Capítulo 6

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Onde está sua inveja, porque você não chora?
Isso só me diz que me teve por um passatempo.
Doja Cat —Ride

•••SUMMER•••


Passo os dias em Berlim afundada em trabalho. Organizo absolutamente tudo na gestão, faço uma reestruturação na filial e tenho a oportunidade de ouvir os meus funcionários. Tenho uma conversa franca com eles, sou vulnerável e sincera sobre a situação da filial, e sou ouvinte para os problemas e as sugestões de soluções que me colocam. Ao longo dos três dias de reuniões com o sindicato dos trabalhadores, meus advogados e a comissão de ética, que já tinha em registro todas as denúncias vindo por parte dos meus funcionários e alguns que já tinham se desvinculado a empresa, percebo quão fria Anya estava sendo.

Me desculpo por tudo. Era meu dever zelar por aquelas pessoas, dever esse que pus nas costas de Anya acreditando que ela zelaria pelas coisas que acredito. E não fez. Então a culpa sim é minha. Eu a tinha colocado numa posição tão alta. E são justas todas as cobranças por minha parte e eu me comprometo a suprir tudo. Peço o prazo de uma semana para pagar os salários em atraso. E foco também em retomar alguns contratos.

Consigo que Natasha venha e me ajude. De sexta a domingo somos duas mulheres trabalhando como condenadas em Berlim. Entrarmos as sete e meia só saímos quando saímos. Não há hora específica e isso me cansa. Tiro a segunda para descansar na minha propriedade e deixo tudo nas mãos de Natasha, como a nova gestora regional ela saberá ultrapassar o desafio.

Passo a manhã na cama e ao meio dia decido cuidar de mim. Estou um pouco inspirada então dou atenção as minhas madeixas naturais. Abro a mala que minha funcionária separa para viagens e retiro o que é necessário, — cremes e óleos — pretendo fazer cachos finos já que estou cansada dos grossos. Faço o ritual em exatos quarenta minutos, sendo paciente, muito paciente na verdade, pois fitagem leva tempo. Um tempo que eu poderia usar para ler ou realmente descansar.

Termino e seco o cabelo tirando o excesso de creme. Me olho no espelho e vejo o quanto valeu a pena perder quase uma hora, estou bonita. Faço uma maquilhagem leve, escolho um macacão de jeans confortável e circulo descalça pela casa rumo ao almoço. O mesmo me é servido na varanda de frente para a piscina e eu aproveito a refeição entre o sol escaldante e as vibrações fortes do meu celular. Eu ignoro o mesmo até terminar o meu prato.

Algumas chamadas perdidas são de Natasha e outras dos meus advogados. Vejo as mensagens e suspiro já exausta ao ter de ir as duas da tarde ao trabalho. Coloco uma sandália e peço ao motorista para me levar.

Ligo para Hilary durante o trajeto. Tenho de voltar a Toronto pois estou em vésperas da minha consulta e embora eu esteja registando um ligeiro atraso não quero me pôr a festejar nada. São só três dias. E pode ser que eu já tenha entrado na menopausa definitivamente. Tudo é uma possibilidade com a idade que tenho.

— Cansou de brincar de gestora regional e quer que eu compre sua passagem de volta? — Hilary diz assim que atende.

— Não, quero que me lembre para quando está marcada minha consulta e daí podemos ver.

— Este sábado. — Hilary diz e eu suspiro. Não está tudo terminado aqui, mas na mesma medida em que preciso terminar as coisas aqui estou ansiosa para saber se a inseminação deu certo ou não desta vez. — Summer, é a CEO da Sea, não pode ficar perdendo semanas nessas filiais. Temos trabalho grande aqui. E você precisa descansar, lembra?

— Hil, sabe como a Sea se tornou isso tudo? Comigo fazendo o que é necessário. Gosto das coisas bem feitas e se ninguém faz bem, eu mesma vou e faço. — Lhe digo abrindo a agenda. Nestes locais sou minha própria assistente e secretária. Vejo os compromissos que me faltam em Berlim e volto a chamada. — Compre uma passagem para quarta-feira, mas não marque nenhum trabalho presencial para quinta, ficarei em casa a descansar. Marque um mínimo de reuniões urgentes para a sexta-feira e só.

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