Capítulo Único

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- Eu odeio esse lugar! – gritou João batendo  a porta do seu quarto na casa nova. – Tínhamos que vir justamente pra cá?

- Você quer que eu vá até aí!? – gritou a mãe do menino no andar de baixo.

- Isso tudo é culpa sua! – diz o garoto apontando para um porta-retrato e em seguida o arremessa contra a parede – Só podia ser culpa sua! 

- Que barulho foi esse, João!?  - grita a mãe do garoto subindo as escadas – O que foi isso? – pergunta a mulher furiosa abrindo com força a porta do quarto.

- Eu odeio esse lugar e você sabe muito bem disso! – retruca o garoto.

A mãe de João suspira e pega o menino pelas orelhas descendo as escadas o levando até o porão da casa.

- Você vai ficar aqui em baixo para pensar nas besteiras que você fez! – diz a mãe do garoto subindo as escadas e trancando a porta do porão.

- Eu não me importo de ficar aqui! Nesse lugar sujo e empoeirado como o resto dessa casa. 

João em protesto chuta uma mesa, de onde cai um envelope sujo. De dentro dele retira folhas amareladas com digitais de dedos falhadas com sangue, curioso, ele senta na mesa e começa a ler:

Montana, EUA

14 de Setembro de 2006.

Eu espero que alguém esteja lendo isso. Há uma coisa horrível nos arredores de West Glacier, para ser mais preciso, no meio da floresta.

Tudo começou quando eu e minha namorada decidimos passar uns dias fora, num lugar que tivessem montanhas e fosse um pouco mais frio que o sul da América. Viemos pra Montana então.

Assim que chegamos na cidade, a primeira coisa que fizemos foi procurar um casa pequena sem escadas para passar uns dias até irmos para outra cidade.

- Aposto que há sessenta anos atrás conseguiram um casebre de péssimo gosto, com vizinhos estranhos iguais aos meus novos. – diz João se ajeitando na cadeira.

Pagamos as taxas e escolhemos uma casa mais próxima do mato, queríamos um pouco de distância de barulho de estradas. O pessoal daqui não é muito receptivo como no Brasil, o inquilino apenas falou o que era necessário sem me olhar nos olhos.

Peguei a chave com o senhor e abri a fechadura, senti uma sensação de que alguém estava nos observando, seguido de um calafrio pensei no vento gelado que deixavam minhas unhas roxas. Entrei na casa.

Depois de arrumarmos nossas malas, Bruna e eu sentamos no sofá para assistir televisão, poucos canais funcionavam. Dei um beijo nela e fui até a cozinha preparar algo pra nós comermos.

Da cozinha escuto Bruna gritar por mim, ela aumentou o volume da televisão e pediu pra prestar atenção no noticiário. Se tratava de um assassinato de uma família de mexicanos que aconteceu no leste do condado e que passados sete dias, as autoridades não tinham encontrado os autores do crime. Eu me senti um pouco mal por isso, não sabia desse histórico de xenofobia nessa parte dos Estados Unidos. Acabei de preparar a pipoca, mudamos de canal e passamos a tarde inteira assistindo televisão.

À noite fomos jantar em um restaurante local, tanto na ida quanto na volta, senti que algo ainda estava nos observando, não comentei nada com a Bruna, não queria assustá-la. 

Fomos dormir por volta das dez horas, estávamos cansados. No meio da noite escutamos gritos um pouco distante, Bruna me pediu que levantasse pra ver o que estava acontecendo. Olhando pela pequena janela do banheiro na parte anterior da casa vi um clarão de fogueira. Eu fiquei assustado, mas voltei para cama e disse para Bruna ficar tranquila que não vi nada demais. Essa cidade é muito estranha, decidi que no dia seguinte nós iríamos embora.

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