a guarda de Ana é nossa, os documentos serão assinados ao decorrer da semana.

É... É muita loucura eu querer adotar um bebê que conheço a um dia, mas, sinto que é meu dever protegê-la. Não foi o que eu imaginei viver. Na verdade, eu nunca cogitei a idéia de ter um filho, nunca passou pela minha cabeça, pelo menos não tão cedo. Mas quem sou eu pra contrariar o destino, não é?

...

  Saio de casa com os olhos quase fechando de sono, entrei no carro e esperei o motorista dar a partida em direção a escola. Já faz uma semana que Ana está comigo, e eu estou amando tudo que seja relacionado a maternidade! Mas eu daria tudo por uma noite inteira de sono. Desde que chegou, ela chora toda noite, e isso está acabando comigo. Não consegui acordar na hora da escola ontem e perdi um dia de aula, o que rendeu muita falação do meu pai nos meus ouvidos.
  Quando me dei conta, percebi que já estamos na porta da escola. Assim que passei pelo portão, Elen e Hugo vieram até mim.

— Você tá horrível. - Hugo falou rindo -

— Muito obrigada. - Respondi indo até uma mesinha e me sentando junto com eles -

— O motivo dessa derrota, se chama Ana Clara? - Elen perguntou -

— Eu não sei mais o que fazer! A Ana chora toda noite no meio da madrugada. - Respirei fundo ao ouvir o sinal tocar - Vamos logo.

Por mais difícil que tenha sido, consegui me manter acordada em todas as aulas. No final, juntei meus materiais com rapidez e fui para o portão esperar pelo motorista. Se passaram dez minutos e para a minha surpresa, o carro que para na minha frente é o de Henrique.

— Falei com os seus pais, vamos pra minha casa. - Ele disse assim que acelerou com o carro -

— Não posso ir pra sua casa, Henrique. A Ana está com a minha mãe, e...

— Relaxa.

  Em poucos minutos nós entramos em seu apartamento. Muito bem arrumado, como sempre. Deixo minha mochila em qualquer lugar e me sento no sofá. Henrique se senta atrás de mim e aperta meus ombros, fazendo uma massagem maravilhosa.

— O Renan me disse que você não tem dormido.

— É. Ana não tem dormido muito bem.

— Que tal você tomar um banho e descansar um pouco? - Ele deu um beijo no meu pescoço -

  Depois de um banho quente, vesti um short de moletom e um sutiã que tinha deixado aqui. Peguei uma escova e fui até a sala enquanto penteio meu cabelo, ficando surpresa ao ver Henrique na cozinha mexendo algo na panela.

— Cozinhando? - Perguntei indo até o balcão -

— Minha especialidade, macarrão ao molho branco.

— Uau, pelo menos não vou morrer de fome quando nos casarmos. - Nós rimos -

— Engraçadinha.

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