O Complicado Início de Uma Nova Vida

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Pego um dos convites para academia coreana e a chave do apartamento sem que Andy acorde. Saindo de lá e subo no primeiro ônibus para minha casa. Essa hora da manhã minha mãe já deve estar em seu plantão como enfermeira. Assim que chego escrevo uma breve carta para avisá-la de minha decisão e futuro paradeiro.

"Mãezinha, fico feliz por estar conseguindo superar tudo tão bem... Gostaria de ser mais parecida com a senhora, mas não sou e me recuso a ser como papai.

Por este motivo estou tomando a drástica decisão de me mudar para Ásia, não se preocupe vou para cumprir mais uma bolsa de estudo. Não estou fugindo, mas sim tentando me encontrar.

Já estou com saudades.

Eu te amo. ♡"

Após tomar um merecido banho faço minha pequena mala o mais rápido possível. Chegando ao aeroporto, rapidamente pego o voo, após resolver a compra da passagem de última hora com muitas conexões, penso nos 90 dias que tenho no país para conseguir um visto. Por minhas contas vou chegar muito tempo antes de se iniciar as aulas de dança.

Em cada escala que faço da infinita viagem tento resolver pelo meu celular algo as presas. Logo encontro uma pensão para me instalar em Seul, especificamente em Hongdae, que fica próximo a academia de dança, para a minha sorte.

Ao chegar em Seul fico hipnotizada com a beleza daquele lugar, pego um táxi que me leva até a dita pensão, e ao descer do carro fico um longo tempo presa na movimentação de pessoas naquela rua. Assim que adentro o estabelecimento tenho um pouco de dificuldade ao explicar em inglês para a dona do local que vim para me instalar, mas depois de alguns minutos ela me acompanha até ao pequeno quarto com uma micro cozinha improvisada e logo sinto falta de uma cama no cômodo ela me aponta para alguns colchonetes e cobertores encostados na parede e se retira. O cansaço da longa viagem unidos com o jet lag e as milhares de ligações de minha mãe me fazem perder toda a primeira semana.

Quebra de tempo .

Um mês e duas semanas depois ...

Os dias se passam em um piscar de olhos, e a busca constante por um emprego é em vão, o que dificulta mais a conquistar um visto de trabalho. Todo o dinheiro que eu tinha chega perto de seu fim, me sobrando apenas U$ 50,00 (americanos). Esse é meu fim neste país e para piorar quase todos os dias eu passava mal pela comida muito apimentada ou pela fome por não encontrar nenhuma opção vegana.

Como sou patética... No calor do momento mando uma mensagem para o meu pai pedindo a ajuda financeira que tinha me prometido, assim que minhas mensagens foram entregues são visualizadas, mas não recebo resposta e logo após o celular descarrega.

Minhas aulas de dança nem começaram e já estou derrotada, condenada a voltar para o Brasil humilhada. Já que isso era inevitável, faço um acordo comigo mesma para que o restante do dinheiro fosse gasto com um pouco de diversão. Assim que a noite caí visto minhas únicas peças de roupa limpa (um vestido de cetim preto que eu mesma tinha feito e minhas meias 7/8 para tentar livrar um pouco minhas pernas do frio). Entro na fila de um clube enfrente a pensão, não demora muito e o segurança ao ver minhas vestes curtas em meio ao frio de 5°c , libera a minha entrada. A falta de agasalhos em minha mala me ajuda dessa vez.

Ao entrar na balada sou atormentada pela tontura provocada pela minha fome, isso me faz encostar no balcão de bebidas para recuperar o equilíbrio. Eu encaro as pessoas ao meu redor dançando em grupos, o que destaca aos meus olhos é um sujeito com máscara cirúrgica preta , óculos escuros e capuz de casaco, escoltado por alguns seguranças pelo que me parece. Apenas sua cabeça e suas mãos balançavam no ritmo da música enquanto seus pés permaneciam parados. Solto pequenos risos sozinha imaginando que tipo de pessoa estranha seria aquela, mas sou interrompida pela bartender (estrangeira) que me aborda em inglês.

Olhando a Vida nos OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora