Aquela possibilidade que havia cogitado sobre o acaso existir estava completamente riscada da sua lista de teorias.Como poderia alguém acreditar que as coisas simplesmente acontecem por acaso?
Era tão nítido que para tudo existia uma razão, embora muitas vezes essa razão demorasse a aparecer.
A sensação de pertencer.
A sensação de pertencer a algo, a alguém, a algum lugar era uma das melhores que poderia sentir, e nem mesmo sabia que a tê-la era tão gratificante. Era como se qualquer situação trouxesse a mesma sensação de abrir a porta de casa e inalar seu cheiro favorito, o cheiro de café recém passado. Era como a sensação de estar em uma madrugada chuvosa, estirada no centro da sua cama, na sua própria companhia, enquanto lia um daqueles livros que ninguém se interessaria ao ver na livraria, mas que a fazia fechá-lo no meio da leitura para ter segundos de reflexão sobre um parágrafo qualquer. Nada explicaria melhor o que sentia naquele momento do que a sensação de pertencer, a qual lhe lembrava que absolutamente nada poderia acontecer pelo acaso.
Não tinha como ser por acaso o fato de estar sentada naquela cadeira, com os braços apoiados naquela mesa enquanto esperava Regina voltar. Havia repetido isso tantas vezes que perdera as contas de quantas foram e esse hábito não havia se tornado robótico, era um hábito bom, que fazia sentir-se pertencente ao lugar que estava, e não só em relação à mesa costumeira da cafeteria, mas ao seu lugar no mundo. Fazia sentir-se pertencente a si mesma.
Quanto tempo levou para que isso acontecesse?
E nesse tempo, quais foram as situações que a levaram até onde estava?
O acaso, definitivamente, não era o responsável.
Observava Regina do lado de fora da cafeteria, dando passos curtos para a esquerda, voltando para a direita sucessivamente. Uma de suas mãos estava no bolso traseiro da calça jeans justa, a outra segurava o celular próximo ao ouvido enquanto olhava para os próprios pés, vez ou outra levantando o olhar. Ela mal havia tocado em seu copo, a ligação parecia dez vezes mais importante.
Se seu coração pudesse suspirar, o teria feito ao ver Regina adentrar o Café novamente e lhe direcionar o olhar, revirando o olho logo em seguida. Riu baixinho com o ato da outra mulher e a acompanhou com os olhos até ela sentar-se à sua frente.
— Me desculpe, mais uma vez — pediu dando um sorriso de pesar.
— Está tudo bem — abriu mais o sorriso e pousou seu copo sobre a mesa, colocando a sua mão ao lado.
— Como eu estava dizendo... Não existe tantos livros com essa temática no mercado literário ainda, você sabe, não que estourem. As pessoas estão acostumadas a ler tragédias ou romances que acabam em desgraça se retrata um casal gay. Inconstant está chegando de maneira inovadora. A equipe de marketing está trabalhando na divulgação. Você tem visto nas redes sociais os comentários quando postamos citações ou o book trailer? — Regina gesticulava as mãos ao falar, notoriamente empolgada, o que fazia Emma sorrir.
Aquela mulher demonstrando tamanho entusiasmo ao falar de seu livro era de levá-la ao paraíso sem precisar sair do lugar.
Aliás, o que Regina fazia que não a levava ao paraíso?
Beirava um paradoxo, já que a morena era a própria personificação do pecado. O próprio fruto proibido.
— Eu tenho acompanhado — Emma falou quase rindo.
Os comentários em posts que divulgavam o lançamento de Inconstant eram em sua maioria positivos, confirmando frequentemente que aquela era a escolha certa.
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Paradoxo
FanficO amor de Regina Mills por histórias românticas nascera para realizar sua vontade de vivenciá-las, já que para ela, o sentimento mais avassalador só existia dentro dos livros. Sua profissão surgiu da necessidade de ajudá-las a se tornarem, de certo...