Miserável!
É isso que minha vida é.
Mas fazer o quê? Você não escolhe o tipo de vida que tem, mas você pode escolher melhorar, sim sim sim, falar é fácil... Agora agir, isso sim é complicado.
Sempre me conformei com tudo que acontecia em minha vida mas desta vez não, tinha que ter outra saída.
Estou cansada de me conformar. De me resignar. De me acovardar.
Bastava.
Dezessete anos não eram poucos. Certo?
Me virei em direção a aquela criatura e fiquei espantada, seus olhos tinham ficado mais negros que a noite sem luar, mais negros que aquela floresta maldita, por impulso recuei um passo, passo este que foi suficiente para o abismo me envolver e a medida que caía aos poucos fui perdendo os sentidos.
***
Meu corpo doía, dos pés a cabeça tudo doía, até respirar parecia doloroso. Tentei abrir os olhos mais isso também era doloroso, minha cabeça doía de forma inestimável, sem me dar conta comecei a gritar e isso também era doloroso.Dor. Era apenas isso que sentia a cada batida do meu coração, e a cada instante piorava. O que sucedeu em seguida foi muito rápido, como um vulto e tudo ficou escuro.
***
Não sei por quanto tempo fiquei inconsciente, só sei que quando recuperei a consciência ainda sentia muita dor, fiz certo esforço e consegui abrir os olhos, no início a luz me incomodou mais depois fui me acostumando com a claridade.Estava num quarto totalmente branco e tinha vários máquinas ligadas a mim, virei para o lado esquerdo e vi um pequeno sofá cinza num canto onde se encontravam grande janelas que permitiam a entrega de pequenos raios solares. Escutei o porta abrir e virei para o outro lado, um homem de idade entrou, ela usava roupas brancas e uns óculos de fundo de garrafa com uma das lentes que parecia quebrada.
Ele parecia gentil e tinha um sorriso sincero. Por algum motivo me pareceu bastante familiar. De onde será que o conheço?
Ele se aproximou e pareceu analisar meus sinais vitais nunca máquina barulhenta, tentei falar mas tudo que consegui foi mexer os lábios e isso também foi doloroso.
— Você se saiu muito bem, a velocidade de sua recuperação foi impressionante, se continuar assim em breve terá alta – falou o senhor depois de anotar algumas coisas no pequeno bloco que carregava em seu bolso direito.
Espera aí, alta? Eu estou internada? O que será que aconteceu comigo?
— Você consegue me ouvir? Consegui se mexer? – vendo que eu não reagia prosseguiu – Ah, já sei – segurou minha mão e perguntou – consegue sentir? Aperte minha mão ou pisque duas vezes se possível – falou e tentei apertar a mão dele sem sucesso então pisquei – perfeito! Agora entendi, mas não se preocupe... Ficará tudo bem, uma especialista irá aconpaha- lá e em poucos dias ficará, este quadro é completamente normal depois do coma – finalizou e saiu apressado.
O quê? Como assim coma? Quando foi isso? Porquê não lembro de nenhum acidente? De repente me senti sufocada naquele compartimento.
Alguns minutos ou horas passaram e a porta abriu novamente, olhei e não pude conter a alegria por ver meus pais, apesar da aparência deplorável deles, pareciam estar bem. Eles me abraçaram com alegria por me ver acordada, parece.
Por quanto tempo durou esse tal coma? Que pena eu não poder perguntar para meus pais. Ficaram ali me paparicando até que uma jovem mulher, muito bonita por sinal, corpo definido, cabelos ruivos e olhos verdes entrou e pediu que eles saíssem.
Ela se apresentou como Ellen Yang, médica fisioterapeuta e que iria me ajudar a recuperar os movimentos do meu corpo pelos próximos dias. Achei ela um pouco fria mas parecia profissional e muito bem qualificada.
Não vi a tempo passar, fiquei empenhada nos exercícios pois precisava me recuperar para saber o que aconteceu. A última coisa que lembrava foi de sair correndo de casa depois da agradável conversa que tive com minha "irmã".
***
O tempo passou rápido, depois de alguns dias comecei a falar e logo procurei saber o motivo de estar ali, parece que fui atropelada quando saí a correr de um parque abandonado e largada para morrer mas por sorte uma senhora viu tudo e chamou a abundância. Depois de ser quase morrer tiveram que me induzir ao coma.A pergunta que não quer calar era o porquê de lembrar de nada disso?
Acredite, é bem melhor assim, estará mais segura pois será descartada como ameaça.
E de novo aquela voz voltou, para piorar veio me deixar mais baralhada.
Em seguida recuperei o movimento dos braços, no fim da primeira semana já conseguia caminhar sem cansar por todo corredor do terceiro andar.
***
— Parabéns Anna, sua força de vontade foi impressionante... O Dr Marcos liberou você, já pode voltar para casa – falou minha fisioterapeuta poucos dias depois da primeira semana. Eu achei que ela fosse fria, mas com esses dias trabalhando com ela pude descobrir que era só fachada para manter uma relação profissional com seus pacientes e não se apegar, no meu caso não deu certo pois apesar da diferença de idade desenvolvemos um carinho muito especial nesses últimos dias, encontrei nela a amiga que tanto precisava, a irmã mais velha que nunca tive.Durante as sessões conversávamos sobre quase tudo, nossas famílias, sonhos e até dos problemas. Fiquei sabendo que ela tem 23 anos, formou-se recentimente e é casada a dois anos com um advogado muito famoso, Gilbert Harys, da forma como ela falava dele notei que estava muito apaixonada. Bem, ela tinha muito a dizer da vida dela, diferente de mim.
— Nossa, já? Gostaria de dizer que quero ficar, mas a comida horrorosa daqui não me permite – sorri um pouco triste – sentirei sua falta Elly – falei quase chorando e ela me abraçou.
— Tranquila querida, eu sou deixei de ser sua fisioterapeuta... Mas continuarei sendo sua amiga – falou sorrindo, pegou seu bloco de notas, escrever algo e rasgou o papel me entregando – aqui, pode me ligar e combinamos algo qualquer dia desses.
— Pode apostar que ligo – falei com o largo sorriso no rosto, como é bom ter alguém com quem contar. Ela me ajudou com tudo e me acompanhou até a recepção onde meus pais estavam a minha espera, muito felizes por finalmente eu voltar para casa.
Também estava feliz por isso.
***
Durante todo percurso de volta para casa fiquei muito inquieta, minhas dúvidas em relação ao que aconteceu comigo eram quase palpável. Perdi a conta das vezes que tentei puxar conversa mas a mesma sempre morria antes de juntar todas as minhas forças. E isso estava me matando por dentro.Meu pai... Ah meu pai, não sei se consigo deixar de chamá-lo assim. Ele colocou o carro na garagem e me ajudou a descer, me tratando com o mesmo carrinho de sempre. Entramos e eles me perguntaram se querido subir para descansar, respondi que não.
Sentei-me no numa das poltronas confortáveis da sala e eles fizeram o mesmo, pareciam tão inquietos quando eu, o que me levou a conclusão de que já sabiam que eu sei a verdade.
Isso me levou a outra questão que deixava meu coração em fragmentos.
— Porquê? – simplesmente saiu, e a forma como minha mãe olhou para mim me despedaçou. Era o que confirmava, tudo que Amber disse é verdade.
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Evelyn-A princesa perdida
FantasyApós presenciar a morte de seus pais com seus 12 anos, sozinha, frágil e desolada com a guerra, Emma não teve outra saída além de juntar o pouco de fé, esperança e coragem que lhe restava para tentar proteger sua irmã, de apenas meses de idade, sem...