Contei metodicamente até dez para não socar o sorrisinho estúpido da cara da minha, nem tão amada assim, irmã. Descobri muito tempo atrás que minha raiva só aumentava a dedicação dela em me atormentar. Não que Vic se provasse menos inclinada a me provocar sem isso, mas eu é que não ousaria incentiva-la a se esforçar mais. Deus sabia que eu já tinha o suficiente em minhas mãos sem isso.
No momento ela estava me lembrando a "vadia insensível", palavras dela, que eu era por não dar mais uma chance ao Diogo. Nós quatro, meus irmãos Victoria e Ezra, que já eram inseparáveis desde que se conheceram no útero de mamãe, Diogo e eu, havíamos crescido juntos e inseparáveis em nosso perfeito bairro suburbano depois que mamãe e papai decidiram que a cidade grande nos transformaria em pequenos criminosos maconheiros antes dos 13 aninhos. Sempre brincando e aprontando, nós tínhamos sido completamente inseparáveis. Isso até os gêmeos, Vic e Ezra, se mudarem no primeiro ano de faculdade, abandonando o Diogo e eu na selva infernal que chamamos de colegial.
A partir daí nossa amizade evoluiu bem rápido, rápido demais eu diria, e logo nos tornamos o casal ideal. Amigos desde a infância, nossas famílias meio que esperavam um pedido de casamento assim que saíssemos da escola, um casamento para a família toda quando terminássemos a faculdade, netos alguns anos depois e então a vida perfeita numa casinha do subúrbio estaria completa.
Exceto que eu nunca fui muito ligada nos termos "ideal", "perfeito" ou até mesmo "normal". Sempre preferi acreditar que nós criamos nosso ideal, assim como nossa normalidade e perfeição. E isso tudo para mim seria ser deixada em paz para poder criar meu próprio caminho.
"Vamos lá, vai ser bom e a gente vai se divertir tanto que nem vai se lembrar porque vocês terminaram." insistiu Victoria pela milésima vez desde que cheguei em casa para o feriado.
"Achei que havíamos terminado pela minha incapacidade real de manter as minhas pernas fechadas mesmo tendo um cara tão maravilhosamente perfeito ao meu lado." – Lati em resposta.
"Você sabe que eu nunca quis dizer isso, Val. Só estava tentando te proteger de si mesma."
"Uau! Me proteger de mim mesma! Eu devo ser realmente horrível para precisar de proteção contra a pessoa que mais amo."
Minha irmã me deu aquele olhar ridículo de irmã mais velha que dizia "não seja estupida, você sabe do que estou falando" e que nela mais parecia o começo de uma indigestão. Eu sabia quais seriam suas próximas palavras antes mesmo de ela começar:
"Vê se cresce, Val." e lá estava, o começo do discurso de sempre "Vocês podem até ter preferido não falar sobre o termino. Mas eu sou sua irmã! Te conheço desde que nasceu e sei muito bem o quão egoísta e orgulhosa tu poder ser quando quer." ela apontou um dedo em minha direção "E não, nem pense em contrariar. Você sabe que é verdade. Nós só queremos o seu bem, todos nós, e você sempre foge para fazer o que quer."
Respirei fundo, reunindo todo meu autocontrole para não começar a gritar ao mundo o quão errada ela estava e o quão pouco sabia. Porque era isso. Ela não fazia a menor ideia. Ninguém fazia. E, se dependesse de mim, continuaria assim.
Eu podia aguentar alguns sermões. Podia aguentar palavras duras e os olhares de decepção.
É com a pena que eu não poderia lidar. A minha vida toda eu lutei para mostrar o quão forte e independente eu poderia ser. E não deixaria um cara arruinar tudo. Mesmo que esse cara tenha sido aquele a me ensinar a amar.
Não. Eu controlo a minha vida. Eu.
"Vic, eu te amo. Sério. Mais do que deveria. Mas, por favor, esquece isso." eu disse já cansada "Diogo e eu não vamos voltar. E sinto muito, mas as coisas não podem ser como eram antes mesmo que você deseje muito isso."
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Era uma vez... (uma história sem rumo)
RandomCamila França e Leticia Colarino resolveram escrever algo juntas. Mas as lindas não se decidiam sobre o que escrever, então surgiu Era uma vez! A brincadeira vai funcionar assim: Um capitulo por semana. Leticia começa -> passa a bola para a Camil...