Estranho se sentir fora do mundo, quero dizer. Por segundos, entende ?
Esse calafrio que percorre a ponta de meus dedos junto com o vento forte em meu rosto e os raios de sol ofuscando minha visão. A paisagem é de tirar o fôlego se é que posso dizer que é isso que me deixou assim.
O horizonte imenso cheio de montanhas e o céu azulado, tão azul quantos os olhos dela.
Óh bela dama tão serena quanto a noite
Seus lábios desenhados com um toque de rosa.O olhar tão fascinante quanto o brilho de uma estrela e cabelos como de lírio.
Sua imagem nua ao luar enfraquecem minha mente, procuro mais de você como se sua carne fosse meu prato principal. Sua pele suave e seus lábios macios onde me deleito com furor e desejo equilibradamente perdido.
Tudo o que me vem agora nesse breve momento são as cenas de flores, lágrimas de tristeza e arrependimento deslizando sobre seu rosto. Alguns parentes talvez, pessoas que tiveram um último contato.
O cheiro e o frescor dos campos de árvores e flores invadem o carro que se estica ao longo da estrada em alta velocidade. A cada curva acentuada o ar puro enche meus pulmões como involuntáriamente, já posso sentir o gosto de sangue em minha boca e meu corpo mole.
Cada piscada é um golpe ao volante tentado manter o carro em linha reta, me distraio varias vezes com o por do sol, os carros que passam por mim na mão oposta parecem os últimos a cada um.
Larissa o nome que meu coração pede ajuda e só o silêncio prevalece no momento. Penso que logo sentir saudade de casa é estranho pois, em momentos assim não nos sentimos desse planeta e a única parte que nos familiarizamos é com a natureza. Tão pura e misteriosa onde esconde sua beleza de forma simples e desponta grandeza em nossa existência.
O que eu chamaria de casa ?!
Acho que o céu, pois é onde repousam as estrelas mais brilhantes.Meu corpo já parara de mexer e nem eu havia percebido, meus pés gelados que alcançavam o pedal já não é mais útil.
O carro da um arranque que por sua vez abalando até mesmo sua estrutura, estralando até a última porca e parafuso, as rodas não parecem tocar no asfalto alaranjado da pista. E tudo me parece uma linha reta. Meu desejo por acelerar aumenta com o ronco que o motor da, sinto que já não me resta quase nada e é nesse exato momento que eu me encontro por todo esse tempo que estive perdido vagando no desconhecido do espaço, minha realidade e coração se entrelaçam de uma só vez, como se duas barras de ferro fossem dobradas juntas tão rápido que só restasse uma.
Confesso que nada é fácil, a vida é um grande quebra cabeça feito por Deus que a cada peça te leva pra um caminho diferente, e somos nós que escolhemos qual vamos pegar primeiro, que logo em seguida, Ele escolhe a que vira depôs da primeira.
Não parece tão justo, mais escolher sem saber o que virá em seguida é quase que nossa essência. Fazemos isso todos os dias e sempre passa desapercebido.
Agora me sinto tão perto de mim mesmo quanto Deus de sua própria criação. Sinto como se eu tivesse me descoberto. Sabendo exatamente o que eu sou e porque eu sou.
O mundo é cheio de respostas sem sentido, mas basta fazer a pergunta certa pra desvendarmos esse grande quebra cabeça de possibilidades.
Nesse momento não vejo mais nada ao meu derredor, me sinto leve como uma pena, como se o próprio tempo tivesse parado.
Meus instintos me dizem perigo, mais meus olhos cansados e mente vazia estão em paz com a canção que ouso ao longe, a canção que ela cantará amanhã.
Mal posso controlar meus lábios sussurrando a letra com a voz dela em minha mente, e então na última palavra. As coisas voltam a criar vida.
O carro girando a 5 metros de altura me lembraram a primeira e única vez que fui a um parque de diversões, mas meu sorriso de agora é de tristeza com um toque suave do destino, aceitar minha própria morte nunca foi tão fácil como agora, pois eu acolho ela como uma boa amiga.
Dentre minhas 7 vidas, posso dizer que a sétima foi sem sombra de dúvidas a mais real que já vivi em todo esse tempo.
Silêncio:... ao seguir de um estrondo violento de batida.
Um jovem ainda consciente agoniza retorcido com as ferragens, a chuva cai e mais um dia a jovem que acabara de entrar no emprego a poucos meses vai mais uma vez atender uma ocorrência de acidente.
Sons de sirene ao longe da estrada vão ficando cada vez próximos, a luz vermelha que até então era a única a iluminar o caminho marcado por marcas de pneus e estilhaços por todo lado.
A moça sem saber o que a aguardava olhava pelo vitro os vestígios que por si só já diziam tudo o que precisava entender sobre o acontecido. Não demora muito pra ambulância se aproximar do local cercado por pessoas e carros parados em meio a estrada, já era noite e a lua estava em sua fase minguante. As nuvens densas tampavam pouco a pouco seu brilhoA equipe de três pessoas saem com equipamentos e maca em mãos, as pessoas se afastam abrindo caminho, a jovem eufórica com pedaços do carro praticamente por todos os lados pensa brevemente que ali não restou nada além de escombros. Mas, sua companheira a chama do outro lado do carro e grita
—TEM ALGUÉM !
-Precisamos ser rápidos.Eles se apressam e tentam alcançar o rapaz dentro das ferragens, mas não dão conta, pois a única que caiba lá dentro era a jovem.
Sem precisar que digam nada ela se agacha rastejando retira o painel que estava atrapalhando a visão dos paramédicos.Ao ver o rosto do jovem ela suspira, seu corpo se impulsiona para dentro do carro mesmo que a força ela entra sem muitas dificuldades, ela medindo os batimentos do jovem grita para que chamem os bombeiros, ela começa a fazer os procedimentos de reanimação, tentando mantê-lo acordado até sua retirada das ferragens.
Um zunido abafado retardava minha audição, todos falavam tão baixo que eu não entendia uma palavra se quer, tento respirar mais meus pulmões se esvaziam sozinhos, é inevitável não me engasgar com o sangue que sobe em minha garganta, tentando abrir os olhos usando as últimas forças que me restavam vi seu rosto pela primeira vez e estiquei a mão com os dedos retorcidos em sinal de desespero por tela em meus braços, quero dizer eu tinha que alcançá-la.
Foi quando senti meu corpo formigando e a dor crescente ia tomando conta do meu subconsciente ao ponto de eu querer desmaiar, mas resisti fortemente.
Só pra vela, eu preciso vê-la.Meus olhos já não aguentavam ficar abertos, minha respiração pesada até
não ter força pra puxar o ar novamente.
E então dou meu último suspiro. Ela segurava minha mão como se estivesse com saudade e medo. Eu tentei fazer o mesmo mas com o coração livre de arrependimentos..Algumas horas depois conseguimos tirar a vítima de dentro do carro com a ajuda dos bombeiros, mas infelizmente ele veio a óbito a minutos depois da equipe de resgate chegar ao local. A jovem Larissa esperou a chegada do IML, ela diz não conhecer o rapaz mas, chorou ao segura-lo nos braços
em seus últimos segundos de
vida. Ao chegar a perícia ela da um beijo na testa do rapaz e olha para o céu todo estrelado naquela madrugada. Talvez o dia mais estrelado na história de Larissa.