🩸: o gato e a criatura

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Frank despertou assustado, com a luz do sol brilhando em seu rosto através de cortinas azuis; lentamente se sentou, catártico como se retornando de um pesadelo; fitou suas pernas sobre a cama e franziu o cenho, tinha uma gaze cuidadosamente enrolada em seu ferimento.

Olhou ao redor, em busca de sua bolsa, mas não estava lá, em lugar algum. A pouca luz lhe assegurava disso, provendo-o de boa visão; estava em um quarto, sem sombra de dúvidas, um quarto sem lâmpadas ou muita cor, debaixo de si um lençol branco se estendia; do outro lado havia um armário e uma penteadeira com um espelho oval preso em dois suportes; tinham velas também, dispostas sobre castiçais pretos, as chamas balançavam num vai e vem assombroso.

Tinha sido capturado, de fato, e agora estava nas mãos da terrível criatura.

Como pôde ser tão estúpido? Deveria ter erguido pelo menos uma estaca, tentado revidar, ao invés de desmaiar. Estava irrevogávelmente apavorado com a perspectiva de estar preso com um monstro, sem saber o que fazer, e pilhado dos pés a cabeça.

Murmurou sem realmente dizer algo, tentando raciocinar a noite passada. Cave havia lhe deixado, um tiro havia sido disparado, sangue pingava das mãos da criatura. Não era muito difícil encaixar as peças, seu coração acelerou, seu instinto gritou. Precisava dar o fora dali, sem seu pai, que estava provavelmente morto.

Aos tropeços, e meio zonzo, caminhou até a porta maciça em frente a cama e girou a maçaneta. A porta era pesada, mas mesmo assim se abriu com um ruído alto.

Do outro lado, como uma ratazana gigante, um gato atravessava o corredor, um gato preto de olhos azuis e rabo branco.

"Pelo visto ele se esqueceu de trancar a porta." Uma voz surgiu, assustando Iero, que pulou para trás, arrepiado até os ossos. "Que descuidado." O gato lhe encarava do chão, completamente descompromissado, como se estar ali fosse tão tedioso quanto assistir futebel em um domingo à tarde. "Você vem comigo." Frank olhou para o horizonte, e então para trás. "Aqui embaixo." E ele olhou, olhou para baixo, para o gato. Não pode ser, pensou consigo mesmo.

"Impossível!" Murmurou, em choque; coçou seus olhos, esperando que fosse uma miragem ou coisa do tipo.

"Você se acostuma." O gato disse de volta, fitando-o com claro tédio; Frank tremeu os lábios, desacreditado. "Ele quer te ver."

"Quem?"

"O dono da casa, é claro."

Frank se retraiu por inteiro e encolheu os ombros.

Plantou seus pés ali, amedrontado, mas.... curioso. O gato começou a andar, e mesmo receoso – com a mente rugindo para ficar onde estava – o seguiu em um silêncio perplexo e confuso, o bichano não diria mais do que já havia dito.

Andaram por um corredor repleto de artes esquisitas, uma sucessão de coisas que ele não entendia, e vasos de flores orientais. Não demorou muito para eles entrarem numa sala muito bonita, com uma lareira francesa que mais parecia um relógio, sofás caros, do tipo que só existiam em filmes sobre pessoas ricas, e uma vitrola velha no meio de tudo, literalmente no meio de tudo, como se fosse o ornamento mais precioso do lugar. "O que pensa que está fazendo?" Disse outra voz; Frank se virou, completamente transtornado ao encontrar uma figura alta, de cabelos pretos e olhos verdes, parado como uma pedra de mármore, encarando-o com profundidade e afinco. Era ele, o homem da floresta, com toda certeza. Jamais se esqueceria daquelas linhas perfeitas demais para pertencerem a qualquer ser humano... daquele sangue protuberante em suas mãos e daqueles olhos... era impossível apagar aquele rosto de sua cabeça. A criatura de aspecto morto que rezou para nunca encontrar. "Robert?"

my sweet vampire † frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora