A chuva chicoteava contra a capa vermelha de Lilian, mas ela não se importava. Estava de cabeça baixa, olhando enquanto suas galochas, também vermelhas, pisavam em poças enlameadas e espirravam sujeira para todos os lados.
Ela olhou à direita, onde a grande estrutura do castelo se erguia. As luzes estavam acesas e risadas altas vinham de dentro, mas ela não estava de bom humor para se juntar a essas pessoas.
Olhou para trás, focando-se no ponto indistinto de onde deveria ser a porta, mas o borrão continuava o mesmo, sem qualquer indício dessa porta ser aberta, sem ninguém sair dela. Sabia que não devia alimentar esperanças, mas como não? Ela o amava, e estava sob a chuva, engolindo todo o seu orgulho, porque queria pedir desculpas. Esperava que ele estivesse disposto a fazer o mesmo.
Mas não poderia esperar mais de James Potter. Ele sempre foi e sempre seria assim: proclamando juras de amor eterno antes e durante a primeira semana de namoro; na segunda semana de namoro, diminuiria as juras de amor, mas ainda não desgrudaria dela por nada; o relacionamento esfriaria a partir da terceira semana e eles se falariam muito pouco. Por fim, na quarta semana de namoro, a falta de comunicação e o distanciamento dariam origem às intermináveis brigas.
Não devia ter dado uma chance para ele, mas ela pensou que, depois do primeiro encontro, poderia deixá-lo de lado e ele finalmente pararia de dizer para toda Hogwarts que ela era sua alma gêmea. O deixaria quebrado, mas quem se importa? Quantas garotas ele já não devia ter quebrado?
O que Lily não entendia era o porquê de ter feito tantas concessões para o moreno após o primeiro encontro, a ponto de também estar quebrada àquela altura do campeonato, temendo que tudo aquilo que sentia era porque tinha enfim se apaixonado por alguém. Ela parou de andar e ficou em pé, olhando para um dos arbustos que cresciam em volta de Hogwarts. Nele, uma única flor brotava, e era a mais bonita, a que roubava toda a beleza das plantas à sua volta.
Um lírio.
Com amargura, Lily sentiu um aperto no coração e mordeu o lábio inferior. James a chamara de lírio muitas vezes, mas ela nunca dera muita importância; inventar apelidos para impressionar alguém era uma tática amplamente conhecida para fazer alguém se sentir especial, ou para quando não se lembrar mais do nome da pessoa com quem está saindo. Mas não era esse o caso, e ela praguejou contra as grossas cortinas de chuva que a cercavam por não ter sido capaz de ver isso antes. Na última briga, antes de deixar Lily ir, James disse com nada além de sinceridade na voz: "eu te amo, meu lírio".
Por que as coisas tinham que ser tão estranhas e tão dolorosas quando se tratava de amor? Lily tinha ouvido diversas definições sobre o amor, baseadas em diversas perspectivas, e achava estar preparada para ele quando não conseguiu abrir mão de James.
Mas porquê não estava?
– Por favor, não dificulte as coisas, James - ela disse, os dentes cerrados, as têmporas prestes a explodir - Você sabe que não gosto disso.
– Disso o quê, essa é minha pergunta - ele retrucou, aumentando a voz conforme ficava mais e mais indignado - Lilian, eu passo 7 anos inteiros me declarando para você, dizendo que sou completamente seu, e quando tento consolar uma amiga você age como se eu e você nunca tivéssemos acontecido!
– Essa é a questão! - ela disparou, também aumentando a voz, mas porque queria ser ouvida acima da defensiva dele - Você acha que não me machuca, mas o faz! Você acha que está fazendo tudo certo, mas nada está certo! Não posso confiar em uma pessoa que não consegue se controlar e cria um nível de intimidade com qualquer garota que vê pela frente!
– Ah, então é essa a verdadeira questão - James constatou, a voz baixando e o olhar entristecendo enquanto ainda encarava o rosto de Lily - Você não confia em mim.
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My Love Is Yours
Fanfiction[oneshot Jily] "É que, agora, meu amor é todo seu. Não o quero de volta, só quero que cuide dele e que não o machuque. Não me machuque. Apenas dê a ele o amor que ele acha que merece."