Histórias Bizarras onde o Protagonista Morre no Final

Nós somos o que somos

Eu me encontrei.
Quem me escolheu? Lembro-me de quando peguei aquela tocha ardente e entreguei para aquele homem. Ele gostava de machucar suas mulheres com ossos de animais. Após isso, eu lhe dei algo mais perverso. Ele queimou suas 4 mulheres e 3 filhos 2 dias depois. Era tarde demais. Aquela pequena comunidade já estava manuseando o fogo. Ele? Virou seu líder. Eu? Seu deus.
Fui chamado de muitos nomes. Prometeu, Quetzalcoatl, Kukulkan, Thoth, Lúcifer. Eu fui aquele que lhes deu o fogo e vocês se queimaram. Lhes dei a fala e mentiram uns sobre os outros. O metal? Usaram para se cobrir de feridas. Eu devia ter aprendido com o fogo. Eu fiz tudo aquilo que não devia. Achei que era um deus por possuir todo o conhecimento que viria após mim. Tudo aquilo que seria descoberto estava dentro de minha mente. Eu fui o primeiro. Seus deuses nunca vieram. Alguns entenderam, me chamaram de serpente emplumada. Outros mudaram a história e meu fígado dói ao me lembrar disso. Outros me odiaram e me tornei o traidor divino, aquele que tentou a humanidade: a serpente que perdeu suas plumas. Alexandria era majestosa. Sua biblioteca possuía tanto mas ao mesmo tempo tão pouco. Eu os devolvi certos conhecimentos esquecidos. Me lembro do que fiz em Qumran.
A mulher que chamaram de Atena fora minha amante. Salomão aprendeu muito comigo em nossas conversas noturnas. Eu amei tantos de nós. Tantos se foram e me lembro de cada um. Afinal, é minha maldição: eu sempre me lembro. Eu sou o a estrela da manhã. Aquele que trouxe a luz em momentos de escuridão. Iluminismo, Revolução Francesa, A Queda de um Mito.
Eu descobri. Esse é o motivo pelo qual te procurei. A existência não funciona como imaginávamos. Eu sei tudo aquilo que foi escrito ou descoberto ao longo de centenas de milhares de anos pois eu descobri tudo isso. Eu sou a primeira e a segunda pessoa do singular. Eu não fui o primeiro. Eu sou o último.
- Tanto conhecimento. Isso faz de você um deus. Estou certo?
-Sim, sei tanto que nem entendo a minha própria natureza. Porém, há somente uma coisa que eu não sei quando, mas sinto que finalmente chegará para mim em breve...
- E o que seria?
- A morte.
- Deuses não podem morrer.
- Eu não sou um deus. Me tornei algo diferente. Algo maior e mais perigoso...
- E quem você acha que se tornou?
- Eu me tornei homem.