A arte não merecida

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~Cap revisado~


A noite estrelada moderadamente mudava de cenário com as nuvens acinzentadas cobrindo os pequenos pontos de luz, fazendo com que até a lua cheia desaparecesse no céu. Sob a tempestade se aproximando, o museu em Busan encontrava-se bem mais movimentado do que o costume para aquele horário. Exposições de diversos artistas nacionais e internacionais chamou a atenção de um público que vinha de toda parte do mundo, e a obra de um em específico estava diante dos olhos dos visitantes.

Cores borradas, respingadas na tela, as digitais, as marcas de mãos e linhas desconexas de unhas que arrastaram-se, revelavam a mais bela e catastrófica fúria. O sentimento que o quadro passava era claramente sentido até por um leigo na arte. Um quadro sem título de um autor com o pseudônimo de Esperança. Olhos eram curiosos para o diferente de alguém que sempre coloriu figuras em depressão, tristeza, solidão, pobreza e dentre outras que despertaram um interesse conjunto.

A figura da vez era o próprio pintor, e quem tivesse a imaginação fértil, poderia visualizar a sombra de um homem ou mulher em caos a desferir todo um ódio, provavelmente, guardado por anos.

A exposição logo teria seu fim. Pessoas de classe altíssima pegavam suas placas com numeração e sentavam-se nos assentos do salão, cheias de metas e foco no que desejavam levar para casa. O homem com seu inseparável terno preto e do chamativo mullet, arrastava os pés de um lado para o outro em frente a porta que dava acesso ao salão do leilão. NamJoon batucava, ansioso, o dedo na capa do celular rente ao queixo, o aparelho vibrava sem parar e o nome de Hoseok brilhava na tela como um sinal de alerta.

O que fez, talvez, fosse um furto não intencional, porém nada que fugisse do contrato que tinham entre assessor e pintor. Pegar o item e o mandar para a exposição de um museu em Busan — em que possuíam uma data marcada para expor um quadro inédito de Hope — era nada mais do que cumprir com sua obrigação e livrar seu chefe de um problema que não caberia no bolso.

Hoseok não havia feito mais quadros depois do último vendido, mentindo para NamJoon — que já possuía uma agenda pronta antes do tempo —. Ele e o próprio Hoseok confirmaram veementemente ao assinarem vários papéis na reunião sobre o evento que acontecia anualmente, que um trabalho do artista estaria em exposição e para leilão.

Jung Hoseok era um autor nacional, que vem se destacando pelo mundo afora. Seria inconcebível Hoseok não marcar presença para que o próprio país continuasse a evoluir economicamente e fosse reconhecido sem uma inspeção xenofóbica dos estrangeiros. NamJoon aborrecia-se por Hoseok não perceber o quão importante ele havia se tornado, o quão poderoso ficou depois de sua revelação com o quadro "Galáxia". Então, o que havia feito sem o consentimento de Hoseok, era apenas o seu trabalho.

Pela brecha da porta, NamJoon observou o salão cheio e itens posicionados para darem início a uma especial noite de leilão. O quadro de Hoseok estava como uns dos últimos a entrarem em oferta, deixando o assessor cada vez mais impaciente. NamJoon não conseguia calcular o tamanho da sorte que tem pelo simples fato de Hoseok não recordar-se de datas como essas, muitos menos locais, sempre sendo uma de suas funções alertá-lo. Embora, dessa vez, essa sorte não estava ao seu lado por completo, visto que Hoseok ligava-o sem dar descanso ao celular, e NamJoon tinha quase certeza de que o pintor estaria sendo insistente para saber em que museu se encontrava. O assessor conseguia imaginar o quanto Jung Hoseok deveria estar furioso ao sair do banho e não avistar o resultado de seu surto no chão, onde havia deixado.

Suspirou, cansado do aparelho vibrar e vibrar. Resolveu atender. A voz controlada de Hoseok lhe fez engolir em seco, afinal, não era comum ver esse lado do artista.

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