Capítulo Sessenta e Quatro.

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Boa leitura!

~•~

Vinte e quatro horas, um dia inteiro, esse é o tempo que estou nessa maternidade e também é a quantidade de horas que minha filha veio ao mundo.

Não sei se ser mãe me deixou mais sensível ou trouxe à tona uma sensibilidade já existente ou se ainda estou sob influência dos hormônios. A única coisa que sei é que perdi as contas de quantas vezes chorei. Derramei lágrimas quando Nashi tomou as vacinas, chorei quando me disseram que não seria eu a dar o primeiro banho nela e mais lágrimas desceram quando soube que usariam apenas lenços umedecidos para limpá-la. Quando minha bebê chorou na hora que a enfermeira passou o óleo e depois o pente fino, eu quase entrei naquela sala e bati na mulher. Sim, sei que é um procedimento necessário e é preciso tirar os restos da placenta de seu cabelinho, mas minha bebê estava chorando tanto. Me julguem.

Natsu tinha uma paciência admirável, pois se fosse eu no seu lugar, teria me mandado tomar no cu há muito tempo. Sério. Eu tinha consciência de que estava chata. Pensando bem, depois de ficar 9 meses passando mal, sentindo dores e ainda passar mais 8 horas sofrendo em trabalho de parto e logo em seguida precisar tirar força de algum lugar para parir, eu tinha todo o direito de estar insuportável.

Mas não nesse momento. 

Meu anjinho está nos meus braços, mamando como se não houvesse amanhã. Aliás, ela é muito esfomeada. Falando nisso, preciso lembrar que dá próxima vez, é o seio direito.

Ouvi o barulho da porta e vi meu amado, e paciente, marido passando por ela. Natsu estava nitidamente cansado, mas fingia que não. Minha mãe se ofereceu para ficar de acompanhante e ele poderia descansar, mas o teimoso não aceitou. Já falei que era melhor aceitar a oferta e ir, pois eu estava bem assistida aqui, tinha todo o apoio da equipe médica.

Aproximou-se da cama e subiu a mão por minha perna, por cima da coberta.

— Já comeu alguma coisa? – perguntei.

— Sim, acabei de voltar do refeitório. – olhou os potinhos ainda fechados que a copeira deixou. — E você?

Ele tinha um claro olhar de reprovação e eu revirei os olhos.

— Eu vou comer, só não tem como agora. – fiz um gesto para que ele entendesse que eu não pude, pois estava amamentando. — Você pode pegar água 'pra mim? 

— Não tem canudo. – procurou e eu disse que não precisava.

Estava bebendo tranquilamente quando engasguei e comecei a tossir. Na mesma hora, o choro de susto começou. Precisava me acalmar primeiro antes de me concentrar nela. Assim que parei de tossir, voltei a amamentá-la e ele pegou a toalhinha para passar no rostinho. Ela me encarava com se estivesse me repreendendo por atrapalhá-la. Observei os olhinhos fecharem lentamente.

Olhei para Natsu e fiz sinal de joinha com o polegar, o que lhe arrancou uma risada baixa. Ele tirou o celular do bolso, indicando que estava vibrando, e saiu para atender. Não muito depois, voltou.

— Era a Cana. Ela disse que viria hoje com as meninas, mas decidiram esperar uns 15 dias. Falou que esse tempo era nosso e devemos nos acostumar primeiro.

— Ah, que legal da parte delas. – fiquei feliz, pois ainda me sentia cansada e dolorida.

Levanto apenas para tomar banho e já é um sacrifício. A recuperação do parto normal é mais rápida que no caso da cesária, mas ainda precisa de um tempo.

— Falei com meus pais e os seus. – claro que esse pensamento não se aplica a mamãe e papai. — Eles não poderão vir, pois estão doentes. Parece infecção alimentar.

— Os quatro? Será alguma virose? – perguntei preocupada.

— Sim e não. – franzi as sobrancelhas. — Eles foram à restaurante, comemorar o nascimento. Comeram massa, tomaram vinho e passaram mal mais tarde. Chegaram a ir à emergência, foram medicados e já estão em casa. Parece que foi mesmo a comida de ontem e ninguém percebeu que 'tava ruim, pois a bebida mascarou.

— Então como sabem que foi a comida?

— Deu no jornal que o restaurante foi interditado pela vigilância sanitária.

— Nossa, que loucura.

— Pois é.

Nossa, ainda me custa acreditar que minha mãe, que é chata com comida, não percebeu que comia algo passado.

— Ela é tão gulosa. – segurou a mãozinha que estava no meu seio.

— Parece você. – sorri para ela.

— Ai, que horror, Luce. – o encarei sem entender. — Você quer mesmo manchar essa imagem tão bonita de nossa filha se alimentando? 

Levou um tempo, mas eu entendi.

— Deixa de ser safado, Natsu. Eu 'tô me referindo a você também ser esfomeado assim. Idiota.

— Ah, entendi. – riu.

Eu não consegui manter a pose de brava e acabei rindo, o que assustou a menina, a fazendo largar o peito.

Nashi franziu o cenho e já ia abrir o berreiro.

— Shiiii. – o coloquei de volta e sua expressão serena voltou.

Depois de alguns minutos, ela estava satisfeita e eu a posicionei para arrotar, dando leves tapinhas em suas costas. Logo Nashi dormiu e Natsu a colocou no berço que ficava ao lado da cama.

— Ela é tão pequena. Tão frágil. – falou passando a mão com cuidado na cabecinha dela. — Tenho medo quando a pego no colo. – passou a mão para a barriguinha. — Me sinto um bruto e acho que vou quebrá-la. – riu e virou para mim. — Bobo, né?

Neguei e estiquei o braço para que ele pegasse minha mão. Me ajeitei mais para o outro lado e o rosado sentou no espaço que deixei.

— Eu também tenho esses e outros. – entrelacei nossos dedos. — Na hora de amamentar, por exemplo, meus medos dobram. Nós somos pais de primeira viagem, normal termos 1 ou 100 medos. – sorri.

Natsu levou a outra mão ao meu rosto e fez carinho com o polegar. Fechei os olhos para aproveitar aquele contato que era muito bem-vindo. Tive uma grata surpresa quando seus lábios tocaram os meus. Um selinho, dois, três e então o beijo tomou forma. Através dele, transmitimos nossa felicidade. Era nosso primeiro beijo de verdade depois do parto. Nos separamos com selinhos e ele encostou sua testa na minha.

— Sabe, você me fez um homem muito feliz naquele altar. – seus polegares voltaram a fazer carinho nas minhas bochechas. — Agora você me fez um homem duplamente feliz. Eu tenho uma esposa maravilhosa e uma filha linda e saudável. Espero que não seja possível morrer de felicidade, pois eu não quero perder nenhum segundo com vocês, as duas mulheres da minha vida. – sorriu e seus lábios novamente tocaram os meus.

Eu estava chorando e não por culpa de uma sensibilidade adquirida, descoberta ou hormônios. Chorava porque amava tanto a esse homem. Natsu era pessoa que tive a sorte de encontrar e a felicidade de amar.

~•~

💕

Apenas Um Mês... ou Talvez Mais! [Finalizada]Onde histórias criam vida. Descubra agora