"A primeira vez"

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A manhã de sábado, era quente e aconchegante para a maioria da vizinhança mais para Cathe, seria o verdadeiro apavoramento. Aos sábados sua mãe trabalharia e ela, ficava com o monstro chamado de pai. Mal saberia que dentre todos os sábados, aquele seria o pior. Os raios preguiçosos adentravam pela janela e batiam de encontro, com os olhos castanhos de Cathe, se espreguiçando, iria se levantar quando a porta foi aberta com brutalidade. O homem alto e moreno, de pele mulata foi sem esculpo entrando o aspirador em mãos, o socando contra suas caixas organizadoras de escola, brinquedos e sapatos. Com a voz grossa e ríspida, ele gritava olhando a ela com tamanho ódio.

-Você não faz nada! Só dorme e dorme! Uma imprestavel mesmo, vagabunda. E nem pense em chorar de novo! Nem pense.

Ele soltou o aspirador, envolvendo as mãos em redor dos braços da garota pequena na qual teria seus 11 anos. Lançando-a no chão, tirando o chinelo em mãos e sem motivo algum, lá estava o bruto homem espancando a pobre coitada as 08:30 da manhã. Após deixar ela largada no chão, com diversos hematomas, antes de sair exclamou num tom de ameaça e superioridade.

-Não conte a sua mãe, ou já sabe.

Tentou se reerguer com o corpo franzino, lentamente ela foi guardando tudo em seu devido lugar. Os olhos castanhos mórbidos com olheiras fundas, escorriam lágrimas de tremenda agonia e tristeza, uma pré-adolescente que teve sua pureza, amor e alegria roubadas por um cômodo gélido, uma casa doentia e carregada em desamor. Assim se inicia a caminhada de gemidos e dor, de nossa pequena Boneca de porcelana.

A boneca de porcelana Where stories live. Discover now