My girlfriend

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Acordei em uma cama que não era a minha e sorri ainda de olhos fechados. Eu sabia somente pelo perfume no ambiente que ainda estava no quarto dela, na cama DELA, e também sabia que tinha passado a noite ali, porque mesmo com os olhos fechados, eu podia sentir a claridade se esgueirando através das minhas pálpebras. Levei alguns minutos sentindo a maciez dos lençóis em que ela dormia todas as noites e enfim abri os olhos. Ela não estava na cama. Antes que eu pudesse me frustar, imaginando que ela havia ido dormir em outro quarto para não me acordar; em vez de ter pegado no sono ao meu lado, ouvi o barulho da água correr no banheiro. Entretanto, as palavras que ouvi em seguida me fizeram estacar no lugar. Ela estava cantando...

"Olhando o céu
Lembrei que tudo que vivemos
Não passou
E pra dizer mais
Pensei que temos outra chance
De fazer o nosso sol brilhar em mim
Em você.
O tempo não apaga
Não desfaz o beijo que eu desejo sempre mais.
Não posso esquecer o seu olhar no meu
Eu sei que o nosso amor ainda não morreu."

Não sei o que me deixou mais surpresa: o fato de que ela realmente estava cantando, ou a forma perfeita com a qual ela o fazia. Ela não só estava cantando, ela sabia cantar.

Levantei e fui a passos lentos até a porta do banheiro, encostei meu rosto nela e me deixei ser absorvida pelas palavras que saíam da boca de Sofia. Era perfeição demais em uma única pessoa para que ela fosse real. Considerei seriamente a ideia de conferir seus sapatos, ela tinha que ter chulé, ou qualquer outro defeito! Ninguém era tão perfeito, era contra a ordem da natureza; mas acabei não saindo do lugar e sentando no chão, escorada na porta, ouvindo-a atentamente. Eu faria qualquer coisa para tê-la cantando aquela música só para mim, cantando-a por mim.

Assim que o chuveiro foi desligado, fui obrigada a levantar, e então apareceu a dúvida: o que fazer? Correr para meu próprio quarto? Voltar para sua cama? A situação ficaria embaraçosa de qualquer maneira, então acabei decidindo ir até a sacada do quarto e respirar ar puro.

- Bom dia - cumprimentou, sorrindo na minha direção e se sentando em uma das cadeiras na sacada. Ela já havia se vestido no banheiro. Droga, bem que eu queria ter apreciado a vista de apenas uma toalha.

- Bom dia - retribuí sorrindo também. - Desde quando você canta? - Eu não conseguiria deixar o assunto para lá.

- Eu... é... - ela parecia envergonhada por ter sido ouvida, então resolvi ajudá-la.

- Sua voz é linda. - Igual você, por completo.

- Obrigada, eu também toco violão, mas não tenho mais o hábito de cantar, ao menos não fora do chuveiro. - Sorriu. - Não gosto de muitas pessoas olhando para mim ao mesmo tempo.

- Desculpe por ontem, eu peguei no sono - menti, mudando de assunto.

- Eu é que peço desculpas, você dormiu primeiro e eu ia colocá-la na sua cama antes que você acordasse - disse, passando a mão pelos cabelos molhados. - Mas acabei dormindo também e...

Não gostei de sua expressão, por isso virei o rosto. Claro que tinha sido obra do acaso, mas éramos amigas, certo? Não tinha acontecido nada de mais.

- Acho que deveríamos deixar esse incidente apenas entre nós duas - terminou. - Não quero que suas irmãs tenham ideias erradas.

- Claro - respondi me levantando e arrastando a cortina para entrar no quarto. Eu era tão repugnante para ela, que nem mesmo dormir comigo sem querer poderia ser levado em consideração.

- Eu disse alguma coisa que chateou você? - perguntou, vindo atrás de mim.

- Claro que não. Você tem razão - respondi, indo em direção à porta do quarto. - Isso não vai se repetir, e pode ficar tranquila que não vou contar para as minhas irmãs que dormi com o lobo mau.

The Girl With Red HairOnde histórias criam vida. Descubra agora