Capítulo três - parte um

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- Eles querem você aqui o mais rápido possível? Isso é ótimo, Leticia! - ouvi Jonathan falar pelo celular enquanto eu abria a porta da minha casa.

- Eu não sei, professor. - coloquei minha bolsa em cima do sofá. - Tudo aconteceu tão rápido que eu não tive nem tempo de pensar. - disse tirando a minha sapatilha e deixando ao lado da porta.

- É óbvio que você não teve tempo nem de pensar! Eu não deixei. - franzi o cenho demonstrando confusão. - Leticia, você acha que eu não lembro de você? Sempre era a última a sair da sala em dia de prova e sempre que ia entregar um trabalho pedia pra remarcar porque achava que não estava bom o suficiente. Eu sabia que se demorasse muito você iria desistir.

- Você não cansa de me surpreender, professor. - abri a geladeira e tirei uma garrafinha d'água e me encaminhei para o armário para pegar um remédio de dor de cabeça. - Eles querem que eu comece semana que vem.

- Isso é ótimo! O que você vai fazer? Me fala que você vai aceitar.

- Eu já aceitei! É uma oportunidade ótima. - soltei um suspiro - Eu só tenho que resolver algumas coisas aqui. Eles vão me mandar a passagem e a estadia em algum hotel até eu arrumar um apartamento por aí. - bebi um gole d'água e me sentei na cadeira da mesa de jantar que ficava na cozinha.

- Eu posso te ajudar com isso. - ele disse em um tom ameno - Não me importo.

- Não precisa! Você já me ajudou muito, professor.

- Você que sabe. Eu tenho que ir agora! Te vejo em breve!

- Tchau, Jonathan! - Desliguei e coloquei o celular sobre a mesa.

Além de ser meu professor, Jonathan era também o coordenador dos alunos intercambistas da faculdade e por isso eu me encontrava sempre conversando com ele. O homem estava constantemente me explicando onde ficavam as salas, porque eu estava sempre esquecendo, e tirava todas as minhas dúvidas.

Um dia eu esqueci meu caderno de ideias na sala de aula e ele o achou. No outro dia ele se aproximou de mim e admitiu que havia lido e pediu desculpas, mas que achava algumas ideias ali muito boas e me lançou um desafio: Em alguns dias da semana ele me dava uma frase que sempre começava com "E se..." e eu tinha que montar um pequeno roteiro baseado nessa frase. Era a minha parte favorita da semana e às vezes acabavam com a ideia mais idiota do mundo, mas as vezes nós nos juntamos e virava um roteiro muito bom que ele sempre guardava.

Com o tempo eu fiquei mais confiante e Jonathan sempre me chamava para ajudar outros alunos que estavam com bloqueio criativo ou que precisavam desenvolver uma ideia, mas não sabiam como.

- Posso saber com quem você tanto fala em inglês? - a voz de meu pai me assustou e eu dei um pulinho.

- Jesus Cristo, pai! Você me assustou! O que você está fazendo aqui uma hora dessa? - me virei em sua direção e o homem apoiou um ombro na parede e cruzou os braços.

- Eu moro aqui, ué! E eu te conheço e sei que você está mudando de assunto. - senti meus ombros ficarem tensos.

- Eu preciso conversar com você. - dei dois tapinhas na cadeira que estava ao meu lado e meu pai se sentou. - Eu recebi uma proposta de emprego. - o mais velho fez uma careta cansada.

- Eu sempre soube que esse dia chegaria. - fiz uma expressão de confusão. - No momento que você foi pra lá pela primeira vez eu soube que chegaria esse dia que você iria pra sempre.

- Você não vai brigar comigo? - encolhi os ombros.

- Adiantou na primeira vez? - neguei com a cabeça. - Então não vai adiantar agora. Você se lembra o que você me perguntou naquela época?

Fearless [Louis Tomlinson]Onde histórias criam vida. Descubra agora