All my love is unrequited [EDITADO]

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Peter chegou às 22:30. Durante todo o caminho, ficou repassando em sua cabeça tudo o que queria falar para Nanna mas sabia que só iria conseguir falar metade das coisas que desejava. Tocou a campainha assim que parou na frente da porta. Alguns segundos depois, Amélie abre a porta.

-Boa noite. Eu gostaria de falar com a Nanna, por favor. – Peter pediu.

-E eu posso saber quem é você? – Amélie retrucou, olhando o garoto de cima a baixo.

-Eu sou o Peter Demarco, e você deve ser a tia da Nanna – Ele estendeu a mão para a mulher apertar, e ela apenas a encarou. Peter abaixou a mão ao perceber que ela não a apertaria e continuou – Eu estudo com ela no St. Flowers e sei que agora é tarde, mas eu preciso falar com ela.

Amélie o analisou por mais alguns segundos e se virou, gritando por sua sobrinha e deixando Peter sozinho na porta. Ele esperou e Nanna apareceu, com uma calça jeans um pouco folgada – mesmo em suas coxas grossas – e um moletom preto e grande. Peter achava tão pulcro o jeito que ela se vestia, mesmo sendo tão simples e juvenil.

A menina se encostou no batente da porta e olhou para Peter de cima a baixo, mas não com o mesmo olhar que sua tia; Amélie estava julgando o garoto. Nanna estava o admirando e, ao mesmo tempo, tentando decifra-lo. Vestia uma calça, camisa de flanela e um par de All Star pretos. Tudo preto. Ela saiu do batente, fechou a porta e se sentou no banco de madeira branca da varanda. Peter a seguiu.

Encararam a rua por algum tempo. Até que Peter explodiu em um vômito de palavras:

-Eu acho que amo você, Nanna. Ou pelo menos estou começando a te amar com toda minha alma, cada pedaço de minha carne, cada célula que me faz viver. Citando o Bukowski, que eu sei que você ama, o amor é uma névoa que queima com a primeira luz de realidade. Mas não é minha culpa se essa névoa que eu tenho, que eu ainda nem sei se ela realmente existe, ainda não sumiu. – Nanna não disse nada, apenas continuou olhando para a rua – Porra, Nanna, você vai ficar quieta mesmo?

Ela tornou seu olhar para ele, e o beijou. Com esse beijo, Peter pensou que ela também estava começando a amar ela, que o sentimento era recíproco. Mas, assim que aquele pequeno instante de 30 segundos acabou, Nanna destruiu suas expectativas.

-Peter, me desculpe, mas eu não amo você. Eu não amo ninguém, e nunca conseguirei. Pelo menos é o que minha cartomante disse.... Eu sou igual o diabo, não consigo sentir nada romântico pelas pessoas.

-Como assim você não consegue amar ninguém? – Peter perguntou, atordoado com aquela resposta e mais ainda com a expressão de paisagem da garota – Eu já vi você com pelo menos seis namorados diferentes e....

-Só porque eu namorei alguém não quer dizer que eu amo eles, Demarco – Nanna o interrompeu – E eu terminei com todos eles porque eu pensava que os amava, mas não. Eu não amava.

-Nanna, por favor, me escuta – Peter colocou suas mãos no pescoço dela, que quase se camuflavam com a palidez da garota – Eu sei que estou começando a te amar com todas as letras e sentimentos que a palavra "amor" carregada. E eu consigo fazer você me amar ou te preparar para amar alguém. Mas eu preciso de uma chance. Pelo amor de Deus, Alá, Maomé, Buda, pelo amor até de Satanás, me dá essa chance.

Nanna tirou as mãos do garoto de seu pescoço, e se levantou.

-Não dá, Peter. Se eu já amei alguém ou se amo alguém, um dia vou saber. Mas, por enquanto, não dá – Andou até a porta, e olhou para o menino mais uma vez – Se você quiser, me chama pra fumar uns cigarros ou uma transa casual, ok?

Nanna não esperou pela resposta do garoto, pois sabia que não seria bom prolongar aquela conversa; então, simplesmente, entrou dentro de sua casa novamente

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Depois daquela conversa nem um pouco agradável, Peter permaneceu sentado naquele banco por mais cinco minutos, o tempo de fumar um cigarro, e finalmente entrou no seu porsche 911.

Sentou no banco do motorista e olhou para a casa de Nanna pela janela por mais alguns minutos, na esperança de que ela saísse daquela porta gritando que ela também o amava. Saiu de suas fantasias, e ligou o carro. Colocou em uma rádio qualquer, e estava tocando aquela música da Alanis Morissete que Peter não se lembrava o nome. "It's like rain on your wedding day", ou algo parecido.

Peter não sabia o nome da música nem ao menos a letra dela, mas sabia e lembrava muito bem que ele chorou oceanos enquanto cantava ela no seu caminho de volta para sua casa.

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Os dois amigos, coisa que eles nem sabiam se eram mais, não se falaram por 11 dias. Não se olhavam pelos corredores do colégio e evitavam até se encostar nas salas de aula. Até que, em uma sexta-feira, alguns minutos depois de Nanna chegar em sua casa depois do colégio, ela recebeu uma simples mensagem de Peter.

"oi".

"oi".

"a gente precisa sair pra fumar

meu irmão voltou da turquia com uns cigarros e eu consegui roubar um maço"

"vamo sai amanhã porque hoje tenho que ajudar minha tia a comprar lentes novas"

"ela vai viajar de novo?".

"não, só quer comprar algumas novas. e ela vai me dar meu presente de natal também".

"maneiro".

"é".

"então... ta tudo bem?".

[...]

Na tarde do dia seguinte, Peter apareceu na casa de Nanna e daquela vez foi ela abriu a porta para ele. Quando os dois entraram, a tia dela gritou:

-Quem é que está aí?

-É o Peter, tia. – Nanna gritou de volta – Talvez a gente saia mais tarde.

-Beleza, só não fique grávida!

Nanna revirou os olhos enquanto andava até seu quarto com Peter, que ria. Assim que ela fechou a porta, o garoto tirou dois maços de cigarro do bolso de trás de sua calça jeans. Um estava aberto e outro lacrado, o qual ele jogou para a garota que o pegou. Ela perguntou:

-É pra mim?

-Claro que não. É para você colocar no meio do adubo das suas plantas. – Peter respondeu ironicamente, fazendo com que Nanna revirasse seus olhos novamente em menos de dois minutos – É claro que é para você. Agora vamos acender isso logo. Você tem isqueiro na primeira gaveta, né?

-Tenho, pode pegar.

Peter tirou dois cigarros do maço aberto e os colocou na boca. Pegou o isqueiro transparente da gaveta e, quando ia acender, olhou para Nanna e apontou com o queixo para fora do quarto, como se perguntasse: e sua tia?

-Ela não liga. Posso fazer qualquer coisa, menos ficar grávida nem ter uma overdose.

Ele riu pelo nariz e acendeu os cigarros. Peter colocou um na boca de Nanna, que estava em frente da estante de CD's. Escolheu Down the Way, do Angus & Julia Stone. Passou direito para a faixa For You e se deitou no chão, enquanto fumava. O garoto se deitou ao lado dela.

Os dois tinham planejado ir à uma festa de algum amigo de Peter, mas estavam tão confortáveis e felizes no chão do quarto dela que escolheram ficar por lá. Anoiteceu, e pediram duas pizzas de mozarela – a preferida deles, mesmo sendo um sabor tão simples – e uma Coca-Cola de 2 litros.

Nanna escolhia CD's com as músicas mais calmas possíveis, para poder prestar atenção total no que Peter falava enquanto conversavam.

Os dois nem perceberam que adormeceram no chão frio de madeira do quarto dela. Peter acordou no meio da noite, se tremendo de frio, e viu Nanna na mesma situação que ela. Levantou a garota, e a deitou em sua cama. Se deitou ao seu lado, e cobriu os dois com o cobertor verde dela que cheirava a sabonete.

Little Trouble Girl, Little Trouble BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora