HarveyOs corredores pareciam mais cheios do que de costume, o que me fez entortar o nariz por um breve momento antes de passear meus olhos pelos milhares de rostos que passavam por mim a cada segundo, chegando em dois em especial que abriram um sorriso largo no meu rosto enquanto minhas pernas se apressavam em alcançá-los, passando ambos meus braços pelo pescoço de cada um, Theo e Desirée, que com seu típico sotaque francês lançou-me um xingamento do qual eu já estava acostumado a ouvir, já que quando a mesma ficava nervosa ou assustada, imediatamente sua francesa interna desembestava a falar.
— Você é bilíngue e comprovamos isso todos os dias, não precisa nos ofender com suas habilidades. - Coloquei a mão que antes estava em seu pescoço em meu peito para fingir que aquilo realmente me feria de forma exagerada e dramática, mesmo que com um sorriso no canto dos lábios.
— Eu te odeio. - Desirée voltou ao típico inglês usado por nós, olhando-me de modo fulminante enquanto apressava seu passo para chegar a sala de química avançada, balancei meu braço para a garota de costas como quem diz "te vejo depois" sabendo que a mesma não teria visto e mesmo se tivesse, não responderia.
Volto meu olhar pra Theo com curiosidade, esse não era o amigo que eu estava acostumado que me acompanhasse nas brincadeiras para perturbar Desirée logo de manhã, o mesmo parecia avoado, algo definitivamente estava perturbando sua mente.
— Anda, desembucha. - Parei a sua frente colocando minhas mãos em seus ombros para que parasse também, com uma expressão séria beirando a preocupação. — O que aconteceu?
Theo crispou os lábios, os transformando em uma fina linha antes de sua feição me contar exatamente o que estava acontecendo sem que o mesmo dissesse uma palavra.— Quando ela voltou? - Murmurei voltando a ficar ao seu lado enquanto atentava meus ouvidos ao que ouviria a seguir, sabia que para Theo tal assunto não era fácil e por isso já estava me colocando em prontidão caso este precisasse ir para um lugar mais reservado para falar sobre, o mesmo que somente balançou a cabeça em negativa indicando que não precisaria de tal atitude.
— Meu pai a trouxe de madrugada.. - Theo massageou a nuca como se estivesse tenso sobre o que viria a seguir. — Não sei como minha mãe deixou ela ir com ele, May parecia chateada, ela não consegue fingir, principalmente pra mim.
— Foi uma escolha da May estudar no colégio interno depois da separação dos seus pais, e você sabe que quando alguém coloca alguma coisa na cabeça dela ninguém consegue tirar. - Relembrei o fato juntamente a sua frase mais dita sobre sua irmã ao meu melhor amigo, para que ele não se culpasse pelo o que aconteceu com a mais nova, apesar de eu saber que mesmo que eu diga que a culpa nunca seria dele, ele não acreditaria em mim.
Nunca conhecera May Kuster, apesar de já ter ouvido falar da mesma, que foram poucas as vezes, já que a distância entre Theo e a irmã o machucava, distância essa tanto física quanto psicológica já que a May se fechou em sua própria mente desde que seus pais se separaram brusca e escandalosamente. Theo me dizia poucas coisas sobre sua família fora o que eu já ouvira falar entre os corredores da escola, me poupava de perguntá-lo, se essa era uma época infeliz de sua vida, com que direito eu cutucaria a ferida?
Theo balançou a cabeça e apressou seu passo para que desse tempo para que ambos pudéssemos entrar em sala de aula antes do sinal tocar, o que aconteceu segundos depois que eu e meu amigo nos sentamos em nossos respectivos lugares. O professor colocava a mão na maçaneta fazendo apenas a menção de fechar a porta pegando fôlego para começar a dar sua aula de História, mas antes que o mesmo pudesse se dar conta, uma cabeleira loira entra apressada pela sala com um sorriso travesso nos lábios consideravelmente rosados, os passos da garota param por alguns segundos antes de andar calmamente até sua cadeira logo a minha frente, ouço sua risada tentando, sem sucesso, ser cessada e meus olhos brilham de maneira divertida.
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Not In The Same Way
RandomHarvey sempre imaginou que sua vida fosse fácil de lidar, não pacata, apenas fácil, no sentido mais puro da palavra, talvez o mesmo deva aprender que nem tudo é de mão beijada.