Tem dias que você acorda e acha que aquele não é seu dia e deseja voltar a dormir esperando o seguinte. Bem, eu havia acordado com essa premonição, até o brilho do sol era suspeito. Dito e feito. Logo antes de sair uma discussão com meu namorado Pablo quando eu saia do banho, algo totalmente idiota (e bem no estilo ‘pabliano’ de ser) sobre eu me mexer demais na cama e não deixa-lo dormir seu sono restaurador. Pablo é modelo a.k.a. extremamente vaidoso e egoísta. Não duvido que ele me amasse, mas Pablo nunca iria amar ninguém a não ser Pablo, eu pelo contrário era capaz de colocar o bem dos outros antes do meu, logo, uma terrível combinação. Enfim, a briga ocorreu eu sai de casa sem tomar café, não que eu revidasse, apenas escutava a reclamação do dia e saia para o trabalho.
Meu emprego como agente publicitário em uma grande empresa de marketing me provia o suficiente para viver e ter algumas (não muitas) regalias, até mesmo por que sempre fui muito bom em fazer malabarismos com o salário. Mas agora o nível de dificuldade havia triplicado, tudo porque Joana, minha antiga chefe e mestra havia finalmente se aposentado, diante da minha recusa de assumir seu posto (algum dia eu aceitaria, mas ainda não me sentia preparado a tomar o posto de alguém que eu admirava tanto e comandar pessoas que eu via como iguais, aos 21 anos eu me permitia tal infantilidade) então a empresa cambiou um supervisor de outra filial para nós. Don era puros sorrisos e todos de cara gostaram dele, nem tinha como ser o contrário, sorriso cheio de dentes brancos, bonitos, moreno claro e cabelos negros sedosos com porte imponente e 1,84 de altura o destacavam em meio a equipe de jovens que compunham nossa filial, Don parecia aquele jovem pai lindo de anúncio de parque aquático levando sua família para um feliz fim de semana. Aquela seria a sua segunda semana, e infelizmente ele não gostava de mim talvez por saber que eu era a maior ameaça ao cargo que agora ele ocupava e qualquer problema que eu tivesse eu não iria até ele, poderia facilmente ir até Illana, a diretora geral da empresa que havia sido me apresentada por Joana, a mulher me amou a primeira vista e foi reciproco. Mas é claro que eu não sabotaria a cadeia de comando dessa maneira tão sórdida, mas aparentemente Don não sabia disso ou não se convencia. Eu por minha vez apenas ficava no meu canto, fazendo meu trabalho, com certeza Don me conheceria melhor e mudaria sua opinião ao meu respeito, desde que eu não batesse de frente com Don nesse momento tão delicado para ele.
Seguindo minha macabra visão Don me atormentou o dia inteiro, tive que rever anúncios e trabalhar em áreas que não eram minha especialidade, e a partir desse dia eu ganhei minha entrada no céu pele meu espirito pacifico. Durante um coffe break escutei duas funcionárias comentarem sobre o casamento de Don, aparentemente a esposa dele não andava muito satisfeita e o divorcio não demoraria, bem, não podia culpa-la, seu fosse casado com aquele infeliz também estaria louco por uma oportunidade para cair fora.
As dezessete horas eu olhei para o céu nublado e pela primeira vez naquele dia tive um pouco de paz, sempre me acalmava olhar para um céu nublado, o movimento das nuvens cinzas e as dezenas de tonalidades que o cinza pode assumir, somente assim você tem noção do quão realmente grande é o céu acima de nós, ainda não chovia, mas um vento frio soprava, minha casa ficava a apenas alguns quarteirões dali, logo eu poderia aproveitar a caminhada, geralmente eu saia mais tarde, mas Don havia evaporado e todo o trabalho havia sido concluído, todos foram embora e eu não ficaria assombrando o edifício, então decidi sair mais cedo também.
Aqui entra a parte clichê da historia: o dia começa mal, você sai do trabalho mais cedo esperando encontrar um pouco de paz em casa e adivinha o que você encontra?
Meus ganhos me permitiram financiar uma casa, confortável até, perto do meu trabalho. Eu não pude colocar cercas brancas como era meu sonho, mas a vizinhança era boa, uma rua totalmente residencial e calma, minha casa tinha duas arvores jovens, uma de cada lado na frente do portão, e um pequeno jardim antes da porta de entrada, como eu não tinha carro, nem planos para ter um fiz certo paisagismo amador e meu pequeno jardim tinha um caminho de pedras que levava à porta de entrada. Logo de cara me chamou a atenção um carro parado na frente da casa, mas apenas registrei isso como uma visita de algum dos vizinhos. Assim que entrei notei a camisa e os tênis de Pablo espalhados na sala, junto com uma gravata. Não que Pablo não tivesse uma gravata, mas ela estava a tanto tempo guardada que eu não me lembrava da cor. Os barulhos vindos do nosso quarto no fim do corredor me chamaram a atenção, claro que a porta não estava fechada, ninguém esperava visitas e era bem típico de Pablo ser autoconfiante o suficiente para imaginar que nunca seria pego no ato.
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Evan e o Rei
WerewolfTem dias que você acorda e acha que aquele não é seu dia e deseja voltar a dormir esperando o seguinte. Bem, eu havia acordado com essa premonição, até o brilho do sol era suspeito. Dito e feito. Já imaginou que ser traído e achar um animal ferido...