Capítulo 51

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Mérida – Primavera, Maio de 834 d.C.

Jamila foi despertada antes de o sol nascer por servas que entraram em seu quarto, que para ela era uma prisão.

Sua vida sofrera uma grande reviravolta desde o tempo em que cavalgava livre pelos campos.

Dois dias depois de sua prisão pelo próprio irmão, as servas, que se transformaram em suas carcereiras, a levaram até o salão de audiências.

Mahmud estava na companhia de Suleymán Ibn Martín, ela olhou em volta procurando Yusuf ou Ibrahim, mas não os encontrou, sentiu-se desanimada, somente podia contar com eles para ajudá-la e se perguntou o que ocorrera com Brunilde e as escudeiras, mas era orgulhosa demais para perguntar ao irmão.

— Minha irmã, é com alegria que informo que Suleymán a tomará como esposa – afirmara com um largo sorriso.

—Eu não aceito! – respondera irritada.

—Você é mulher, não tem que escolher, eu sei o que é melhor para você!

— Minha senhora, prometo fazê-la feliz, terás um palácio, joias, ouro e uma infinidade de escravas e servos para comandar – dissera o muladi.

— Ouro e pedrarias não fazem meu coração cantar, somente minha liberdade! Como aceitar sair de um cativeiro para outro?

— Não seja teimosa, casar-te-ás e está decidido! – irritara-se Mahmud.

— Será? Meu pretendente aceitaria uma mulher que perdeu sua virgindade? – perguntara com um esgar de desprezo encarando ambos.

Por um momento um silêncio denso caiu sobre o salão, o rosto de seu irmão começou a se congestionar, tornando-se vermelho.

— O que dizes? – gritara Mahmud avançando e desferiu um tapa com a mão aberta que a fez cair no solo.

Jamila erguera o rosto encarando-o, sentindo o gosto de sangue na boca.

— É o que ouviste, irmão, já não sou pura, deitei-me com um homem e quer saber? Não me arrependo!

— Mulher impura! Vergonha de nosso clã! – gritara sacando a cimitarras — Você irá morrer!

Jamila fechara os olhos esperando o golpe, preferia a morte à escravidão a que era submetida, ou passar do domínio do irmão para o de um homem que não amava.

Sua única tristeza era não poder se despedir de Juan, não ver mais seu olhar carinhoso, sentir o toque de seus lábios e mãos.

— Não faça algo de que se arrependerá Mahmud, meu amigo – dissera Suleymán agarrando-o pelo braço e afastando a lâmina.

Jamila abrira os olhos e encarara o irmão, mas não conseguira odiá-lo, sentira apenas tristeza.

— Levem-na! – ordenara para as servas que entraram no salão após ele chamar aos gritos que elas aparecessem.

Isso ocorrera dois meses antes.

No primeiro mês ela somente via as servas que cuidavam dela, passava horas observando o mundo da janela de sua prisão. Chorava enquanto observava a lua e as estrelas pensando que elas estariam também sendo vistas por Juan. Ele pensaria nela? Estaria sofrendo como ela? O coração dilacerado, a arma esmigalhada?

Mas também reforçara sua determinação em não aceitar os desmandos de seu irmão, fora criada como uma guerreira, seu pai dizia que ela possuía um espírito indomável e era verdade, se entregara ao homem que escolhera e que a vencera em um combate singular.

Preferia mil vezes ser expulsa do clã, ser enviada para um harém de algum sheik ou mesmo um bordel, destino comum para as mulheres que caíam em desgraça, mas de onde poderia fugir do que se conformar com um casamento sem amor.

A GUERREIRA INDOMÁVELOnde histórias criam vida. Descubra agora