uma vez choi san batucou seus dedinhos infantis numa garrafa de tequila até que ela se quebrasse e depois me fez prometer que eu me ajoelharia no convés do meu navio como se eu não tivesse um desvio moralista tão grande que jamais seria invisível para alguém que te pede para lamber o chão.
"um dia você vai agradecer pelos cacos de vidro que fazem aquele malabarismo dos infernos dentro das suas cordas vocais e quando eu renunciar o comando, vou lhe beijar e prometer que tudo de ruim possível poderá em madrugadas tardias, ser convertido em valiosos diamantes húngaros" ele disse, lambendo o meu pescoço como se eu vertesse veneno desde o âmago até a mais breve camada dermal que ele poderia tocar. naquela noite, eu ri bastante pensando numa vingança à altura enquanto almejava comprar brigas com os navios vizinhos em troca de um refém que saberia todas as coordenadas do paradeiro de barba negra. eu faria qualquer coisa em troca da estrela polar congelando marés e cintilando nevoeiros remotos para dentro das minhas pupilas dilatadas de ódio.
quando eu decidi comprar o oceano pacífico para domar tubarões com chapéus de palha e buracos fundos que escondem mil e uma carcaças de peixe-espada, pensei em san até o sol raiar porque nunca estive tão apta à lapidá-lo. blocos de gelo impenetráveis escondem anjos de porcelana e guerreiros com espadas afiadas que te pegam pela cintura e prometem poças de ouro.
essa é a magnificência marítima de ter a consciência sempre à um fio da loucura. eu sabia onde barba negra estava porque ele é um pássaro à ser degolado pela minha fúria: eu sabia onde suas pérolas negras do egito beijariam os olhos de esfinges de mentira. e então, icei as velas e gritei para quem quisezse ouvir: eu iria capturá-lo e faria dos seus os olhos as alianças para o meu velório quando ele percebesse que todas as cicatrizes do meu rosto desfigurado podem se abrir de dentro para fora até que ele enxergue a cegueira da morte premeditada.
"me traga o horizonte" ele disse, sussurando entre dentes e aparando o meu cabelo descolorido. talvez ele somente desejasse a posse de algo para zelar. o horizonte não existe dentro desse paradoxo infinito
sobretudo, até hoje eu estou arrancando cacos de vidro da minha garganta porque é o que se deve fazer quando se tem a estrela polar bem no meio dos olhos de vidro que foram arrancados por alguém que te jogaria numa fogueira e não se preocuparia com a carbonização dos dedos de açougueiro.
são as pérolas negras entaladas no meio da minha garganta perturbando o sono de piratas milenares que sonham com a posse do horizonte. são as fogueiras que eu jurei apagar com o tecido linfático das bolhas no meu rosto carbonizado. amarras em meus braços prendendo a comandante no mastro que ela própria fez, no navio que ela jurou comandar até que o mar a engolisse para a faixada de um bordel dentro da fossa das marianas. eu sou a minha própria refém em busca de algo que nunca vai matar a minha sede de álcool entre barris e mais barris de rum sendo despejados para polvos caneteiros mar afora.
a busca acabou, contudo, o vento sopra até que a miragem realista de barba negra localize o tesouro do pacífico.
mas um pirata do vento não precisa de alguém que queira salvá-lo de algo, então não importa quantos chicletes eu vou ter que mascar para tapar esse furo existencial no convés da minha embarcação. esse é o tesouro. são pérolas negras que não significam nada além da sua busca obsessiva pelo fóssil de um australopithecus que possa te dizer algo além do que eu sempre tentei te explicar.
não há nada além do horizonte, choi san.
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BEYOND THE HORIZON
Fanfiction[에이티즈 + 있지] o vento parte a vela do meu barco furado, mas não se preocupe com quantos chicletes eu vou ter que mascar para tapar esse furo existencial: eu vou te achar. [shin ryujin × choi san ✧ ateez + itzy] ﹫EXONOIR, 2020.