Razões Pra Escolher Você

20 | Margaridas que plantei pra você.

Tudo bem, só mais uma olhadinha: Sem mensagens respondidas, sem ligações retornadas por ela. A tela do celular parecia entediante. Ansiedade tomava conta de Theo, principalmente quando checava de cinco em cinco minutos se Clarissa tinha respondido suas mensagens, mas se decepcionava toda vez, ao perceber que não havia nem sinal dela.

Ele não queria pressionar, nem ser irritante, nem ser o tipo de cara que fica em cima.

Desde o dia que Clarissa fora a fraternidade e ele tinha admitido estar apaixonado, Theo enviara dez mensagens de texto e tinha ligado algumas vezes também. Literalmente dez mensagens de texto. Nenhuma tinha sido respondida, então a partir daí ele decidiu não procurar mais, até que faziam dois dias que ela não aparecia na faculdade, nem nos ensaios da peça.

- Ela só precisa de um tempinho. - Disse Alisson para Theo, quando se esbarraram no refeitório.

Theo respeitou o tempinho de Clarissa. Por mais preocupado que estivesse com tudo, com a descoberta de que John continuava a assediando, ele se segurou pra não aparecer na porta de seu apartamento e dizer que faria qualquer coisa, qualquer coisa MESMO, para protegê-la.

Era estranho o fato de que admitir algo tirava um peso de suas costas. Dias atrás, admitir que estava apaixonado por Clarissa parecia o fim do mundo, parecia a coisa mais absurda e pecaminosa que ele poderia dizer. Mas agora, tudo estava mais leve... Até certo ponto. Até o ponto em que ela simplesmente não falava com ele.

Talvez agora, se checasse, ela talvez teria respondido as mensagens... Não, ela não tinha.

Foi no meio dessa ansiedade que Theo teve a grande ideia de plantar seis das margaridas do canteiro da faculdade num vasinho colorido que comprou de Lara, na floricultura.

- Porque você vai plantar flores num vaso se pode levar elas daqui mesmo da floricultura, embrulhadinhas num papel bonito? - Perguntou Lara, meio confusa.

Theo deu um daqueles seus sorrisos tortos, charmosos e brancos.

- Não quero dar pra ela flores mortas. Vou plantar, regar, e dar pra ela flores vivas. - Disse ele, orgulhoso.

Lara deu de ombros.

- Errado você não está. - Disse ela, colocando o vaso colorido de barro numa sacola de papel.

E então, sorrateiramente, Theo furtou seis das margaridas do canteiro de margaridas da faculdade, cuidadosamente, pra não perder a raiz. Enfiou tudo no saco de papel da floricultura e adentrou rapidamente no seu carro.

Passou correndo por Will e Otávio na sala, jogando videogame. Nenhum dos dois disse nada, e Theo definitivamente tinha se tornado o cara mais odiado por Will. Mas Theo não estava nem aí.

Uma hora depois, lá estavam as margaridas, plantadas com a terra do quintal da fraternidade. Nada mal para quem nunca tinha plantado uma sementinha de feijão no algodão, pensou Theo.

No terceiro dia, Theo aguardou Clarissa ansiosamente na faculdade, com o vaso de margaridas escondido. Mas ela não apareceu.

- Amanhã ela vem. - Disse Alisson tentando amenizar a situação.

Theo fumou dois cigarros seguidos. Mas já faziam três dias, será mesmo?

Bom, ou melhor, péssimo: Alisson estava errado. Clarissa não apareceu no outro dia.

Se sentindo um imbecil, Theo cansou de esperar por ela com as margaridas cultivadas. Ele subiu até a sala vazia onde eles conversaram uma vez, colocou o vaso onde o sol batia, sobre uma mesa de madeira, jogou um pouco da água de sua garrafa d'água que mantinha na mochila e saiu, meio frustrado.

Era óbvio que ele estava parecendo um pré adolescente apaixonado e decepcionado, então, parou de esperar por ela nos próximos cinco dias. Já não dava mais desculpas pra si mesmo e pelo sumiço de Clarissa.

Deu de cara com o diretor na porta da sala, no qual lhe ergueu uma sobrancelha em questionamento.

- O que estava fazendo aqui? - Perguntou o diretor da peça.

Theo não tinha porque mentir.

- Tenho esperado por Clarissa a semana toda pra dar aquele vaso de margaridas pra ela. - Disse ele, apontando para o vaso, dentro da sala. - Mas ela não apareceu. Então guardei ali onde o sol bate e ninguém vem aqui mesmo...

O diretor soltou uma risada abafada.

- Tudo bem, menino. - Disse ele. - Uma hora, ela aparece.

Theo deu uma última encarada de longe nas pétalas brancas das flores e deu de ombro, torcendo pra que ela realmente aparecesse.