O PESADELO

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No relógio de cabeceira marcavam 02:40h da madrugada quando, depois de horas e horas de um sono ininterrupto, nem mesmo por devaneios em sonhos rotineiros, imagens começam a projetar-se em um mundo paralelo entre um início de sonho e realidade, na cabeça de Alberto, até então repousada sobre o travesseiro em sua cama. Era quase que um milagre todo aquele tempo dormindo sem que o pesadelo que lhe acolhia todas as noites viesse entrelaçar-lhe como de costume.
De fato, essas imagens já se mostravam como a chegada dos seus medos noturnos. No início via-se dois homens, um trajando uma camisa azul escuro, jeans e um tênis meio surrado. O outro, vestindo uma camiseta laranja que, devido a sua magreza corporal, lhes deixava com a aparência de um garoto com não mais de 16 anos de idade. Ambas as figuras, não permitiam que seus rostos fossem visualizados, escondendo-os com as mãos. Estes detalhes já eram sabidos por Alberto devido a quantidade de vezes que fora irresoluto com este sonho, acordando no meio da noite apavorado, com o corpo em uma temperatura elevada e suando muito.
Após poucos segundos a imagem dos dois homens foi se desfazendo e em seu lugar, se construía um cenário mórbido. Este, representava-se por um local pouco iluminado, submerso em um frio intrigante. Alberto sabia o que estava por vir, e em sua cama, seu corpo começava a se contorcer com seu consciente implorando para acordar daquela tortura que posteriormente vinha a abrolhar nas imagens de seu pesadelo. Contudo, era como se o frio dominasse sua alma impedindo que ele voltasse ao mundo real. Aprisionando-lhe naquele horrível lugar, dentro de sua própria mente, e obrigando-o a reviver tudo aquilo que ele tanto queria apagar da memória.
Aos poucos a cena foi ganhando personagens novamente. Dessa vez Alberto encontrava-se segurado por um homem forte que abraçava-o tentando anteparar sua fuga. O homem mostrava feições que se confundiam entre medo, ódio e desespero. Não obstante tentava controlar Alberto que se debatia com todas as forças para sair daquele abraço, voltando o olhar para um canto mais escuro. Ao perceber que suas tentativas de vencer o homem eram em vão, ele começa a chorar. Só que esse não era um choro normal. Vinha acompanhado de uma angustia tão forte que ele sabia que nunca mais conseguiria parar de chorar. A dor que ele sentia era indescritível, como se sua alma estivesse sendo sugada pelo frio que até o momento ainda se fazia presente.
Mais uma vez a cena se desfaz. Do corpo de Alberto em seu quarto, começam de seus olhos, escorrerem lágrimas. Porém o tão desejado despertar não acontece e o auge do pesadelo começa a se construir. O lugar parece ser o mesmo, só que dessa vez apenas Alberto está presente, pelo menos por enquanto. Com os mesmos sentimentos, e agora já livre do abraço do homem, ele se sente atraído a ir até o canto escuro que tanto olhava. Começa andar com passos curtos e demorados e após poucos desses, para abruptamente. Seu consciente se faz presente dentro do terrível sonho, e ele sabe que se for até aquele local um pedaço de sua alma vai ficar lá, assim como acontecera tantas e tantas vezes. Mas o chamado é mais forte e suas pernas começam a se mover contra a sua vontade, e mais uma vez ele começa a chorar, só que agora, devido a sua repulsa pelo que está prestes a ver.
Após vários passos forçados, Alberto chega até o canto, agora não tão escuro devido a diminuição da distância a qual se encontrava anteriormente. Seu corpo não resiste, cai ao chão, e o mesmo acontece na vida real onde por sua vez ele cai da cama ainda sem consegui acordar. Parado do seu lado, está um corpo sem vida de uma bela mulher de longos cabelos negros. O vestido trajado por ela que um dia foi cinza, se encontra coberto de manchas vermelhas que logo percebe de onde surgiram. Do seu pescoço, sangue escorre de um profundo corte, feito talvez por uma adaga. Seus olhos continuam abertos, porém sem vida. Alberto sente os seus próprios queimarem ao escorrer lagrimas pelo seu rosto e se põe de joelhos baixando a cabeça para desviar olhar daquela imagem perturbante.
Ao levantar a cabeça logo em seguida, percebe que o corpo da mulher, poucos segundos atrás imóvel, começa a flutuar tomando uma postura reta, ficando assim de pé à sua frente. Um fino traço de esperança se constrói nos olhos de Alberto que sem pensar, abraça-a. A mulher, mesmo estando ali de pé, não demonstra características de uma pessoa viva. Ela o afasta com força e apontando para o grave ferimento no pescoço que lhe tirou a vida, diz a ele com uma voz doce e um pequeno sorriso no rosto:
- Olha só o que você fez!
Aquilo era demais para Alberto, seu corpo não aguentaria tanto sofrimento, tanta dor, tanta agonia. Aos poucos foi desfalecendo e, ao cair por uma segunda vez ao chão, sente sua mente sendo puxada novamente a realidade e finalmente acorda, no chão de seu quarto, exausto mental e fisicamente. Dessa vez o efeito do pesadelo tinha se amplificado, e ele ainda conseguia sentir traços da dor devastadora que ele sentira ao sonhar aquilo. Naquele momento, Alberto sentia que estava disposto a fazer qualquer coisa para que aquele pesadelo não lhe perturbasse mais. Não sabendo ele que o que estava para acontecer em sua vida, era muito mais do que ele esperava ao desejar isso.

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⏰ Última atualização: Apr 08, 2020 ⏰

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