Colônia

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Luz II

Colônia.

Aquele cheiro gostoso, que me prende e vicia.

Depois do barulho do disparo tudo em minha cabeça fica confuso, como se uma pequena parte das minhas lembranças tivesse sido apagada, não tenho ideia da onde estou e nem com que estou já isso não me parece em nada com uma cela da imigração ou, no melhor dos casos, com um quarto de hospital.

Esse de longe não o quarto de nenhum dos lugares citados anteriormente, pois um quarto de hospital não tem cobertas grossas e vermelhas, muito menos cortinas negras, uma cela não teria um lavabo e nem uma banheira. Me sinto cansada, mesmo depois de ter dormido, olho para meu ombro, esse que está enfaixado. Realmente levei um tiro.

Mexo por debaixo das cobertas, não estou a usar nenhuma de minhas roupas, a blusa que estou a usar não me pertence. Um cheiro nostálgico invade as minhas narinas, sinto um leve desconforto debaixo de meu seio, quase como se estivesse sendo vítima de mais do meu aviso biológico, esse me dizendo que irei ficar menstruada.

O carpete felpudo e macio faz um pouco de cócegas em meus pés. Gosto da sensação, de como o tecido macio cobre os meus pés, fazendo-me pensar no quão gostosa é a sensação provocada pelas cerdas do carpete vermelho.

Caminho pelo quarto, indo em direção a única saída visível e viável.

Abro a porta, a casa está silenciosa como se não tivesse nenhum morador. Curiosa, me ponho a vascular alguns cômodos. O dois primeiros que entrei eram quartos. Desço as escadas, escuto um doce som de piano vindo de uma das salas. A melodia triste e chorosa faz com que me sinta um pouco deprimida, já a escutei antes, há muito tempo com meus pais. Fico parada, encostada no batente da porta observo tudo, ao mesmo tempo em que perco-me em meio a melodia trágica, essa que me deixa com um estranho nó em minha garganta tenho de chorar, embora também seja de meu desejo produzir nenhum ruído, não quero que a música pare e nem que alguém me veja.

Novamente aquela maldita parte chega, a parte em que o piano fica calmo e depois agitado, como explicar melhor! Essa é a parte em que a melodia fica doce, suave, logo em seguida ela fica um pouco agressiva, quase como se a pessoa que compôs chorasse enquanto tocava, como se ele estivesse em pleno pranto. E descontasse toda a sua frustração nas notas, na melodia formada durante o momento mais angustiante de toda a sua vida.

Limpo a lágrima que está a escorrer, uma lágrima tola e persistente, em quando a pessoa que está a tocar começa a cantar o refrão. A voz dele faz com que eu desabei, paro de suportar o peso do meu próprio corpo, já que meu primeiro pensamento e de que ele o deixou fugir para garantir a minha sobrevivência! Pois se ele o fez, foi em vão, já que não vou conseguir viver e nem ficar parada sabendo que pessoas, mulheres inocentes, se feriram por causa dele. Por causa daquele homem nojento e sem escrúpulos, que brinca com os nossos sonhos e os usa contra nós.

Tento parar de chorar, mas eu não consigo, novamente me sinto quebrada. Já que eu pedi para que ele atirasse! Para que ele acabasse com a minha dor e sofrimento, que ele impedisse outras pessoas de sofrer, de viver o inferno que suportei por meses! Pois aquilo não é vida, não é castigo, o que passei na mão deles, daquelas pessoas que fingiram ser minhas amigas! O que eu sofri, para evitar que alguém passe por aquilo que foi obrigada a passar e suportar. Pois ser forçada a entregar-se a outro homem, tudo para analisar o ego alheio, encher os bolsos aqueles que se negam a viver uma vida honesta!

— Hinata! — ele me chama. — Princesa, olha pra mim. — Ele toca em meu rosto.

— Porque eu ainda estou viva senhor policial? Eu pedi para que você não deixasse-o fugir? — minha voz se altera, não consigo me acalmar, pois eu me encontro quebrada, não é só o meu físico, mas, sim o meu psicológico. — Porque não fez o que eu disse? Porque...

— Eu não deixei ele fugir, mas também não podia machucar você, pois o meu trabalho é proteger pessoas inocentes e não matar elas. Mesmo que elas me peçam! — ele segura o meu rosto, fazendo-me encarar o face abatida, os olhos cansados.

— Mas então o que aconteceu?

— Eu não atirei em você, eu mirei no teto, pois esse era o sinal para que a minha equipe aparecesse no local. O cara que te enganou, feriu e humilhou — ele cerra os punhos com força — não vai fazer isso com mais ninguém, ele não machucar mais mulher alguma.

— Como você sabe disso? — o questiono, pois com a justiça atual ele não vai ficar muito tempo preso. De uma forma ou de outra ele vai acabar sendo solto, pelo fato do ramo ser lucrativo ele vai voltar a fazer a mesma coisa e aí mais mulheres vão sofrer, não quero isso! Não desejo isso pra ninguém.

— Pois eu fiz o meu melhor para garantir isso. — Seus olhos parecem tão sem vida, como se o preto de suas íris tivesse perdido todo o encanto, a vida existente no corpo do policial.

— O que você fez? — pergunto receosa.

— Eu fiz aquilo que eu achei melhor, o que julguei necessário e certo; pois eu não podia deixar ele andando por aí, principalmente depois do que ele fez com você... com aquelas meninas.

— Senhor policial,, eu sinto muito... — ele me pega no colo, impedindo-me de dar continuidade a minha narrativa, além de me impedir de andar; embora tivesse me dado a chance de sentir o cheiro de sua colônia, esse que é tão gostoso. — Eu consigo andar.

— Hinata, pode me chamar de Madara. — Ele solta um meio sorriso, como se tentasse esquecer a tristeza existente em seu interior.

— Você nunca tinha dito o seu nome antes. — Pronuncio surpresa. — Madara...

— Desculpa, eu esqueci de me apresentar, meu nome é Madara, Uchiha Madara. — A voz do homem deixou-me anestesiada, como se o mais viciante das vozes tivesse sido escutada por mim.

— Prazer senhor Madara, eu me chamo... — ele coloca o seu indicador em meus lábios, impedindo-me de continuar.

— Você se chama Hyuuga Hinata, a minha Hyuuga Hinata. — Disse beijando o topo de minha cabeça. — Mas agora vamos comer e conversar um pouco sobre o que iremos fazer a partir de agora.

— Certo... — Sem nem ao menos questionar, permite que Madara me carregasse para o interior do luxuoso apartamento.

Essas feridas não vão cicatrizar

Essa dor é muito real

Há muita coisa que o tempo não pode apagar

Evanescence — My Immortal.

Luz NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora