Capítulo XXXIII ● Youngjae

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— O acampamento anual dos alunos do ensino médio ocorrerá no próximo final de semana, por favor alunos, não esqueçam de trazer a autorização assinada pelos pais ou responsáveis até o fim da aula da sexta-feira. Entreguem as autorizações diretamente para mim, vou ser o professor responsável por essa turma. — Professor Kim avisa, não realmente animado com a notícia, mas também não desanimado, ele só... avisa. Não que eu o julgue, quer dizer, é a última aula de uma segunda feira, tudo o que eu mais quero é ir pra casa, dormir pelo resto do dia, ou apenas ir pra casa mesmo, então entendo que ele também queira isso. — Nós sairemos do colégio no sábado e retornaremos no outro sábado. Alguma pergunta?

— Eu tenho. — Bambam fala, sentado bem na mesa que fica atrás de mim, Yugyeom está na mesa ao meu lado, ele é meu colega de mesa. Não sei como, mas meus pais já tinham arrumado tudo na escola antes mesmo do BamBam chegar na Coréia, tudo parecia apenas estar esperando por ele, o que é engraçado, mas não tanto assim, faz com que eu sinta que sempre sou o último a saber das coisas.

— Pode perguntar.

— Quanto tempo a gente vai ficar no meio do mato? — O tom que meu primo usa é engraçado, o que faz toda a turma rir. Esse é o dom dele, sempre se sobressair e brilhar, ser popular é a sina desse tailandês. — E tem Wi-fi lá?

— Bem, como você mesmo disse, é no meio do mato, então não, não tem wi-fi. — Um coro de suspiros, xingamentos e choramingos ecoam por toda a sala. Adolescente do século XXI e seus problemas de garota branca, me sinto meio deslocado quando percebo que não sou nada parecido com eles, eu quase não uso o celular. — E nós ficaremos lá por uma semana.

— Vai ser tipo Camp Rock? — Uma voz vinda lá de trás da sala pergunta, mas não sei distinguir a quem ela pertence, a única coisa que eu sei é que ela faz com que todos riam também.

— Sim, mas sem as partes músicais, a menos que vocês queiram cantar, o que não tem problema. — Sorrio com isso, o professor é legal, ele nos trata sim como alunos, mas também nos trata como amigos. Ele não impõe seu poder para cima da turma, ele apenas age gentilmente e faz com que nós o respeitemos por vontade própria. É assim que você sabe quando um professor exerce a profissão porque quer e não apenas por conveniência.

— E eu achando que ia ser mais na vibes largados e pelados, já estava pensando em começar a treinar a técnica de ascender uma fogueira usando duas pedras. — Yugyeom comenta do meu lado e dessa vez até eu sou obrigado a rir. O professor já não parece mais estar com tanta pressa para ir embora, assim como também parece que os alunos não querem mais ir pra casa. Pelo menos é como eu me sinto.

— Vai ter um dia no meio da semana em que vamos acampar de verdade, com barracas e sacos de dormir, como você mesmo disse; "mais na vibe do largados e pelados". Vai ser apenas uma noite, mas vai acontecer. — Todo mundo faz um barulho de suspresa com a boca, não sei se de uma forma boa ou ruim. Pra mim, isso é bem ruim, essa coisa de acampar na mata usando apenas barracas e sacos de dormir e coisa e tal. Quado eu tinha 5 anos, perguntei ao meu pai se poderíamos acampar no verão, porque eu ouvi isso em um filme e quis imitar. Ele disse que sim, que nós poderíamos, mas bem no dia em que iamos sair rumo ao lugar, uma chuva absurdamente forte começou a cair e durou pelo resto da semana, o que adiou nossos planos definitivamente.

Me lembro de ficar triste e me lembro de ouvir minha mãe e meu pai discutindo sobre o que fazer, e no fim, nós todos acampamos na sala de estar da casa, com barraca e tudo, mas no meio da madrugada eu levantei e fui dormir no meu quarto, porque naquele dia eu aprendi que dormir em barracas não é fácil, é duro e doi, e por isso não estou tão animado para repetir a dose, justamente porque eu sei como é. E olha que eu acampei apenas na sala da minha casa, imagina como deve ser no meio do mato? um horror.

— A parte do pelados vai acontecer também? — Essa voz eu conheço muito bem, é de um colega meu, Johnny, ele é americano ou coisa do tipo, e é minha dupla na aula de matemática avançada. Ele adora fazer esse tipo de comentário, assim como também sempre acaba apanhando do namorado dele, o Ten. Eles são boas pessoas, gosto dos dois.

— Cosplay de Adão e Eva, só que com crianças cegas. — Bambam comenta e eu quase me viro para dar um tapa nele, de brincadeira é claro. Todo o assunto estava sendo tratado de forma leve, como se estivessemos mesmo apenas planejando uma viagem entre família no fim do ano, mas aqui é mais como amigos planejando uma viagem entre amigos e professores.

— E eu pensando que os comentários do Johnny não poderiam piorar, mas aparentemente ele conseguiu um companheiro a altura. — O professor ri enquanto fala, e sei que ele gosta do bambam, mesmo que ele tenha chegado agora e ainda não tenha feito muita coisa além de piadas, porque afinal, é o primeiro dia de aula dele. — Mas a resposta é não. Não vai ter a parte do pelados.

— Nossa! eles sempre tiram a parte boa. — Johnny fala e eu escuto um tapa seguido de um "ai", o que faz com que eu e o resto da turma caissemos na gargalhada, pareciamos hienas de tanto que ríamos.

— Professor, as cabanas vão ser divididas de acordo com as turmas ou de forma aleatória? Tipo, eu posso cair em uma cabana com alguém do segundo ou do terceiro ano ou apenas com pessoas do primeiro? — Yugyeom pergunta, e eu sei o motivo de ele estar perguntando isso, não sou burro. Já estou imaginando os milhões de planos que ele vai traçar para ficar na mesma cabana que Jinyoung, não quero nem ouvir sobre eles, sei que são loucos.

— Todas as turmas vão poder se misturar, a regra é apenas meninas com meninas e meninos com meninos, 5 pessoas por cabana, junto com mais dois supervisores. Vocês podem escolher com quem vão ficar, a única coisa fixa são os supervisores.

— Irado. — Bambam comenta e todos concordam com ele. Pelo silêncio que a sala se faz depois disso, acho que ninguém mais tem perguntas para fazer.

— Então se era só isso, estão dispensados. Boa tarde e até amanhã. — Os passos do professor indo embora atingem meus ouvidos, junto com os do resto da turma, mas Yugyeom me impede de levantar, e eu já sei que ai vem merda.

— Você tem que chamar o Jaebeom pra ficar na nossa cabana.

— Eu tenho? — Tento soar o mais confuso o possível, me fazendo de abestado, mas é o Yugyeom, ele é mestre em fazer a britney surtada pra cair na minha pilha.

— Sim, você tem, porque se ele ficar na nossa cabana o Jinyoung também vai ficar e eu definitivamente quero ficar na mesma cabana que Park Jinyoung. — O desespero do meu amigo é palpável, mas eu não vou sair dessa de mãos vazias.

— O que eu ganho se fizer isso?

— Além da chance de dividir o quarto com o Jaebeom?

— Eu já faço isso todo dia. — Lembro, o que faz meu amigo bufar.

— Te pago sorvete por uma semana, aquele da sorveteria chique.

— Três semanas ou nada feito. — Nem preciso lutar muito, essa batalha já está ganha.

— Ok, te pago sorvete por três semanas. — Eu não disse? Sorrio, feliz da vida com meu novo acordo, e então me levanto, estendendo a mão para Yugyeom, que a segura e a aparta, para fechar o negócio oficialmente.

— Então está feito.

Blind • 2Jae (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora