Park Jimin, 11/07/2020.
Desde que o conheci, me esqueci de como eu era antes de o conhecer. Dizem que ninguém morre completamente sozinho, mas eu nunca havia acreditado nisso.
O que era exatamente morrer sozinho? Morrer sem um parceiro? Sem parentes?
Sem amor?
Pouco me importava. Eu queria muito pouco de alguém, mas você só podia se doar por completo. Você costumava ser um pouco filho da puta, mas eu te amava.
Eu descobri te amar.
Não sei se em algum momento eu idealizei te perder, porque quando o tinha em meus braços era difícil atentar-me a coisas ruins. Você era bom quando não queria ser, e se enrolava quando queria. Não tinha maturidade o suficiente, e ficava infeliz quando de alguma forma eu tentava me soltar de você, alegando não ser justo.
Mas o que não era justo pra mim, era como parecíamos ser perfeitos um para o outro, de forma quase ímpia. O nosso sexo sempre fora uma bagunça, mas depois você implorava para que dormíssemos abraçados, sem conseguir parar de repetir sequer por um segundo, o quanto me amava. Gostava de como o meu corpo parecia pequeno embaixo do seu, e tinha alguma obsessão com relação a você nunca ter sido o meu primeiro.
Mas Jungkook... Você deveria saber que sempre fora o primeiro, na minha mente e coração.
O primeiro em tudo.
Dizem que quando nos apaixonamos, somos capazes de pensar vinte e quatro horas por dia na pessoa em questão. O problema é que essas horas nunca foram o suficiente para mim, já que você fazia questão de aparecer até em meus sonhos.
Nós éramos imaturos, dois jovens descobrindo o mundo. Você só queria beber e eu só queria me colocar de joelhos e beber um pouco de você. Você se sentia invencível, e eu só desejava poder continuar com o que tínhamos. Você me fodia tão bem, e eu só almejava tatuar um pouco de você em mim. Nós éramos como loucos.
Loucos um pelo outro, loucos pela vida.
Nunca acreditei em akai ito, alma gêmea ou destino. Mas você me despertava uma vontade de acreditar que todos as divindades estavam a favor de nós, quando se realizava ao me ver clamando por Deus ao te sentir dentro de mim. Quando me apresentou as coisas mais bonitas, e fez questão de se certificar que eu aprenderia. Quando se orgulhava de mim, e sussurava no meu ouvido que nós éramos incríveis juntos. Seus sonhos e ambições não eram grandes.
Mas os meus, eram apenas poder estar com você.
Fizemos lindas promessas de amor nas nossas conversas de travesseiro. Você me escutava falar por horas inteiras sobre algo que me incomodava, e fingia ter conhecimento sobre qualquer assunto, apenas para mostrar que podia ser bom o suficiente para mim. Você segurava a minha mão e acendia o meu cigarro, dedicava músicas para mim, e me buscava nos lugares em que achava perigoso eu frequentar. Você cuidou de mim, preparou o terreno para depois me destruir.
Disse que ficaria tudo bem, mas não ficou. Disse que ficaria aqui, mas foi embora.
Era muito difícil entender que eu havia ficado sem você. Acordar e não sentir sua respiração ricocheteando em meu pescoço, preparar uma só xícara de café. Assistir aos programas que antes assistíamos juntos, sair, sem pensar em levar você. Escutar que o meu cabelo preto combinava comigo, sabendo o quanto você amava o loiro, e dizia ser a cor com a qual eu nasci. Quando na hora de comprar cigarro eu quase pedia dois maços, lembrando que você nunca gostava de pegar um do meu. Quando ao deitar, eu olhava para o seu lado da cama e me perguntava porque o seu cheiro insistia em ficar ali.
E eu queria que ficasse ali. Fora uma das únicas coisas não materiais que me restaram de você.
Não sei quais foram suas intenções, e o que te levou a decidir me deixar. Sua mãe me odiava e seu pai não existia. Não havia uma única coisa que te prendesse aqui, somente eu. Uma coisa a qual eu ainda me convenço não ter sido tão importante, apesar de você sempre ter me dito o contrário. Não houveram explicações, não existiram bilhetes. Somente um dia qualquer o qual eu acordei, e não te encontrei mais aqui.
Eu deveria ter percebido. Deveria saber quando na noite anterior você repetia mais vezes do que o normal me amar, se preocupando unicamente em me satisfazer. Implorando a cada cinco minutos para que eu gemesse seu nome, e se certificando de que ninguém fazia eu me sentir bem como você. Quando não me deixou pregar os olhos, beijando desde o meu tornozelo até a ponta do meu nariz, alegando que nunca existiria alguém que te recebesse tão bem, quanto eu recebia.
Cuidando de mim como se fosse a última noite.
E de fato era.
Mas dizem que depois de um tempo você se acostuma. Na primeira semana foi impossível não checar seu número e suas redes sociais todos os dias, esperando por uma mísera atualização ou mensagem. Na segunda eu me encontrava desesperado chorando no portão da sua casa e sendo consolado pela sua mãe que mal me conhecia. Sua camiseta virou uniforme nas minhas idas a faculdade, você passou a ser o tópico principal das minhas conversas com o meu único amigo, seu nome ainda estava estampado nos meus cadernos e seu chaveiro ainda pendurado na chave da minha casa que antes poderia ter sido considerado nossa. Mas isso não chegou a acontecer.
Na segunda semana minhas idas ao bares tinham aumentado, e a fase da raiva havia finalmente chegado. Eu tinha raiva dos casais apaixonados que passavam na rua, raiva dos animes que você me apresentou, raiva de como os outros homens não conheciam meu corpo como você e infantilmente raiva da cor preta e da letra J. Descontei na minha arte, gritei com Taehyung, deixei de fazer as coisas que eu mais gostava e perdi a vontade de sair. Assisti a documentários sem nenhum pretexto, passei a me alimentar mal, comecei a fumar maconha e perdi a conta de quantos cigarros acendi pensando em você. Mudei o meu cheiro, troquei o estofado do sofá, apenas para não lembrar do quão bom era te sentir quando me pressionava ali, e me fazia esquecer de tudo por um momento.
Deixei de ser eu, porque não me lembrava mais como eu era antes de você.
Seguindo a lógica de que o tempo cura tudo, quase um ano depois junto com ele veio a conformidade. Me conformei que você não voltaria mais, bloqueei seu número e fiz questão de cancelar o canal que costumávamos assistir juntos. Bebi mais um pouco, dormi no chão antes de ligar no dia seguinte e pedir por outra cama, e joguei fora o seu perfume preferido, que ainda se encontrava no fundo do meu armário. Me lamentei, fiz sexo e dormi na maior parte do tempo. Seu bibelô preferido, um ratinho com uma cara pretensiosa que se encontrava na pia do meu banheiro, fora guardado na caixa junto com as coisas que você havia deixado para trás, agora jogadas no lixo, pelas mãos de Taehyung.
Não havia restado quase nada de você.
Apenas minha mente, a qual eu não podia enganar, mesmo que tentasse fielmente. Desejei ter as duas pílulas e ao invés de escolher a realidade, eu escolheria a ilusão.
Porque em ilusão, mesmo depois de tanto tempo eu não seria obrigado a pensar em você.
Para os filósofos pré-socráticos, a arché ou arqué, seria o elemento que deveria estar presente em todos os momentos da existência de todas as coisas.
E no meu mundo você era a minha arché, presente em todas as células do meu corpo, presente em meus atos e em todos os meus pensamentos. Grande parte do que eu sou e grande parte do que eu vou ser.
Quase tudo derivou de você.
Mas não existem pílulas. E a filosofia não apaga tudo o que você fez. Independente de tudo o que aconteceu e de tudo o que está por vir, eu me fiz uma última promessa, a qual não seria quebrada da mesma forma que você quebrou todas as outras.
Eu esqueceria você.

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Tudo e todas as fases • JIKOOK
FanfictionAonde eu passo por tudo e todas as fases, e todas elas parecem pertencer a você.