Capítulo 29

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Mérida- Verão, Setembro de 833 d.C.

Após a vitória contra o ataque viking, a fama de Abd al-Ŷabbãr aumentou ainda mais, pequenos líderes tribais e de clãs vinham ao palácio em Mérida para prestarem ou renovarem juramentos de lealdade ou para proporem alianças.

Entre eles, o muladi Suleymán Ibn Martín, um importante líder tribal, chefe de um numeroso exército, apareceu com uma enorme comitiva na cidade, atendendo ao convite do Sheik.

Abd al-Ŷabbãr organizou um banquete para o muladi e convidou Juan e o padre Paulus, além do bispo Ariulfo, que afirmava ter notícias importantes do rei dos francos, para comparecerem.

Após a oração do fim da tarde Juan e o padre se deslocaram pelas ruas da cidade, os muros do palácio estavam iluminados por centenas de archotes.

O odor de carne e especiarias impregnava os pátios do enorme palácio onde homens de Suleymán e de Abd al-Ŷabbãr se confraternizavam.

Adentraram no mesmo salão onde semanas antes haviam sido recebidos pelo Sheik, como da última vez, lamparinas de óleo iluminavam o local, a mesa baixa, com inúmeras almofadas em volta, estava repleta de pratos talheres e copos. Músicos com seus instrumentos tocavam músicas alegres em um canto do aposento.

Dessa vez Juan, Paulus e Ariulfo ficaram sentados quase no final da mesa, o lugar à direita de Abd al-Ŷabbãr estava reservado para o Suleymán, o qual entrou em companhia do Sheik quando todos os convidados estavam sentados.

O jovem procurou Jamila com o olhar, mas não a encontrou, os irmãos Mahmud e Ibrahim estavam sentados perto do pai.

— Meus amigos, hoje estamos reunidos para receber e homenagear Suleymán Ibn Martín, um grande Sheik, famoso por sua coragem e habilidade guerreira – disse apresentando-o.

Juan o observou, era um homem alto e largo de tronco, uma barba negra cobria sua face e um nariz adunco lhe dava uma personalidade forte, os cabelos também eram negros, mas possuíam alguns fios prateados, indicando que ele já estava perto da meia idade.

Todos ergueram suas taças de metal e brindaram ao convidado com sucos ou água.

Servos entraram no salão e começaram a servir grandes travessas com carne, legumes, pães e outras iguarias, além de novas jarras com sucos e bebidas sem álcool.

O jantar transcorreu em meio a conversas sobre os impostos exorbitantes cobrados pelo Emir em todo o território de Al-Andalus, sob seu domínio férreo, sobre a tirania dos walí encarregados das grandes cidades, e a insatisfação geral entre moçárabes, cristãos, judeus e muladis que conviviam no emirado.

Juan ouviu sem se interessar, se perguntando, mais uma vez onde estaria Jamila, embora não fosse costume mulheres se sentarem com os homens na ceia, ela tinha essa prerrogativa cedida pelo próprio pai.

A viagem para combater os vikings fora uma experiência única, embora ele não tivesse a chance de se provar em batalha. Entretanto, pudera presenciar a habilidade guerreira de Jamila, e tentara decorar seus movimentos para usar como referência em um futuro duelo que teria que vencer para se mostrar digno de seu amor.

Durante as noites, quando acampavam sob a luz das estrelas, sentavam-se juntos perto da fogueira e conversavam por horas, sempre tendo ao lado o irmão dela, Ibrahim, um rapaz sensível com quem Juan simpatizara e travara uma sincera amizade.

Indiretamente, Ibrahim avisara que era perigoso ele ficar sozinho com a irmã. Mas o simples fato de tê-la ao seu lado, de ouvir sua voz musical, de sentir seu suave perfume de jasmim para ele era suficiente. Por duas ocasiões, sem querer, ou querendo inconscientemente, seus braços se encostaram, sentados juntos como estavam, e ele sentira uma energia que arrepiara os pelos de seu braço, subindo até a nuca e descendo pela coluna.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora