Perto Demais

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Olhou ao redor se sentindo exausto, contudo não havia muito o que olhar de qualquer maneira, era um conjugado igual a qualquer outro. Ele nunca teve paciência de organizar o cubículo. A louça na pilha parecia esquecida ali há dias, caixas de pizza e sanduíches de fast food se espalhavam no chão em meio às revistas de histórias em quadrinho. A velha geladeira, que poderia ter pertencido a sua avó, mas havia sido doada pelos colegas do departamento há anos, era pequena e enferrujada emitindo um barulho constante, além dela, não havia outros móveis no lugar apertado. A porta do banheiro, que um dia deveria ter sido branca, estava fechada.

O ar frio do fim da madrugada entrava pela janela aberta. Do lado de fora, os primeiros raios de sol surgiam entre os prédios anunciando o início de um novo dia. Olhou para fora, mas não era uma vista bonita. Estavam no 23° andar do bloco 5 e esse não era o último andar, nem mesmo o último bloco daquele conglomerado.

O condomínio central, mais conhecido como Panela de Pressão, era um grande amontoado de pessoas e prédios no centro da capital. Ninguém tinha ideia de quantas pessoas viviam naquele lugar, que parecia uma verdadeira cidade alheia ao seu exterior. Ali se encontrava de tudo: estudantes vindos de outros estados para frequentarem as duas grandes universidades públicas da capital, prostitutas em busca de condições melhores, imigrantes perdidos naquela terra nova, famílias sem grandes condições em busca de acomodações baratas, aposentados sem nenhuma ocupação além de implicar com os vizinhos, drogados escondidos nos quartos escuros, traficantes orgulhosos de seus pequenos reinos, trabalhadores assalariados cansados pelas longas jornadas impostas, solteironas, professoras primárias, médicos decadentes e até mesmo policiais como ele.

Uma única lei imperava naquele lugar, independente de qualquer coisa: o Panela de Pressão era considerado um território neutro. Ninguém roubava ali. Ser pego roubando em algum dos vinte e tantos blocos era pedir para morrer antes de conseguir sair do conglomerado. Ninguém brigava ali. Não estou falando de brigas de socos, tapas e pontapés, apesar de que até mesmo esse tipo de conduta era considerada inapropriada, mas a lei valia mesmo para armas. Ameace ou tente usar uma arma ali dentro e você já era.

Ninguém sabia quem tinha criado essas leis ou como exatamente elas eram mantidas, mas qualquer um que se aventurasse entrar por aqueles portões de ferro, que circulavam o conglomerado, deveria conhecê-las e respeitá-las.

A polícia não se metia ali. Nem mesmo a máfia que divida a cidade se aventurava dentro daqueles portões, como foi dito, o Panela de Pressão era um território neutro, por isso não era difícil encontrar fugitivos e pessoas ameaçadas naquele lugar. Ninguém se importava com o que você era depois daqueles portões, contanto que você mantivesse a ordem ali dentro.

Matar também era extremamente proibido, afinal o Panela de Pressão era um condomínio familiar com crianças correndo em alguns blocos e bebês chorando. Cada bloco tinha sua própria história e ele era o único policial residente no bloco 5.

Bruce Dinoto, 30 anos, cerca de 1,85 m, cabelos negros curtos repicados no alto da cabeça, olhos num tom caramelo escuro, sobrancelhas grossas que lhe davam um ar de seriedade e constante irritação, que ele perdia no momento em que começava a rir ou contar alguma piada aleatória. Seus músculos eram construídos à base de uma rígida disciplina de exercícios diários todas as manhãs.

Trabalhava na Narcóticos há dez anos, logo depois de sair ainda garoto da academia. Sua família era respeitada na polícia. Seu pai havia sido um bom delegado, morto em serviço, e antes dele seu avô. Bruce queria crescer, assim como os homens antes dele. Sua mãe não morava na capital, tendo se mudado de volta para sua pequena cidade quando o pai faleceu. Mal a via ao longo dos anos. Sentia sua falta, tinha-a sempre em mente, mas a vida seguia o seu curso no dia a dia.

CloserWhere stories live. Discover now