CAPÍTULO I
1990
Era a terceira noite dos Selvagens naquela casa de shows. O lugar estava com lotação máxima. Não eram muitas bandas que conseguiam aquela proeza.
A banda saiu do palco por volta das 02h45min, voltaram para o bis por mais quinze minutos, fechando a noite perto das três.
Felizmente havia acabado.
Állan estava exaurido. Final de show era sempre assim, ele dava tudo de si no palco e quando saía dele, mal podia caminhar.
Antes de descer as escadas que o levariam para um corredor e depois para o camarim, olhou para os rapazes, que também abandonavam seus instrumentos, sorriu e fez um sinal positivo e agradecido; mais uma vez dera certo e os principais responsáveis eram aqueles caras; e Deus, que era o cara principal. Sentia-se bem por tê-los como amigos e companheiros de trabalho, sentia-se satisfeito pelo dever cumprido, felizmente tudo estava bem. Foi caminhando a passos lentos e vacilantes até o camarim, parecia um longo caminho, fruto de cansaço e muita vodka, pensou ele.
O camarim era amplo. Dois cômodos quadrados. No primeiro havia dois sofás azuis, um frigobar, com bastante gelo e coca-cola. Um espelho, não muito grande, uma exigência do próprio Állan, uma mesa redonda enfeitada com pétalas de rosas vermelhas sobre um guardanapo de pano branco. Na mesa estavam também copos, chocolates; as frutas preferidas do astro e uma garrafa de vodka. As paredes tinham um tom palha, que contribuíam para a harmonia do ambiente. No outro cômodo uma cama com lençóis vermelhos e rosas brancas no criado-mudo. A mobília era completada com uma banheira redonda e um roupão branco, com as iniciais da casa bordadas no lado direito, pendurado no cabide.
Dentro do camarim, Állan fez um drink, apagou as luzes e afundou no sofá. É felizmente tinham conseguido de novo. Havia sido bom, as pessoas gostaram, ele pôde sentir isso. Quando o show era grande e o público também rolava uma tensão, por mais que já estivesse acostumado, dava um friozinho na barriga e suor frio nas mãos. O que às vezes contribuía para o sucesso do show, ou não. Para Állan sentir-se tenso, significava não estar pronto. Preocupar-se era ter consciência de que ainda havia um longo caminho a ser percorrido, significava que ainda não se considerava realmente bom. Quem se preocupa, prepara-se, pensa em fazer o melhor – perfeição era o objetivo daquela banda. Era visando ao perfeito que subiam no palco.
O público podia não gostar do show, podia não gostar do que fariam, era um risco constante; Állan Cítrio sorriu para a semi-escuridão, sua companheira. Adorava correr riscos, adorava ter um desafio e vencê-lo, como hoje. Venceram da melhor forma possível.
Nem sempre venciam às vezes o público tinha uma energia negativa, e era como se cobrassem algo dele. Isso era ruim, era ruim dever; ter de pagar. Odiava ser cobrado, sabia qual era o seu papel, sabia para o que havia sido pago, não era necessário que ninguém o dissesse.
Tentou dissipar este pensamento, queria ir para casa, para cama. Ver rostos amigos, ver... Patrícia; não, vê-la não, quem sabe tocá-la.
Errara com ela, numa análise rápida, o sexo era bom.
Três batidas na porta o trouxeram de volta para o mundo real.
- Entra.
- Posso acender a luz?-Não estou conseguindo ver você.
- NÃO! Estou com uma puta dor de cabeça. Pode falar Dominique.
- Eu só queria repassar a agenda.
- Um hum.- Sussurrou Állan, enquanto sorvia do drink.
- Pela manhã teremos entrevista com a Mtv eles estão pleiteando há algum tempo...Eles vão filmar, escolheram um lugar legal, e tal, não vai ser a banda toda não, só você...Seria legal se você conseguisse dormir bem, para ficar com uma cara boa... À tarde teremos reunião com a banda e o pessoal da gravadora, estão nos pressionando para terem conhecimento antecipado do material que irá compor o novo álbum, estão meio preocupados...
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Um Astro.
RomanceUm Astro é a história de amor vivida entre um ídolo do rock e uma adolescente 13 anos mais nova, criada por ele como filha. Állan, um homem assombrado por problemas que surgiram na infância, como a morte de seu pai e o nov casamento da mãe, é uma pe...