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Capítulo Único - Existe amor em SP?

São Paulo, Brasil, 2002.

Eu era apenas um solteirão que havia voltado de uma viagem para Paris recentemente, maiormente conhecida como a cidade mais romântica do mundo. Já me contaram inúmeras histórias de amor que aconteceram por lá e talvez uma ou outra tenha-me fugido da memória nesse momento, mas a grande maioria sempre começava com uma boa coincidência.

Pode-se dizer que não é mais surpresa ouvir alguém da família em uma rodinha de parentes, contando aos quatro ventos como foi que conheceu seu parceiro ou parceira, num lindo dia ensolarado de verão sem mosquitos ou pernilongos. Tudo um grande resumo maquiado da triste verdade dolorida. Mas admito dizer que quando amamos alguém, evitar de não falar da pessoa a cada cinco segundos é praticamente um desafio. O sorriso bobo está lá e a coragem absurda de atravessar oceanos a nado está lá também. Tudo isso, para mostrar ao mundo o quão bem nos faz essa pessoa. Mas bem, eu nunca havia sentido isso por ninguém. Não que eu não dormisse a noite preocupado com esse detalhe, no entanto, havia uma faísca de curiosidade me apertando os neurônios.

Meu nome é Park Chanyeol, sou filho único da diretora da marca United Models, uma agência de modelos. Atuo atualmente como estilista de moda e sou frequentador assíduo das baladas para adultos que não buscam relacionamentos sérios. E acima de tudo, um fugitivo de qualquer sentimento que deixe meu coração acelerado demais.

O calor incomodava a minha pele. Passei as mãos sobre o meu rosto na tentativa de evitar a quentura que emanava da janela aberta, até sentir que sobre a lateral da minha cintura, o peso de um braço se acomodava duvidosamente.

Murmurei um palavrão ao recordar da noite anterior num único flash. Bebidas, muita dança e um cara que não parava de me secar que acabou vindo parar ao lado da minha cama, coberto apenas por um fino lençol.

Não era surpresa que meu "eu" embriagado sempre fisgava homens pela noite. O Loey ― como eu costumava chamá-lo ― era um tremendo de um desgraçado que me fazia acordar com enxaqueca e um desconhecido para expulsar da minha casa antes que ficasse na minha vida.

Ergui minha mão e puxei o relógio para descobrir que horas eram. O ponteiro estava quase marcando sete horas.

Puta que pariu! Eu estava meia-hora atrasado, concluí em pensamento. Além de um cara pelado em cima do meu colchão, eu ainda teria que lidar com o possível fato de ser despedido. Antes de me levantar eu precisei admitir que o cara tinha uma bunda bastante bonita. Pelo menos, Loey tinha um bom gosto!

Fiz minha higiene necessária, tomei um banho meia boca e sai às pressas do banheiro com o cabelo molhado e apenas uma toalha enrolada na cintura. O relógio já passava das sete da manhã e meus nervos estavam fodidamente a flor da pele.

― Bom dia, bebê.

Dei um pulo, assustado ao sentir a voz próxima ao meu ouvido, enquanto os braços daquele rapaz tentavam me abraçar por trás num carinho mais íntimo do que eu gostaria. A alergia a romantismo me capturou em cheio.

― Bom dia! ― Respondi baixo e me afastando, indo em direção ao armário. Eu estava disposto a voltar para dentro e parar em Nárnia, se assim fosse necessário.

Peguei a primeira peça de roupa que encontrei pela frente. Um terno não muito chamativo que julguei ser adequado para a ocasião, que eu poderia julgar como uma das mais importantes da minha vida.

Seria naquela manhã que aconteceria meu primeiro desfile, totalmente produzido por mim. Há anos eu sonhava e esperava por esse dia e agora eu estava malditamente atrasado. Mil vezes merda!

― Dormiu bem? ― Ele se sentou na ponta da cama, se enrolando com o meu lençol.

O rapaz possuía olhos chamativos e a altura dele admiravelmente batia com a minha. Europeu, Loey?! Sério mesmo que você está tentando gabaritar todos os gringos possíveis? Tinha uma beleza indescritível, mas a conversa não era tão interessante assim. Loey era horrível nisso, ele olhava demais para a capa e pouco para o conteúdo.