Capítulo 5

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Jordana

– Uma água com gás – Marta pediu, afastando o cardápio para um dos cantos da mesa. – Teria como providenciar metade de um limão fatiado?

– Claro, senhora – disse o garçom.

– Senhorita, por favor – ela o corrigiu, sorrindo.

O rapaz saiu em direção à cozinha, quase deixando cair a bandeja das mãos. Era um garoto simpático, mas um pouco desastrado.

– Você sabe como deixar um homem nervoso, hein? – eu disse.

– Digamos que não é difícil aqui neste fim de mundo.

Marta era professora de matemática. Uma mulher jovem, atraente, longos cabelos pretos bem tratados, sobrancelhas bem delineadas; gostava de batons fortes, esmaltes de cores vibrantes nas unhas, brincos grandes e piercings nas orelhas. Não era tão jovem quanto eu, já havia passado dos trinta anos, e não era muito querida pelas mães dos alunos.

– Não gostam de mim – ela dizia, sorrindo com ironia. – A beleza incomoda, você sabe, não é? Um bando de camponesas que mal cortam as unhas dos pés se acham no direito de criticar a forma como me visto, como me comporto, só porque os maridos ficam me comendo com os olhos nas reuniões de pais e mestres.

Era sábado.

Eu havia chegado na quarta-feira.

Ainda estava tentando me acostumar a morar em um quarto de pousada, a fazer todas as refeições fora de casa, a não ter ninguém para conversar...

É tudo um processo – eu pensava, tentando me acalmar. De fato, eu estava disposta a tomar outro rumo na vida, mas não sabia que era tão difícil largar os hábitos.

Eu passava as manhãs e tardes na escola. Gastava o tempo alinhando os projetos com a diretora e a pedagoga, fazendo os estudos da realidade da instituição para poder iniciar o trabalho de conselheira de vida escolar.

Quando chegava na pousada, a noite já havia caído.

Era a hora do trabalho difícil.

O frio congelava a alma. Era um momento de vulnerabilidade – quando sentia o nó da solidão na garganta, corria até o computador para trabalhar. Tudo é questão de ter um objetivo – dizia o meu ex-noivo.

Quando a cabeça estava a ponto de explodir, eu deitava na cama e assistia a um episódio de uma série de comédia aleatória.

Eu precisava desses pequenos rituais para esquecer do labirinto onde eu estava me metendo, numa cidade pequena e gelada, isolada do meu mundo, distante da minha família e do meu círculo de amigos, enfim...

Na sala dos professores, Marta foi a primeira a falar comigo. Ela tinha um jeito espalhafatoso, um sorriso muito branco e verdadeiro. Elogiou as minhas roupas, a minha bolsa, a minha pele. Senti uma certa satisfação em ter alguém para compartilhar as coisas leves da vida – ela adorava conversar sobre futilidades.

Marta era de Blumenau, tinha parentes na cidade de Nuovo Campo e estava ali para se curar de um divórcio conflituoso.

– Você deve me achar uma boba – ela disse, passando o dedo indicador na borda do copo assim que o garçom se aproximou.

– Que nada – eu disse. – Eu também adoro falar bobagens. Alivia a cabeça.

– Sim – ela levantou o copo fazendo sinal para o garçom que se aproximou da nossa mesa imediatamente. – Quero um gim tônica.

– De...desculpe senhorita – o garçom gaguejou. – Não temos esta bebida em nosso cardápio.

Marta deixou, intencionalmente, as pontas dos seus dedos roçarem a mão do rapaz, e disse:

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⏰ Last updated: Apr 04, 2020 ⏰

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Herdeiro da MáfiaWhere stories live. Discover now