Bati a porta do quarto e procurei o número de Renata nos meus contatos. Eu estava furiosa, principalmente comigo mesma. Sofia não precisava de desculpa para não ir com a minha cara e mesmo assim, eu vivia lhe arrumando uma nova. Renata atendeu no primeiro toque e assim que ouvi sua voz, desatei a chorar. Isso estava se repetindo muitas vezes ultimamente.
- Calma, Lau, o que aconteceu? - perguntou preocupada.
- Sua irmã, ela... - A essa altura alguém começou a bater na porta do meu quarto, que ainda bem, dessa vez eu tinha me lembrado de trancar.
- O que aquela babaca fez? - perguntou irritada.
- Eu roubei o sorvete dela. - Soluço. - Aí deixei Thomás lamber o pote sem querer. - Soluço. - Aí ele passou mal. - Soluço. - Aí meu carro não pegava. - Soluço. - Então eu roubei o da sua irmã. - Soluço. - Para levar o gato até o veterinário.
Se eu estava esperando apoio, não viria daquela fonte, porque ela caiu na risada e eu, claro, chorei mais.
- Pelo amor de Deus, fica calma - pediu quando viu que eu não estava achando graça alguma na situação. - Quer vir dormir aqui comigo?
- Quero - solucei de novo.
- Tudo bem, estou indo aí buscar você - disse e desligou.
Quem quer que fosse bateria na minha porta até cansar. Eu não queria mais discutir com ninguém. Não fazia ideia de por que eu tinha ficado tão emotiva por causa de uma simples discussão (isso não fazia o meu perfil), mas continuei a chorar até Renata me chamar quase quarenta minutos depois.
- Lau, sou eu - disse detrás da porta, tentando virar a maçaneta. - Vamos?
Desci da cama e limpei o rosto antes de pegar minha mochila e sair. Sofia estava escorada na porta do quarto dela e assim que viu meu rosto, sua expressão irritada se suavizou, somente para se tornar horrorizada.
- Você está chorando? - perguntou Sofia, franzindo o cenho.
- Não, ela está lavando o olho de dentro para fora, não está vendo? - disparou Renata com cara de poucos amigos. - Precisava ter gritado com a garota por causa da droga de um sorvete?
- Ela roubou meu carro também e...
- Mas nada - interrompeu a irmã e prosseguiu, inclinando-se para pegar na minha mão. - Ela já passou por muita coisa para ainda ter que aturar uma babaca como você, gritando com ela por causa de um acidente - rebateu, enquanto me puxava pelo corredor. Não sei explicar o motivo, mas o fato de ser defendida por ela me fez chorar ainda mais. Isso estava passando dos limites, eu tinha que parar. Mas era tão reconfortante alguém gritar por você, em vez de com você, pelo menos uma vez na vida.
Sofia agarrou meu braço.
- Laura, espera - disse com ar decepcionado. - Eu sinto muito, eu...
- Deixa ela em paz - gritou novamente Renata, me dando um novo puxão e desprendendo a mão de Sofia do meu braço. - Amanhã, quando ela estiver mais calma, você se desculpa.
Chegamos à sala e encontramos Alondra e Wendii sentadas no sofá, olhando assustadas para Renata, que estava soltando fogo pelas ventas.
- Aonde você vai, Laura? - perguntou minha irmã, de forma autoritária.
- Não é da sua conta - respondeu Renata, antes mesmo que eu tivesse processado a pergunta. - Ela já é bem grandinha para ter que dar alguma satisfação.
- Que bicho mordeu você, Reni? - perguntou espantada. Alondra não estava muito habituada a ter pessoas gritando com ela; normalmente era ela quem gritava. Se eu não estivesse chorando tanto, teria gargalhado da situação.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Girl With Red Hair
RomantiekLaura Buitrago é uma linda advogada bem-sucedida. Desde que assistiu a uma cerimônia de casamento pela primeira vez, ainda criança, seu sonho é apenas um: percorrer o tapete vermelho da igreja, vestida de noiva. Porém, contrariando todas as suas exp...