AS MORTALHAS ASSUSTADAS
Eles choravam nas esquinas
Enquanto se despediam enlutados
Com suas capas negras
Pesadas
Mortalhas que anunciavam tristeza
Mas eles mesmos, os emissários
Choravam tristemente
Pois o peso das notícias
Era escuridão como noite sem fim
Era o terror se espalhando
Tão rápido que parecia
Estrela morrendo a olho nu
Os emissários eram chamados
Malditos, o que era mais dor
Já que deles o poder era a palavra
Apenas
Não carregavam poções ou encantos
Magias
Apenas a certeza do anúncio
Dezenas de almas cansadas corriam
Tentando fugir da notícia
Mas como raios rasgando os prados
Os emissários chegavam ligeiros
Sacudindo suas capas negras
Anunciando respeitosamente:
A hora chegou, a hora chegou.
E tudo ficava mais simples
Mais denso
Mais triste
E quando alguém olhou
Para o lago e viu borboletas
Azuis, brancas, roxas e amarelas
Pensou na possibilidade
Apenas distante e fugaz
Do fim da missão das mortalhas.
Por um momento o som
Se foi, e a morte parecia nada
Foi cancelado o anúncio:
A hora chegou
Mas as mortalhas assustadas
Perceberam pequenos grupos
Gente que não estava anunciada
Em lista alguma do dia
Fazendo o trabalho da morte
Roubando sua única missão
Gritavam como formigas alucinadas
Diante da tempestade:
A hora não existe
A morte não chegou!
E faziam isso enquanto
Em pequenos grupos
Propagavam a morte entre irmãos
Foi nesse dia que as mortalhas
Tristes
Souberam que seu serviço
Nunca teria fim
Nota: este poema reflete minha agonia diante da indiferença.
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As Mortalhas Assustadas
PoetryPoesia angustiada de quem sofre ao perceber que muitos tratam com descaso as mortes da Pandemia.