Cap. 6- Uma Nova Dupla?

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Aqueles dias a seguir ao incidente não eram os melhores que o John tinha vivido. Andava pelo infantário, com um olhar pesaroso e triste no rosto, e já quase não falava com ninguém. Pobre Laurens. Ele já nem olhava ou sequer dirigia a palavra ao Hamilton, uma triste mudança que afetava o humor dos dois.

Um dia, o Laurie resolveu ir dar um passeio pela vizinhança. Desde que as crianças não se afastassem muito, o senhor Washington não se importava que dessem uma passeata de vez em quando. De olhos postos no chão, o John caminhava lentamente, imerso nos seus pensamentos, quando... BING! Chocou com alguém.

- Ai! - gemeu o Laurens, a esfregar a cabeça. Estava prestes a ripostar com quem quer que ele tivesse chocado, quando reparou que esse alguém estava tão magoado quanto ele.

- Oh, desculpa. Magoei-te? - perguntou o trausente, que era um rapazinho da sua idade. O Laurens levantou a cabeça para observar melhor o tal menino, quando se assustou: ele tinha os olhos todos pretos, como duas bolas pretas de bilhar!

- Não tenhas medo - tranquilizou o outro, ao perceber que o nosso John estava assustado. - Não é deficiência. É só... Não interessa. O meu nome é Tom Rigdwell .

- Olá! Eu sou o John Laurens. Muito prazer.

- Igualmente.

Os dois rapazes apertaram a mãos, sorridentes. Ele parece simpático!, pensavam ambos.

- Pareces um pouco triste - reparou o Tom. - Que se passa? Queres falar sobre isso?

O John pensou um pouco e resolveu responder:

- Oh, sim. Eu preciso mesmo de alguém para desabafar. Sinto-me tão triste ultimamente...- suspirou o Laurens, conduzindo o novo amigo para um banco de madeira. Sentaram-se os dois lá e o Laurie começou:

- Sabes, há um menino chamado Alexander Hamilton de quem eu gosto, mas há outra rapariga, chamada Eliza Schuler, que sente o mesmo. Mas, tanto eu como ela descobrimos, e andámos à pancada durante algum tempo no jardim da casa dela. Azar, o Ham passou por ali e viu, e agora tenho a certeza que me odeia. Ele nunca me vai amar; até disse que gostava da Eliza!

Foi quando o Laurens se apercebeu: tinha revelado a sua sexualidade ao rapazinho que acabará de conhecer! E se ele não aceitasse?

Mas ele não se precisava de preocupar, pois o Tom surpreendeu-o com um sorriso ( coisa que ainda não tinha feito depois de encontrar o John).

- Como eu te percebo! Eu nunca passei por isso, mas sei o que é descobrir que um rapaz de que tu gostas é hétero. Sabes, eu também sou gay.

E ali nasceu uma nova amizade. Depois disso, para espanto dos outros rapazinhos que residiam no infantário, aparecia no establecimento com um ar mais feliz do que o habitual. Que bom, alguém o entendia e não ignorava a sua situação triste, coisa que que os coleguinhas tinham feito naqueles dias! A certo momento, o Lafayette perguntou:

- Mon ami Laurie, pourquoi es-tu si heureux ces jours-ci?

- Desculpa, Laff?

- Pardon me pelo francês. Sei que não és muito bom a compreender, como o Madison ou o Mulligan. Perguntei porque andas tão contente ultimamente!

- Ah. Isso. Conheci um rapaz chamado Tom. Ele compreende-me, que é aquilo que vocês têm abdicado de fazer! - esclareceu o John, acrescentando um tom zangado no final da frase.

- Desculpa- disse o outro, olhando para o chão. - Sabes, como o Alex é novo, queríamos causar boa impressão, então ficámos do lado dele.

- Tudo bem. Mas eu também estou irado, porque vocês preferiram defender um tipo novo do que a mim, que ando com vocês há que tempos. Que fique claro: eu não gostei disto do que aconteceu e prefiro falar disso com o Tom apenas.

O Lafayette anuiu. Compreendia. E despediu-se do Laurens, para contar as novidades aos outros. Quem ficou menos feliz com a conversa foi, claro, o Hamilton.

" Porque é que fui tão rude na altura?" - turturava-se ele. - " Não devia ter sido tão duro com o pobre Laurie: agora nem me deve considerar seu amigo, e a culpa é toda minha."

Até que o Alex se apercebeu de que não sentia nada pela Eliza, mas sim pelo John. E ele ia conquistá-lo de volta, mas precisava de um tempo para pensar...

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