Capítulo 4

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Bruno

Ser rico é bom, mas também tem o seu lado ruim – e, particularmente, acredito que o lado ruim está nos sobrenomes e que, quanto mais poder tem esse sobrenome, mais coisas ruins você pode carregar.

Eu tinha um sobrenome poderoso: Duocco. Minha família era dona do município de Nuovo Campo, por assim dizer. Villagio Duocco era o nome do grupo mafioso da minha família. Mas as pessoas conheciam por Villagio Duocco o nome de uma grande empresa, dona de quase todas as terras da região, da companhia de maçã, das vinícolas que produziam os melhores vinhos de altitude do estado, da melhor pousada da cidade, do melhor restaurante, da pequena frota de ônibus intermunicipal, enfim – de tudo o que existia naquela cidade.

Tudo funcionava sob as bençãos do meu pai, de acordo com a generosidade (se é que havia) dele. O sustento de todos os quatro mil e duzentos e quarenta e dois habitantes era garantido, de alguma forma, pela minha Famiglia: quer fosse no serviço público, nos pequenos comércios, nas feiras, nas vinícolas, na cultura da maçã, na rede de beneficiamento de outros frutos etc.

Não preciso dizer que o meu pai era endeusado pela maioria: não sei se por medo ou só pela necessidade – mas, havia também os que odiavam nosso sobrenome.

Nosso palácio ficava há alguns quilômetros do centro da cidade. Portões dignos de uma grande propriedade – VILLAGIO DUOCCO, escrito em letras grandes banhadas a ouro que cintilavam a qualquer luz. Os muros de grades de ferro reforçado, cheio de detalhes e desenhos, alcançavam quase quatro metros de altura – boa parte completamente fechada pela vegetação que era podada todos os dias pelo Sr. Caranha e os filhos dele.

E por aqueles portões, obviamente, entrei após sair voando da palhoça do velho da garrucha.

Mal cumprimentei os porteiros.

O nosso palácio estará em festas, em poucos dias – cem anos que foi erguido, exatamente no dia que marca o aniversário da cidade.

A cidade de Nuovo Campo foi emancipada do município de São Joaquim há cinquenta e dois anos, ou seja, quase cinquenta anos após a reconstrução do império dos Duocco.

– Claro – berrava o meu bisavô. – Nós fundamos este lugar há cem anos.

Eles não perdiam a oportunidade de engrandecer o fato de que a família Duocco havia comprado aquelas terras e fincado ali a pedra da fundação do que seria Nuovo Campo. Muitos colonos vieram trabalhar para o pai do meu bisavô nas plantações de maçãs. Dali surgiram loteamentos e, consequentemente, comunidades, o que fez com que o processo de emancipação da cidade acontecesse – graças, é claro, à influência que a Famiglia exercia com os políticos da região, além de muito sangue derramado de inimigos.

Eu tenho um irmão – Giovanni. Somos a quarta geração viva da família. Meu bisavô – Maurizio, acabou de completar noventa e sete anos; o avô – Giovani (minha mãe quis acrescentar um "n" no nome do meu irmão para diferenciar), está com setenta e oito e meu pai está com sessenta anos completos. Como é perceptível, eles têm a tradição de ter filhos muito jovens. Meu pai – por uma série de problemas de saúde da minha mãe, só conseguiu me entregar para a família quando já completava os trinta e cinco. Entretanto, ele havia casado aos dezenove, e isto me trazia uma carga de pressão enorme, já que eu me aproximava dos vinte e cinco sem filho e sem esposa. Nem uma namorada.

– Nem uma fidanzata? – berrava a minha avó Federica.

– Não – eu respondia, com serenidade e ironia. – Nenhuma ragazza quer ser minha namorada.

Non! Mas como isso é possível? – ela dizia, levando a sério a questão. – Tão bello... bem-sucedido... precisa ir para a Itália encontrar uma noiva!

Herdeiro da MáfiaWhere stories live. Discover now