Os céus choravam.
Sua vida havia virado de cabeça para baixo apenas algumas horas antes, a jovem não tinha ideia para onde ir, uma vez que, o único local que podia chamar de lar estava de portas fechadas para ela.
A chuva escorria por seu corpo, molhando seus cabelos e logo encharcando suas roupas que a protegiam contra o frio, tornando-as pesadas, logo, seriam apenas camadas extras pesando contra sua pele, sem utilidade alguma.
Os acontecimentos das últimas três horas repassam em sua mente a cada minuto, ela não havia derramado uma lágrima, mas gostaria. Seria melhor que vivenciar o turbilhão de sentimentos que a assolava, fazia com que andasse em uma corda bamba pendendo para a insanidade. Suas mãos tremiam como varetas verdes sob o vento, não era apenas o frio que contribua para isso, chicotadas atingiam sua cabeça em intervalos de segundos, e ela se obrigou a parar deixando com que as gotas de chuva tocassem em sua pele mais agressivamente para respirar fundo contando lentamente até o número dez. Durante toda sua vida nos momentos em que ela sentia que estava perdendo o controle, Melian parava e fechava seus olhos. Tentando reconciliar sua respiração com seus batimentos cardíacos ela contou e recontou até sentir-se no controle de sua própria via.
Não havia a quem recorrer, não havia amigos, pai ou mãe para disponibilizar seu colo para consolo, para passar a mão em seus cabelos molhados enquanto ela chora e dizer que tudo pode estar indo de mal a pior, mas que a fase boa chegará em breve. Sua família havia se tornando uma grande incógnita enquanto crescia, a ideia de que eles não a ajudariam nem mesmo se ela estivesse em grandes apuros, como já acontecera, permanecia em sua mente. Apareceriam quando o corpo já estivesse sendo velado, assim como no funeral de sua mãe.
Ela não os odiava, muito menos buscava por sua constante aprovação. Se devia algo para alguém, com certeza seria para si mesmo. Melian se amaldiçoo por querer por alguns segundos que a procurassem preocupados com sua saúde e bem-estar. Sua avó a havia posto na rua, pois então, com quem mais poderia contar, senão consigo mesma?Steven é acordado de um sono profundo pelas chamadas insistentes de seu celular, ele rezava para noites de paz, mais seu celular insistia em atormenta-lo. Ao olhar o indicador de chamadas percebe a gravidade do assunto apenas pelo nome do contato.
Era seu irmão mais novo, Guido, havia alguns anos que não se falavam.
"Fale" – Diz Steven sem rodeios.
"Mamãe colocou a filha de Leia para fora de casa" – Diz Guido do outro lado da linha.
Ele arregala os olhos e salta da cama rapidamente vestindo uma calça e pegando uma camisa social que jaz pendurada na cadeira da mesa de jantar, procura pelas chaves do carro e a encontra nos bolsos de uma outra calça jogada sob a cabeceira da cama. Steven sai em alta velocidade pelas ruas de Manchester, mas isso não era um problema para pessoas como ele, porque a lei é apenas questão de perspectiva no mundo em que vive.