Era difícil de acreditar que a responsável pela minha embriaguez da noite passada, estava parada frente minha porta, onde diz que está de mudança.
- Você está louca? De onde tirou que vai morar comigo? - Digo exaltada.
- Amiga, você não se lembra do nosso acordo ontem?
- Amiga? Você sabe o que me fez passar ontem?
- Bom, eu só queria que você relaxasse, estava de olho em você, até você dizer que estava indo ao banheiro. Você sumiu e depois disso não te ví. Quando saí do serviço eu vim aqui, mas você não estava. Também te liguei, mas ouvi pela porta que você esqueceu o celular em casa. Onde você esteve? Eu cheguei a um tempão sabia?
- O que? Espera... Você me ligou? Não estou entendendo o que está acontecendo aqui.
- Amiga, abre a porta... Vamos guardar minhas malas, fazer uma comidinha vegana... – Diz tentando me convencer, mas eu apenas me assusto mais com tantas coisas que ela sabe sobre mim. – Sim, sei de muita coisa, você quando bebe, conta sua vida toda.
- O que te faz pensar que vou abrir minha porta para você? -Dito sem acreditar na audácia da garota.
- Sei lá. Talvez... Por eu ter te empregado e ajudado você a conseguir um visto?
- O que? - cambaleio para trás.
- Amiga abre a porta que eu te explico.
- Okay. – Eu abri a porta e comecei a ajudá-la a arrumar seus pertences. Sem entender o porquê uma estranha iria me ajudar tanto.
- Você me contou tudo amiga... Então resolvi te ajudar. O emprego na boate não é fixo, e não dá visto, mas vai te ajudar a juntar algum dinheiro. Eles pagam bem as bartenders estrangeiras, sem contar as gorjetas dos homens...
- Mas... E o visto?
- Bom... Eu nasci no Brasil, e logo fui colocada para adoção, por sorte fui adotada por um casal incrível. Meus pais adotivos são coreanos, eles moravam no Brasil quando me adotaram, mas quando eu completei 10 anos, nos mudamos para cá. Eles são professores de língua coreana. Então falei com eles e coloquei você na lista de matrícula. É um curso particular, mas você pagará sendo voluntária, ajudando-os a ensinar português. Esse curso sim dá visto de estudante, e de quebra você aprende coreano.
- Nossa... Eu não sei nem o que te dizer. Muito obrigada. Por que está sendo tão boa comigo?
- É difícil a vida na Coreia para uma estrangeira, e não é fácil fazer amigos também. – Ela diz, se despindo e entrando para o banho.
- Então você ficou com pena de mim? - Eu a sigo.
- Não estava falando de você e sim de mim. Você foi minha oportunidade de fazer uma amiga e sair da casa dos meus pais.
- Entendi... Qual seu nome?
- So-Ra. – Diz saindo do banho e fazendo sinal com a cabeça de que era minha vez.
Após tomarmos banho, arrumamos as camas improvisadas e nos deitamos.
Não demorou muito para me encontrar sozinha no meio da noite. Em instantes, percebo que estou de volta ao luxuoso apartamento onde tinha acordado naquele dia. E de repente senti as mãos do meu salvador sobre meu quadril.
- Já está com saudade? – Disse, se debruçando sobre mim e falando em meu ouvido.
- Oppa? O que faz aqui?
- Essa é minha casa, se esqueceu?
- Então, o que eu faço aqui?
- Você pergunta demais. – Ele dita com serenidade, me virando de frente com força e tirando a calça do pijama.
- Por que está fazendo isso?
- Porque você quer. – Diz, me sentando na cama e rasgando os botões de minha blusa.
- Do que está falando? Eu mal te conheço.
- E isso importa? - Ele tira minha calcinha e sua cueca com agilidade, revelando seu membro ereto. Novamente se inclina por cima de mim. – Eu posso colocar? – Diz o segurando, e em poucos centímetros de se penetrar em mim. Ele me encarava com o mesmo olhar que me fitava no carro com perversão, era como estar vendo um déjà-vu.
- Pode...
Em um supetão, sou acordada pelos socos que Bo-Ra dava no aquecedor que trouxe em sua mudança.
- Desculpe te acordar, mas essa coisa não quer funcionar. De qualquer forma, daqui a pouco teremos que sair. – Ela diz o arrancando da tomada.
- Sem problemas... Eu estava tendo um pesadelo mesmo. – Digo me levantando e começando a guardar a “cama”.
- Nossa, nem suspeitei... Você estava até sorrindo.
- Não estava. – Dito em tom alto e rude.
- Nossa me desculpe.
- Eu que peço desculpas, não queria se rude. – Digo arrependida e tentando encontrar uma roupa que me aqueça.
- Coloque essas daqui. – Dita empurrando uma pilha se vestimentas comportadas, que havia em sua mala. – Vamos fazer sua entrevista e solicitação hoje, no curso para o visto.
- Okay.
- Você não tem quase nada de roupa, então use as minhas... Coloque as decentes para o curso e as ousadas para o trabalho no clube. E quando sua pensão cair, vamos comprar roupas novas.
- Que pensão?
- Verdade... Esqueci de te avisar que, seu pai ligou no seu celular de madrugada, acho que ele não se tocou da diferença de horas... Enfim, disse que depositará todo mês sua pensão e a primeira já está depositada, é para você mandar mensagem quando cair na conta. Você recebe pensão de que? Já não está velha pra isso?
- Bom nem acredito que ele mandará o dinheiro. – Digo com surpresa. – Recebo pensão de consciência pesada. – Bo-Ra rí, como se tivesse ouvido a maior piada de sua vida.
- Entendo... Eu pagarei o aluguel esse mês e depois dividimos.
Estar com ela era estranho, era como se eu me sentisse protegida e ao mesmo tempo livre. Será que essa é a sensação de ter uma amiga?
As semanas voam, meu relacionamento com Bo-Ra a cada dia fica mais próximo. Os pais dela sempre me tratavam bem e suas explicações de língua coreana eram tão fascinantes, que já tinha aprendido a conversar no idioma, porém era algo que só fazia em sala de aula, pois tinha muita vergonha de falar com um nativo, por conta do meu sotaque ainda presente. Quando recebi minha primeira pensão, comprei algumas roupas, (apesar de não conseguir comprar a quantidade necessária, pois compramos alguns utensílios para casa) também presenteie Bo-Ra com um vestido rosa, para combinar com o tom de minha saia. Pois era o minha primeira noite trabalhando na boate e como se tratava de uma quarta-feira, resolvi fazer uma ligação com o filme “Meninas Malvadas” que gostávamos de assistir juntas, então “Nas quartas nós usamos rosa”.
Era apenas uma “lembrancinha”, mas sentia a necessidade de agradecê-la de alguma forma, depois de tudo que ela fez por mim. Então vestimos nossas roupas novas e rosas, como um casal coreano e fomos para o trabalho.
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Olhando a Vida nos Olhos
Lãng mạnQuando se está cansada de apenas sobreviver e resolve "olhar a vida nos olhos", a ansiosa S/n, se arrisca em uma nova forma de viver sua vida. Sem rumo ou um plano, por amor a dança e em busca de autoconhecimento; o destino faz com que ela esbarre...