Transtornado

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      Joel, ainda sonolento, se levantou sentindo um cheiro estranho, imediatamente acordou ao irmão e aos outros. Ao procurar em volta, viu apenas as famílias ao redor, dormindo tranquilas sob a proteção dos militares. Dos militares? Onde eles estavam?

       Joel se dirigiu ao galpão onde distribuiam os mantimentos no dia anterior e não encontrou ninguém. Virou-se para Jason, que com um olhar aterrorizado, levava a mão a boca lentamente.

- HOLAND! - Jason gritou, e Joel levou seu olhar instintivamente para onde Holand dormia, então correu até o irmão. Dalton tremia, segurando a mão de Sabrina, ainda no mesmo lugar que fora dormir. Olhava os filhos, com medo, temendo que não pudesse fazer nada para salva-los. Que não conseguisse ser o herói que deveria ter sido desde as suas infâncias.

- Jason, o que- Não precisou de palavras. Bastou virar o olhar. Holand jazia sobre o corpo de um militar, devorando com suas próprias mãos e boca as costas dele. Ele chorava. Por que ele chorava?

- Holand, por favor... - Joel já chorava, Holand não era apenas seu patrão, era um grande homem, honesto, bom ouvinte, bom conselheiro, um segundo pai. Um homem sem família, vivendo da comunidade. Sendo da comunidade. Vendia a prazo pra quase todos os residentes de idade, mesmo levando golpes de vez em quando. E agora, ele estava devorando um homem! Devorando um homem!? Joel se indagava entre soluços e tropeços. Jason tentava, tentava segurar os braços do seu irmão, mas ele parecia irredutivel.

- Holand. - A voz serena de Joel, agora ao lado do seu amigo, chamou sua atenção imediatamente. Holand parou de chorar e se ergueu, com o corpo inclinado para a direita, o olhar vagando para além da vida. Morto. Estava completamente morto.

O tiro ecoou, Holand caiu, e outros tiros se seguiram. Outros sobreviventes haviam acordado, por pouco não acertavam Jason e Joel.

- Saiam daí, seus idiotas! - Alguém gritou no meio dos tiros. - Seja quem for, está morto! Saiam dai!

- Antes de se virar, Joel olhou para Holand e viu a última lágrima dele descer pelo rosto ensanguentado. Jason sentiu que aquilo mudaria o irmão para sempre.

Joel foi até o galpão, pegou o primeiro fuzil que viu, verificou as balas e foi para a linha de frente.

- Eu sinto muito. - Sussurrou pra si mesmo, antes de levantar os olhos e a boca da arma. Jason jamais imaginaria ver aquele olhar no irmão.

         Os tiros foram precisos, como se ele atirasse desde os primeiros anos de vida. Os outros sobreviventes deram lugar a ele, eram poucos militares sobrando, vagando como zumbis, perseguindo os tiros sem saber que corriam em direção ao próprio fim. Foi rápido, uma vez que os tiros de Joel não erravam, acertavam a cabeça entre os olhos, por trás, na testa... Quando o ultimo homem infectado caiu, o surto ressurgiu perto de Dalton, que no mesmo momento pegou Sabrina e saiu correndo. Jason já estava armado, e começou a limpar o caminho para ele. Mike surgiu ao seu lado, ajudando, mas a gritaria se instalou.

       Não adiantava mais derrubar, enquanto um infectado caia, outros 4 surgiam. Murmurando, chorando, gritando, rosnando. Rangendo seus dentes em busca da carne humana, do sangue quente, da respiração ofegante e dos gritos de morte. Não eram infectados. Não eram meros zumbis de filmes Hollywoodianos. Eram monstros. Eram pesadelos. Eram a personificação do terror e do medo. Era o fim de tudo que todos conheciam. Era o fim da sanidade. O fim da pureza. Era o inferno tomando seu lugar na Terra. Mas Jason e Joel estavam prontos. Iriam manter os seus protegidos. Iriam lutar. E iriam matar.

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