CAPÍTULO UM

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Eram seis da manhã de uma segunda-feira quente e convidativa. O sol forte batia nas janelas do apartamento que fora alugado a mais de um mês por mim, a pedido de meus pais. Ele não era apenas um apartamento. Era grande, e repleto de coisas que o faziam tornar-se mais aconchegante assim como uma casa de verdade. Eu sinto saudades de acordar e ouvir mamãe batendo na porta e pedindo educadamente para que descesse e me alimentasse. Ela cuidava de mim com muita atenção e carinho. Estou na Coréia do Sul há um mês e ainda sinto tanto a sua falta.

Mas, eu estou aqui com um grande propósito. Uma ideia que sempre tive desde muito pequena. Ser uma artista famosa, uma verdadeira cantora e performer. Sempre gostei de ser o centro das atenções, mesmo que as vezes não soubesse lidar muito bem com isso. Você é exibida Jennie. Mas não deixe que isso suba a sua cabeça. Papai dizia. Eu sempre fui interessante e as pessoas sempre disseram que tinha algo a mais em mim. E eu acredito. Mas meu pai, de certa forma, prefere não acreditar.

Eu o amo. E sei que ele também me ama. Mas a verdade é que ele não concorda com o meu sonho de fazer parte de uma grande girlgroup. Ele crê que isso não deveria ser vida para ninguém. Que é repleta de exigências desnecessárias que irão fazer com que a minha vida perca o sentido aos poucos. 

"Essas meninas sofrem Jennie. Elas apenas fingem que estão felizes. Você ficará assim também."

Ele dizia todas as vezes em que mamãe entrava no assunto de me mudar para a Coréia. De certa forma eu sei que ele está certo. E eu não me importo. Farei o que for preciso para conseguir o que desejo. E ninguém irá mudar o meu pensamento. Nem mesmo meu pai, ou a minha mãe. Ninguém.

Os cabelos impecáveis como sempre foram. Enrolados com um babyliss e separados ao meio. Eu sabia como me portar. Sabia como impressionar. Coloquei a melhor roupa que tinha em meu guarda-roupa e me olhei no espelho esperando encontrar algum defeito em minha aparência.

Eu queria encontrar um defeito. Para poder me gabar aos outros do mínimo defeito que tinha. Mas eu não faria isso desta vez. Não conhecia ninguém daquele lugar. Vou para um colégio novo. E farei o meu primeiro teste em uma das agências mais famosas de toda a Coréia do Sul. Não conhecia ninguém para que pudesse falar sobre todas as minhas baboseiras rotineiras. E não tinha amigas. Não tinha mesmo. As pessoas do meu outro colégio apenas fingiam gostar de mim, elas gostavam mesmo era do meu dinheiro. E eu sabia disso. 

A agência é repleta de vidros e com pessoas caminhando para lá e para cá a todo momento. Vejo um homem me observar por alguns segundos. Alto, de aparência rude porém já desgastado. Sorrio para o mesmo que sorri confuso, mas retribui. Ele sai do local sem dizer uma palavra, me sento ao lado de uma menina de cabelos escuros e longos, a mesma parece tensa e ansiosa por alguma coisa que está por vir.

 — Oi.  —  pigarreio.  — Você também vai fazer o teste?

 — Vou sim. Estou com muito medo. E você? — a menina de sorriso contagiante esfrega as mãos com ansiedade.

Ela é simpática e fofa. Não costumo lidar muito bem com esse tipo de pessoa.

 — Bom saber, também irei fazer o teste. E não, eu não estou com medo.

Uma mulher vestida de azul dos pés a cabeça abre a porta da sala de teste e chama pelo meu nome. Um calafrio percorre por todo o meu corpo, e vejo o quão mentirosa eu sou. Estou com medo e ansiosa. Levanto e ando lentamente até a mulher que segura a maçaneta com um sorriso generoso em seu rosto. Olho pela última vez para a garota que agora está conversando com uma mulher ao seu lado que aparenta ser sua mãe.

Queria ter a minha mãe aqui. Me dando forças.

A sala é pequena. Uma bancada ao fundo com duas mulheres e dois homens. Todos carrancudos. Não olharam para o meu rosto assim que entrei. Apenas confirmaram meu nome e começaram a fazer anotações. Estou parada esperando qualquer tipo de indicação para o que fazer. Olhem para mim seus malditos. Penso.

 — Hum... Então, Jennie Kim — o homem começa a ler um papel com meu nome nele, enquanto os outros fazem algumas anotações em suas pastas — O que você tem para mostrar para nós? —  O mais velho pergunta. Penso um pouco antes de dizer.

 — Gostaria de cantar.

 — E está esperando o que para começar? — A loura de rosto inchado diz revirando os olhos.

 — Nós não temos todo o tempo do mundo, docinho. — O rapaz de boné diz e sorri. 

Aceno com a cabeça. Respiro fundo e vejo os olhares apáticos dos mentores para mim. Isso faz com que eu sinta mais ansiedade e medo de errar. Você não vai errar. O instrumental da música toca. Loser do BIGBANG. É preciso muita coragem para cantar uma música de um dos grupos mais famoso da empresa. E eu tenho.

Quando canto não consigo saber se é real o que estou dizendo. As palavras só saem como um atropelo. Não consigo pensar em mais nada. E isso me torna emotiva. Estar neste lugar sempre foi um sonho. Eu diria até, uma obsessão. Agora me sinto realizada e paralisada. Estou recebendo a atenção que gostaria. Evito os tiques que mamãe dizia que eu tinha, tento imaginar que estou em um show. Cantando para pessoas que me amam. Me idolatram. A ansiedade e o medo somem por um tempo. Até que perto do último verso o homem velho anota algo em seu papel.

E fim.
Está feito Jennie.
Acabou.
Você conseguiu.

Eles não aplaudem. Não dizem nada. Fazendo com que o meu frio na barriga aumente novamente. Agora todos anotam em seus papéis, ignorando a minha existência assim como quando entrei na sala.

 — Jennie Kim, obrigada pela sua apresentação. Nós da YG Entertainment iremos enviar uma carta para a sua residência com o resultado dessa audição.

A loura diz sem demonstrar muita animação, enquanto o rapaz ao seu lado parece agitado. Agradeço a oportunidade e saio da sala sem saber em o que pensar. A próxima menina é chamada. E gostaria de ter ido até a sala com a mesma empolgação que ela. Talvez isso tivesse mudado a reação de todos os jurados.

Não recebi muito sorrisos. Apenas anotações foram feitas. Eu espero que em uma dessas anotações esteja escrito que fui aceita.

OBSESSIONSOnde histórias criam vida. Descubra agora