Um Príncipe do Natal

Capítulo 2

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Boa leitura! 

A cozinha estava tranquila aquela hora, todos já tinham se recolhido para dormir e os demais que quiseram permanecer, logo pediram licença quando o príncipe adentrou. Só Luka não se abalou quando o amigo sentou em uma cadeira a sua frente e começou a contar sobre a visita da princesa e o casamento arranjado.

– Incrível. – Luka riu enquanto preparava a massa para uma torta, era um dos ajudantes da cozinha do palácio, Adrien finalmente estava tendo paz naquele dia, mesmo que já fosse a noite, teve uma manhã e boa parte da tarde recheada de finitos compromissos.

– Incrível? Eu 'tô ferrado. – Adrien debruçou na mesa tentando roubar um pedaço da massa, e levando um tapa do amigo. – Ei, sou seu príncipe.

– Adrien não 'tá usando o discurso "sou seu príncipe" para conseguir comida, né? – Nino entrou na cozinha e pegando uma maçã disposta na fruteira em uma das bancadas.

– Sempre. – Luka revirou os olhos, depois de cumprimentar Nino com um toque de cotovelo, já que estava com as mãos na massa, literalmente.

– Caramba, eu venho aqui desabafar...

– Fugir. – Nino e Luka falaram ao mesmo tempo.

Adrien deixou os braços e rosto caírem na mesa, de uma maneira bastante desleixada e despreocupada.

– Grandes amigos, eu 'tô ferrado mesmo.

– Qual foi ô da coroa? A joia 'tá pesada? – Nino deu uma cutucada de brincadeira no ombro do amigo.

 Quando eram só os três, naqueles encontros quase diários a noite, geralmente na cozinha, não existia o príncipe, o ajudante de cozinha ou o guarda, eram apenas três rapazes jovens, amigos e sonhadores.

– Ele precisa dar uns pegas numa princesa, que mal né? – Luka provocou.

– Dar uns pegas? Ah, se fosse só isso ok, não é um problema. – Adrien deu uma piscadinha maliciosa. – Meu pai quer que eu, palavras dele, faça a corte e a peça em casamento na festa de natal.

Nino arregalou os olhos e depois gargalhou, bateu a mão na mesa o que fez farinha voar em cima dos três e ainda assim não parava de rir.

– Não pode ser. Você foge por umas semanas, dá uns perdidos no seu pai, o Félix quase não dá conta de segurar as pontas por aqui e quando você volta, 'tá com a aliança praticamente no dedo.

– Resumão? Se fodeu. – Luka também ria, o linguajar era extremamente inapropriado e seria censurado se fosse ouvido por qualquer outra pessoa, mas ele não se importava, Adrien era um amigo antes de qualquer coisa e eles tinham liberdade para isso.

– Vocês não me levam a sério, porra! Eu tenho 21 anos, quem casa aos 21 anos? Ainda por cima é aquela princesa Kagami.

– A princesa do gelo? – Nino fez uma careta.

– Coitada, cara. – Luka balançou a cabeça em negação.

– Não, ele tem razão! Eu nunca a vi sorrindo? – Adrien sabia que era uma pergunta retórica. – Só aquele sorriso fechado, forçado como se tivesse uma faca pressionando suas costas, nunca deu um sorriso de mostrar os dentes, ela é tão sei lá...

Nino apenas assentiu e Luka suspirou.

– Adrien, sério que você vai casar? – Luka agora despejava a massa em uma forma e preparava os ingredientes para o recheio. – Logo você? Duvido que não arranje um jeito de fugir dessa.

– Eu 'tô tentando pensar em alguma coisa, se eu for um escroto e ela não quiser? Mas, sei lá, isso não combina comigo, eu me sentiria mal em ser um babaca.

– Um príncipe encantado mesmo. – Nino se debruçou nos ombros do loiro e piscou os olhos para irritar o amigo que lhe empurrou para o lado. – Talvez ela também não queira isso.

– Nino pode ter razão. Talvez ela esteja com o mesmo pensamento, se ambos não quiserem, como isso vai pra frente? É melhor buscar uma aliança. Ops, uma aliança diferente. – Luka riu pelo trocadilho infeliz, terminado de colocar o recheio e cobrir a torta para levá-la ao forno.

– Não custa tentar... Queria que o Félix fosse meu irmão mais velho de verdade e não um primo, ele combina com isso, com essa responsabilidade, em ser rei. Eu não quero isso, eu só queria ser um cara normal.

– Disso eu não sei como você poderia fugir. Quando ela chega? – Luka perguntou.

– Ainda essa semana, acho que depois de amanhã? – Adrien deu de ombros. – Vou precisar da ajudar de vocês.

– Conta com a gente. – Nino puxou Luka para o lado deles e passou os braços pelos ombros dos dois amigos. Os três mosqueteiros.

– Quem sabe você não acaba se apaixonando no final dessa história? – Luka sugeriu com um sorriso malicioso nos lábios, o que logo virou em altas risadas dos três.

– Até parece. 

🏰

Os dois dias passaram rapidamente, o quarto da princesa, que tinha uma porta ligando ao quarto em que Marinette ficaria, foi arrumado e preparado para suprir todas as suas  necessidades. Todos os funcionários estavam correndo para ajustar e dar os últimos retoques, o castelo foi enfeitado com suas flores preferidas, o cardápio de acordo com o paladar da princesa. As cores das cortinas e almofadas vagavam em tons de vermelho, branco e verde, para mostrar um clima natalino, mas também uma união entre as duas nações.

Adrien olhava aquilo tudo com um cansaço, era desnecessário e inadequado, ele só esperava que a princesa Kagami tivesse mudado ao longos daqueles anos que eles não se encontravam porque se ela concordasse com aquele casamento, ele seria engolido pelo pai e pela responsabilidade de ser quem ele não era e não queria ser. Seria muito mais difícil, porém não desistiria, faria de tudo para mostrar que independente das razões que faziam o pai dele e a mãe dela acreditarem que uma união entre eles era algo bom, nada forçado daria certo, ele não queria prender a sua vida a ela e não queria o mesmo destino para a garota.

Naquela manhã todos estavam em formação, o motorista do príncipe, qual ele chamava carinhosamente de Gorila, já havia saído para buscar a princesa com mais dois carros de segurança atrás. Adrien estava parado à direita do pai, arrumando, o cabelo penteado, as costas firme, as mãos para trás, tenso. Félix estava a esquerda do rei, mais atrás, com a mesma postura, porém muito mais natural e tranquilo. Rei Gabriel esperava com a bela coroa na cabeça, os olhos contornando todos os funcionários para ver se todos estavam mais que apresentáveis para aquela recepção, mas claro que estariam, Nathalie nunca deixaria uma única coisa fora do lugar.

Não demorou para o carro parar em frente a grande escada de pedra que levava a entrada do castelo, Gorila desceu do carro, o contornou e abriu a porta oferecendo a mão que foi coberta por outra em uma luva vermelha como sangue, saindo do carro a princesa Kagami, com a expressão serena, porém determinada, vestia um sobretudo pesado, branco com detalhes em vermelho, o cabelo estava preso em um coque baixo, assim que levantou os olhos contemplou o rei e o príncipe a sua espera, descendo as escadas.

Marinette desceu pelo outro lado do carro sem ninguém para abrir a porta para ela, claro que não, deixou sair um suspiro baixo, aquele lugar era ainda mais lindo do que o palácio o qual ela estava "acostumada", ao virar, viu o rei e o príncipe já perto de Kagami, e não pode conter de novo mais um suspiro, mas dessa vez pela figura masculina, alta, forte, loira e com os olhos verdes mais lindos que ela já tinha visto em alguém, antes que pudesse ter mais alguma reação, o rei se aproximou da princesa.

– Seja bem-vinda, princesa Kagami.