Pluto

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Começo, seja lá o que isso for, com agradecimentos significativos a Clyde Tombaugh, este que já está a sete palmos da terra há tanto tempo que seus ossos podem ter sumido, ou não, não sei quanto tempo leva para ossos humanos entrarem em decomposição, mas acredito que não seja tão rápido quando os globos oculares e a pele. Sem essa figura tão essencial para o meu interesse no espaço, - só a partir de 1930 - nós não estaríamos aqui, não é mesmo?

Mesmo que Plutão tenha sido descoberto antes do meu avô nascer, ele tem seu charme, e tem também um admirador um tanto quanto frustrado por ter apenas seus dez anos de idade quando 134340 deixou de ser um planeta e se tornou um planeta anão. Aquilo foi suficiente para deixar uma criança, que sonhava em morar no planeta com média de -229 ºC, completamente zangada, se perguntando por que as pessoas podiam mudar o nome de seu planeta de maneira tão simples.

Depois de crescer e finalmente entender que eu não posso chegar no Cinturão de Kuiper no foguete de madeira que o papai mandou fazerem para mim, a minha relação com Plutão passou a ser mais filosófica, do que um desejo constante de querer pisar nele ou trazer amostras das rochas de sua composição para casa.

Não parece injusto ser considerado menos que os outros apenas por ser menor? Esquecido por ser um corpo celeste tão pequeno e distante que coisas sobre ele são difíceis de se descobrir, o que é realmente doloroso para mim. Mas não é mais doloroso do que me sentir sendo Plutão em pessoa, orbitando em volta dos meus pais e conhecidos sem sequer fazer a diferença, sendo considerado pouco por não ser popular ou igual a todos os outros.

Falando assim parece besteira ou drama, já que isso é uma coisa presente na vida de adultos jovens como eu, que ainda não sabem muito sobre a vida e se questionam todos os dias se estão vivendo como se deve. Não saber lidar com as ambiguidades e paradoxos da vida por falta de experiência mundana sempre foi um problema para mim, e eu deveria ter me importado mais com isso quando, na adolescência, minha mãe me cobrava por viver no mundo da Lua. Mas eu não gosto da Lua, prefiro Plutão, por mais que ele tenha, aproximadamente, um quinto da massa do satélite natural da terra e um terço de seu volume, o que, realmente o faz pequeno, mas não menos relevante, ele consegue ser exatamente como eu.

E depois de conversar com algumas pessoas, observei que é inerente à condição humana a irremediável angústia de não saber se a vida está sendo realmente vivida ou não, o que me faz perder horas e horas pensando o que seria viver de verdade.

Quer dizer, eu tenho uma vida relativamente feliz. Faculdade de fotografia em andamento, amigos, estabilidade financeira e, acima de tudo, um amor arrebatador pelo meu estágio como fotógrafo numa grife coreana de roupas, e como a mulher maluca - que muitos dizem ser genial - gosta da natureza e faz roupas baseadas na sua visão artística da mesma, eu só fotografo  ao ar livre, o que é, definitivamente, a melhor coisa que poderia ter acontecido, pois eu não nasci para ficar preso em um estúdio.

Depois de toda essa declaração de amor e comparação à Plutão, uma breve descrição da minha vida consideravelmente feliz e o distraído, vulgo minha pessoa, fugindo do assunto muitas vezes, por que eu, Jeon JungKook, me sinto tão vazio?

— Porque você está a muito tempo sem transar, que pergunta idiota. Isso é acúmulo de tesão e você está confundindo com tristeza — Taehyung mordeu o sanduíche que havia acabado de comprar na lanchonete da faculdade, dando sua opinião um tanto quanto inusitada após ouvir o desabafo do amigo de infância.

— Você sabia que a existência humana não gira em torno de sexo?! — JungKook bufou e mexeu seu Cup Noodles, que havia feito do lado de fora do prédio, graças a uma máquina que sempre salvava sua vida, liberando alguns mililitros de água quente depois de receber alguns wones.

Vestígios de 134340 • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora