Caminhando pro fim

Capítulo 2

  A caminhada até em casa é rápida, quando abro a porta noto o silêncio do lugar.

Meus pais ainda não devem ter chegado, minha mãe trabalha numa pequena lanchonete, não muito longe de casa e meu pai num escritório de advocacia, ele é um excelente advogado, mas não tem tanto reconhecimento assim, porém ganha muito bem.

  Não somos ricos, nem perto disso na verdade, mas levamos uma vida bem confortável.
Me dirijo para o banheiro onde tomo uma ducha rápida. No andar de baixo, procuro algo para fazer um pequeno jantar, quero comunicar a meus pais sobre a faculdade hoje e um jantar será uma boa oportunidade.
Peço a minha mãe pra comprar algumas coisas que estão faltando no mercado, e deixo tudo o mais adiantado possível. Aproveito o tempo  pra olhar o celular e responder uma mensagem da Renata. Conheci ela no último ano do colégio, por sermos vizinhas pegamos amizade muito rápido. Eu não a vejo a uns dias, por isso aproveito o momento pra contar a novidade, ela faz a maior festa e marcamos de fazer algo no fim de semana.
Continuo entretida no celular e algum tempo depois minha mãe chega em casa com sacolas na mão, ela deixa na cozinha e me avisa que vai tomar um banho.
Tendo tudo que preciso me concentro em terminar o jantar.
Meu pai chega em casa algumas horas mais tarde, tudo está pronto, e minha mãe e eu conversavamos na cozinha.
Ele nos cumprimenta e se dirige ao quarto, onde acredito que vá tomar o banho.
Minha mãe e eu aproveitamos pra ir organizando a mesa.
Quando meu pai volta, a mesa está posta ele se senta numa ponta, minha mãe ao lado dele e eu do outro lado.

- O cheiro está ótimo - comenta meu pai olhando o conteúdo das panelas.

- A Maya quem fez tudo querido - responde minha mãe.

- Se o gosto estiver tão bom quando o cheiro ela vai ocupar seu lugar na cozinha Amália - responde meu pai brincalhão.

- Eu não me importaria, nunca fui amante da cozinha - responde minha mãe no mesmo tom.

Eu me limito a acompanhar a interação deles em silêncio sorrindo para os comentários implicantes de meu pai.

- Bom, mas deixemos as brincadeiras de lado, eu estou realmente com fome, podemos comer logo? - pergunta meu pai ainda sorrindo.

- A menos que haja um motivo especial para esse jantar eu acho que não. - minha mãe responde me encarando em seguida me dando abertura para falar.

- Pai, mãe, eu gostaria de dar uma notícia- começo a falar e automaticamente me sinto tensa, meu coração bate desesperado, mesmo não havendo motivos para isso eu me sinto um pouco insegura.
Me forço a continuar assim que tenho a atenção deles.

- Bom, acho que finalmente me sinto pronta pra começar uma faculdade.
Meu pai abri um sorriso gigante em minha direção, mas minha mãe foi a primeira a se pronunciar.

- Filha! Eu estou tão feliz por você meu amor. - falou já se levantando e vindo em minha direção, me envolvendo num abraço.

- Estou orgulhoso de você Maya. - falou meu pai - Minha menina finalmente vai se tornar a mais nova advogada da família.

Ele levantou me dando um beijo carinhoso na testa.
Eu me forcei a dar um sorriso, enquanto ele voltava a se sentar juntamente com minha mãe. Começamos a comer, e durante todo o jantar, meus pais me perguntavam a respeito da faculdade e de como ficaria o trabalho, depois do interrogatório eles passaram a falar do trabalho e eu terminei de comer em silêncio.
Assim que terminou, meu pai elogiou a comida e volto a reforçar o quanto estava feliz pela minha escolha, ele falava animado da faculdade e isso era contagiante.
Enquanto meu pai se afastava em direção a sala, minha mãe começou a tirar a comida da mesa.
 
E eu? Continue parada no mesmo lugar, a felicidade do meu pai em acreditar que eu iria cursar advocacia, me deixou estática, mesmo não tendo certeza ainda sobre o que eu queria, vê meu pai tão feliz me fez querer tentar, por ele eu precisava tentar.
Minha mãe percebendo meu silêncio, questiona.
- Filha, tá tudo bem? .
- Tá sim mãe. - respondo olhando pra ela - Só pensando em como vai ser de agora em diante.
- Você ficou quieta depois do que seu pai falou - pontuou ela, sempre muito observadora.
- Gosto de vê meu pai feliz, nada mais - respondo sorrindo em sua direção - Precisa de ajuda? - pergunto cortando o assunto por fim.
- Sim, leve isso pra cozinha - responde... Eu ajudo minha mãe com toda a louça suja e depois subo até meu quarto.  Ajeito minha roupa para amanhã e aproveito para arrumar meu quarto, não que esteja uma bagunça, mas precisava me distrair um pouco.
Mais tarde, já na minha cama, me lembro da conversa com Gustavo, me sinto um pouco culpada, mas me forço a lembrar da felicidade do meu pai com a notícia e apenas ignoro o resto. Pego o celular para falar com Clarisse, a dona da biblioteca onde trabalho, eu preciso conversar com ela a respeito dos meus horários já que agora não terei todo o tempo livre como antes.                 
Tento ligar duas vezes mas cai na caixa postal, faço uma nota mental para passar na casa dela amanhã.

Ainda pensando em todas as mudanças que terei de fazer na minha vida de hoje em diante, adormeço.