MUDANÇAS (NÃO) FAZEM PARTE

ISSO É PERIGOSO!

Durante as férias de verão, eu mudei, cresci um pouco e fiquei mais forte. O que logo foi percebido por Donna, que mudou o assunto de "casa, beija ou mata com os três personagens favoritos de friends" para:

- Rick, eu percebi que você está um pouco mais alto, o que te deram pra comer na fazenda do seu avô? Fermento?

Todos nós rimos um pouco, eu também não sabia explicar o que tinha acontecido comigo. Sério mesmo. Parece que fui atingido por um torpedo de hormônios que me fizeram crescer da noite para o dia, mas eu gostei. Esses dez centímetros a mais fizeram toda a diferença. Na minha percepção eu parecia com aquele ator que faz os filmes do homem-aranha, o Tom Holland. Mas na verdade, eu só era um adolescente normal e bobo, como todos.

Minha mãe me gritou da cozinha, eu fiquei meio sem jeito, ouvir sua mãe gritando seu nome com um leve tom de raiva na frente dos seus amigos não é algo bom se escutar. EU ESTAVA MORTO DE VERGONHA. Quando eu desci do meu quarto e perguntei o porquê do alvoroço em torno do meu nome, eu vi, em cima da bancada, a bandeja de biscoitos, que eram pro "aniversário" do Leo e, um plus: minha mãe morrendo de raiva por algo que nem eu sabia o motivo.

- Ricardo, você poderia explicar o que isso estava fazendo no meu forno?

- Mãe, fala baixo! Isso aí é pra mini festa que a Donna e eu vamos dar pro Leo.

Isso me dava completamente nos nervos. Minha mãe não sabia lidar com esse negócio de "ficar com a boca fechada". Quando eu tinha nove anos, ela estragou minha festa surpresa. Assim que a gente ia chegando no colégio, com um simples "Feliz aniversário, te vejo na fes.. opa. Tchau!". É claro que eu não culpo ela, mas tem vezes que ela é muito demais, até DEMAIS.

- Ah, desculpa - Ela sempre fala isso - eu não sabia. Mas, isso não é motivo pra usar o forno sozinho. Você poderia ter se queimado, ou pior, queimado a casa!

Eu odeio isso. O fato de eu não poder fazer coisas que, para minha mãe são, "perigosas" é um saco total.

- Tá bom então. Já posso subir? - Minha voz soou com um total desinteresse no que ela tinha me alertado.

- Desculpa Rick, - Por que eu fui falar mesmo? - mas se você não sabe, o fogo faz uma coisa impressionante, ele queima.

Minha mãe pode até ser chata, mas ela tem maestria na ironia. Queria ter puxado isso dela, não a teimosia do meu pai. Ou seria da adolescência? Bom, isso eu não sei, mas que eu estou pronto para rebater essa ironia de um jeito mais irônico ainda? Isso é uma certeza!

- Nossa, não sabia que você tinha um alto conhecimento em pirotecnia. Agora me diz, se eu acender uma bombinha e enfiar ela no... - Bom, eu não terminei de falar, mas ela já tinha entendido o final.

- JUAN RICARDO LOPEZ! - A coisa ficou séria. Ela deve estar realmente brava para gritar meu nome completo - Eu não admito esse tipo de comportamento nesta casa!

MERDA! Eu não posso falar nem um palavrãozinho. Não é como se isso fosse me comer de dentro pra fora, fala sério né!

- MÃE QUE SACO! NÃO ME ENCHE, SÉRIO! JÁ TÔ DE SACO CHEIO COM ISSO! - Eu gritei. Não acredito que eu fiz isso.

- Ricardo, já pro quarto! E dê tchau pro Leo e a Donna. De castigo até segunda ordem!

- Mas mãe...

- Nada de "mas mãe". Faz logo o que eu mandei!

Eu subi as escadas com um mix de raiva e tristeza. Donna e Leo foram pra casa e a surpresa foi por água abaixo.

Já é noite e eu estou no meu quarto, pensando na discussão de hoje. Mesmo eu estando de castigo, isso me deu uma súbida sensação de felicidade. Eu ter gritado naquele momento, me aliviou de um jeito que eu não conseguiria imaginar até aquele momento.