Capítulo 1

214 13 2
                                    

Beatrice não entendia o que estava acontecendo. Em um minuto era uma jovem solteira que tinha ganhado um curso de piano com um grande professor, e no outro estava prometida a um completo estranho.

—Papai, o senhor não pode... —soluçou, esperando misericórdia.

—Posso. E vou. O lorde Castlegreen virá para o fim de semana, resolver os detalhes. E você ira cooperar. —O velho respondeu, de forma rude.

Quando o pai deixou os aposentos de Beatrice, ela ainda não estava entendendo. Tinha um futuro brilhante pela frente; se fizesse as aulas com o mestre Blackwood, seria uma pianista espetacular. Poderia se apresentar em conservatórios pela Europa inteira. Mas com o ultimato de seu pai, iria se casar com um estranho e se mudar para as colinas, a léguas de qualquer familiar.

Sua criada estava guardando suas roupas no canto dos aposentos, fingindo que não tinha visto o que tinha acontecido.

—Molly. —Disse Beatrice, se aproximando da janela: —o que vai ser de mim agora?

—Oh, lady Stamford. Eu lamento. Mas creio que será feliz em sua nova casa.

—Como pode me dizer algo assim? Eu tinha a grande chance de ser uma pianista de sucesso. Agora tenho que me casar com esse lorde e morar nas colinas. —Seus olhos se enchiam de lágrimas conforme falava. —Eu não quero!

—Lady Stamford, não se abale tanto. —Confortou a criada, segurando suas mãos—Se o lorde permitir, eu irei contigo, e estarei sempre ao seu lado.

—Se ele permitir. Pelo que eu sei, esse lorde pode ser um velho careca grosseiro, que participa das caçadas com meu pai. Eu não posso descrever o horror que sinto!

—Não pense assim. Eu estava conversando com outras criadas no mercado de sábado, e ninguém sabe quem é esse lorde Castlegreen. Ele se mudou para a casa da colina há pouco tempo, já deu alguma festas e há boatos de que é um rapaz tão belo que encanta todas onde passa. —Molly disse, enquanto escolhia as próximas vestes de Beatrice.

—Eu sei que está dizendo isso para me tranquilizar, porém não está funcionando. Eu ganhei aulas particulares com o mestre Blackwood do Conservatório de Paris! Eu iria aprender com o mestre para ser uma pianista maravilhosa. Mas agora papai faz negócios com um estranho e me concede em casamento, sem ao menos saber o que eu penso a respeito.

—Você é uma pianista maravilhosa. E seu pai precisa de você. Se você se casar com o lorde, seu pai não vai precisar vender suas terras. Lady Beatrice, a senhorita sabe a situação financeira de seu pai. E também sabe que ele não te obrigaria a casar, se não fosse a única opção.

—Se eu fosse uma pianista famosa, poderia ajudar meu pai. Desde que meu irmão foi embora, tudo ficou mais difícil para meu pai. Mas não significa que ele pode me obrigar a casar com um estranho.

—Lady, seu pai não quer admitir; mas essa é a única saída. O lorde está oferecendo um acordo de negócios excelente, que inclui você. Desde que Magnus pegou a parte da herança e deixou seu pai, ninguém quer fazer negócio com ele. Todos sabiam que Magnus era quem comandava o dinheiro, e sem ele seu pai não consegue comandar as terras.

—Meu pai é um excelente administrador.

—Você sabe que não mais. Um acordo com o lorde Castlegreen garantiria estabilidade nos últimos anos de seu pai. 

Beatrice parou e pensou. Quando Magnus deixou a administração dos negócios e partiu, tudo começou a desmoronar para seu pai. Sem ninguém que fizesse negócios com ele, teve que vender muita coisa para garantir a sobrevivência. Ainda tinham a casa de verão, onde moravam, mas em breve não teriam nada.

Beatrice sabia que Molly estava certa. Seu pai não a obrigaria a casar e se mudar para as colinas, se essa não fosse a única opção.

Respirou fundo e enxugou as lágrimas.

—Eu entendo. Amanhã o lorde virá para acertar os detalhes do acordo. Eu devo estar bem apresentável.

—Por isso já separei seu vestido azul celeste. A senhorita fica radiante nele.

Enquanto Molly organizava as roupas e acessórios para a manhã seguinte, Beatrice fechou o piano. Pois sabia que só poderia tocar, se fosse da vontade do lorde.

                          

Na manhã seguinte, Molly e Frederika, a outra criada, acordaram Beatrice bem cedo. Ela tinha que ficar perfeita, totalmente apresentável para que o lorde se agradasse dela. Arrumaram seus cabelos ruivos num penteado alto, deixaram seus cachos brilhantes e levemente bagunçados. 

As criadas estavam empolgadas. Tanto pelo futuro casamento de Beatrice, como para saber quem era o lorde Castlegreen.

—Eu acho que ele é loiro. Dizem que ele veio na Alemanha. —Comentou Frederika, enquanto ajudava Beatrice com o corpete.

—Eu fiquei sabendo que ele é americano. É tão rico que tem um andar inteiro como aposento individual. —Rebateu Molly. —Você soube de algo, senhorita?

—Só soube o que você me disse ontem: que é bonito e se mudou há pouco tempo.

—Oh, sim. Soube que é maravilhoso. Um lorde extremamente cavalheiro e gentil. E rico. —Frederika apertou o corpete. —Eu não sei por quê a senhorita precisa de corpete. Sua silhueta é perfeita.

—Eu agradeço o elogio. Mas é como uma norma. Eu sou uma lady prestes a conhecer meu noivo.

—Para alguém que está prestes a conhecer o noivo, a senhorita está muito triste.

—O que posso fazer? Não dormi a noite toda. Estou apavorada.

 —Isso é natural. Toda moça se sente assim quando pensa em se casar. —Comentou Molly, dando os últimos retoques na aparência de Beatrice. —A senhorita está radiante.

Beatrice se olhou no espelho: seu vestido azul sempre ficava perfeito, os detalhes em renda, as luvas, a gargantilha, os cachos ruivos... estava linda. Diferente das roupas de camponesa que estava usando ultimamente, como a situação financeira obrigava.

O Grande Amor De Um LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora