A GUERREIRA INDOMÁVEL

Capítulo 18

Mérida-Primavera - Junho de 833 d.C.

Juan nunca se sentira tão feliz, padre Paulus explicara, quando voltaram para a casa onde estavam hospedados, que ficara decidido que esperariam um mensageiro ir até o reino dos francos para perguntar que tipo de ajuda o rei Luís enviaria em caso de uma rebelião, e qual seria o preço de tal apoio.

Enquanto isso, eles deveriam ficar hospedados em Mérida, aguardando a volta do mensageiro. O sacerdote enviara um dos mercenários de volta para avisar o Duque sobre o andamento das negociações.

Juan aproveitou a espera visitando Jamila todos os dias, o jovem acordava antes do alvorecer e após o desjejum se dirigia até o palácio de Abd al-Ŷabbãr. Chegava após a primeira oração muçulmana do dia e encontrava Jamila no pátio de exercícios, dentro dos muros do local.

Na companhia de outros jovens, treinavam a habilidade no uso da espada. As incontáveis horas que passou treinando desde a infância no pátio de treinamento do castelo de Dom Iglesias se mostraram valiosas, pois vencia todos os adversários, com exceção de Jamila.

Ela sempre deixava a luta com ele para o final do treinamento. Usavam espadas sem corte, mas os golpes poderiam ser dolorosos e ele aprendeu isso na própria pele, pois Jamila era uma espadachim incrivelmente habilidosa e impiedosa com falhas, aproveitando qualquer oportunidade para derrotar seu oponente.

Não que ele fosse inábil, simplesmente ela era melhor, compensava com sobra a aparente falta de força física com uma velocidade espantosa.

Após o treino passeavam pelos jardins, sempre acompanhados por alguma serva do palácio. Passavam horas conversando, ou então, embevecido, Juan ficava ouvindo-a ler em voz alta obras árabes que ela traduzia para ele, e em contrapartida ele tocava seu bandolim e cantava músicas alegres e baladas românticas, agradecendo mentalmente as horas gastas com um menestrel que estivera durante dois meses no castelo de seu pai, até que percebera como Dom Iglesias era sovina e resolvera procurar outros castelos onde fosse mais valorizado.

O jovem adorava fazê-la sorrir e corar, como quando cantava algumas baladas mais audaciosas.

Encantara-se completamente por ela, nunca conhecera uma mulher com tamanha inteligência, a jovem falava vários idiomas, ensinados pelo seu mentor Yusuf, um homem com quem Juan simpatizara. Ela conhecia as obras gregas clássicas, traduzidas para o árabe, bem como as poucas obras cristãs. Sabia de cor várias passagens do Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos e em debates filosóficos com outros jovens de famílias ricas que a visitavam sempre se sobressaía.

Além de inteligente, era uma guerreira ímpar e extremamente bela.

Na parte da tarde treinavam com o esquadrão de cavalaria que Jamila comandava e, ao final da tarde, quando o sol poente deixava a paisagem com um tom dourado, ambos cavalgavam juntos de volta a Mérida.

O jovem se tornou uma figura constante no palácio, almoçava na companhia do Sheik e sua família e somente voltava para sua residência após a ceia noturna. Fizera amizade com Ibrahim, que era tão inteligente quanto a irmã, com o qual discutia o pouco de filosofia que conhecia, ou então, na companhia de Jamila, ouviam-no declamar poemas de autores árabes e até mesmo alguns de sua autoria. Nessas ocasiões ele e a jovem se tocavam com os olhos e conversavam por meio de sorrisos.

Mahmud não era tão culto como os irmãos, mas tinha uma alma nobre e era ferrenhamente leal ao pai e ao clã, com ele, o jovem discutia estratégia e formas de combate, chegando algumas vezes a treinarem juntos.

Yusuf era tão inteligente e sagaz como padre Paulus, com o qual fizera uma amizade sincera, ambos, por meio de insinuações, tentavam adverti-lo de que não se envolvesse com a filha do Sheik, mas isso era impossível para ele, pois seu primeiro pensamento ao acordar era para ela, assim como seu último pensamento ao dormir.