Júlia olhou-se no espelho, e aprovou sua imagem refletida. A maquiagem estava leve, como costumava usar, mas seus cílios estavam incrivelmente longos, o que na opinião dela deixava seu olhar ainda mais intenso.
Preferiu prender seus longos cabelos loiros em um rabo de cavalo, pois se sentia mais confiante com aquele penteado.
Inspirou o seu perfume. Floral e adocicado. Aprovou o seu cheiro.
"Ah, o Mauro vai adorar", pensou satisfeita.
Naquele instante a porta do seu quarto foi aberta, e uma senhora de cabelo preso em coque pediu licença para entrar.
— Como você está linda, meu bem.— Elogiou-lhe a mesma.
Júlia abriu um largo sorriso. Em seguida deu uma voltinha um tanto desajeitada para mostrar-lhe o look. Júlia estava com um vestido vermelho que valorizava suas curvas. Os sapatos de salto alto deixavam suas pernas ainda mais torneadas.
— Obrigada. Que bom que você gostou, Neusa. A propósito, o Mauro já chegou?
— Nem sinal dele...
Júlia assentiu com a cabeça, para o reflexo de Neusa no espelho, enquanto dava os últimos retoques na maquiagem.
— Julinha, você ainda vai precisar de mim hoje? — Indagou a senhora.
— Não, pode ir para casa — Júlia pensou por um instante. — Melhor, Neusa, você pode tirar o fim de semana de folga e só voltar na segunda. Eu tenho planos e caso Deus queira eu esteja certa, passo o fim de semana fora. — Concluiu voltando-se para ela.
Neusa franziu o cenho.
— E aonde que você tá pensando em passar o fim de semana, menina?
Júlia enrubesceu.
— Ah, Neusa, na verdade Mauro me convidou pra jantar como você bem sabe. Acredito que hoje ele vai finalmente se declarar pra mim. E sabe-se lá o que pode acontecer depois, eu tenho esperado por isso há tanto tempo...
Júlia suspirou profundamente. Como esperava que seu anseio se tornasse mesmo real.
Neusa só balançou a cabeça em negativa. Ela conhecia Júlia desde que ela era ainda um bebê. Primeiramente, trabalhara como babá na casa do pai dela, dr. Henrique Albuquerque, e quando Júlia cresceu passou a desempenhar outras funções na casa. E finalmente, quando Júlia ao fazer 18 anos, decidiu que era hora de sair de casa, Neusa fez questão de acompanhá-la.
— Que foi, Neusa? Poxa, é meu aniversário. Eu posso sonhar, não é mesmo? — disse Júlia com a voz manhosa.
— Não estou dizendo nada. Mas você precisa ter cuidado pra não se machucar. — Aconselhou-lhe ela.
Júlia se aproximou e abraçou Neusa. Como tinha carinho por ela. Quando sua mãe falecera, Neusa não lhe abandonara um minuto sequer. Sempre sendo sua fiel e dedicada amiga. Beijou as mãos negras, que tanto carinho já haviam lhe dado.
— Eu sei e agradeço sua preocupação, mas vai ficar tudo bem — tranquilizou-a, oferecendo-lhe em seguida seu melhor sorriso.
— Eu volto na segunda, então. Mas vou deixar uma comidinha na geladeira pra você esquentar quando tiver fome.
— Ok. E não esqueça de levar bolo pra sua família. Senão, vai acabar estragando.
Neusa sempre fazia um bolo de chocolate para Júlia, seu preferido, no dia do aniversário dela e naquele ano não havia sido diferente.
— Tá bom, obrigada. Agora, eu vou só terminar de limpar a cozinha e já vou pra casa.
Júlia acompanhou Neusa, mas foi para a sala de estar esperar por Mauro. Ele já devia estar chegando. Os dois haviam combinado de jantar juntos em comemoração ao seu 23° aniversário.
Na verdade, Mauro a convidara há quase um mês. E aquele convite a fizera sonhar o mês inteiro. Não que Mauro não saísse com ela em seu aniversário, mas ele costumava chegar de repente no apartamento ou na loja dela e eles lanchavam alguma coisa, às vezes o bolo da Neusa.
Mas dessa vez Júlia sentia que seria diferente. Afinal, um jantar em um dos melhores restaurantes da cidade, com vista para o mar não era programa de amigos. Sim. Mauro finalmente se declararia para ela.
Júlia sorriu para si mesma.
Desde que conhecera Mauro Gonçalves ela sonhava com o dia em que ele perceberia que a amava. Não apenas como amiga, mas como mulher.
Júlia consultou as horas.
Nossa, 19h30.
Mauro havia combinado de ir buscá-la às 19h00 horas. Isso queria dizer que O Sr. Pontual estava atrasado.
Júlia sorriu.
É... aquela não era uma noite qualquer mesmo. Acomodando-se no sofá, abraçou o travesseiro com um dos braços.
Ela então decidiu visitar as redes sociais enquanto esperava por ele. Recebeu algumas felicitações por seu aniversário, agradeceu e deixou o celular por um momento.
Já 15 minutos haviam se passado e Mauro ainda não havia chegado. Júlia estava ficando nervosa e ansiosa, pois não era do seu feitio deixá-la esperando.
Levantou-se e ficou andando pela sala. Pegou o celular, olhou na rede social e viu que ele só estivera on line à tarde.
Neusa apareceu no vão da porta com um semblante acolhedor.
— Júlia, tudo bem?
— S...sim. — Ela hesitou. — O Mauro ainda não chegou.
— Ele deve ter pego algum engarrafamento. Você quer um copinho d'água?
— Não. Obrigada.
— Eu ainda vou ficar aqui uns 10 minutos. Se precisar de algo, me chame. — Júlia agradeceu.
Pegou o celular e discou o número de Mauro. " Fora de área ou desligado", respondeu a mensagem eletrônica.
Ela respirou fundo. Então, ligou para a residência dele.
— Júlia, o dr. Mauro ainda não chegou do escritório, não.
— Tem certeza, Alice? Já são quase 8 da noite.
— Por aqui ele não apareceu. Mas quando ele chegar, aviso que a senhora ligou.
Júlia agradeceu e desligou.
Será que ele havia esquecido do aniversário dela? Ou pior, e se algo de grave tivesse acontecido com ele no caminho? Júlia fez o sinal da cruz fazendo uma oração silenciosa para que Mauro estivesse bem.
Enviou algumas mensagens para ele. Nada.
Foi aí que teve a ideia de ligar para o escritório. " Como eu não havia pensado nisso antes?"
— Escritório de advocacia Gonçalves e Lopes, Miriam, boa noite.
Não era a voz de Rute, a secretária do Escritório, constatou ela.
— Boa noite. O Mauro está?
— O Dr. Mauro está em uma reunião, quem deseja? — respondeu uma voz pouco gentil do outro lado da linha.
Júlia respirou fundo. Um nó se formou em sua garganta e ela desligou o telefone. Não por causa da secretária antipática do escritório. Mas pelo fato de que pela primeira vez, Mauro havia esquecido do seu aniversário.
Júlia tentou segurar, mas o desapontamento a atacou em cheio e ela se esforçou para não chorar.
Justamente quando ela achava que ele havia se dado conta de que ela era a mulher certa para ele. E pior, para ficar preso no trabalho, isso se é que realmente estava trabalhando e não de casinho com a secretária nova, já que não era comum o escritório funcionar àquela hora.
Não. Júlia repreendeu-se.
Mauro não era esse tipo de homem. Se ele ainda estava no escritório, era bem do feitio dele está trabalhando mesmo. Mas isso não mudava o fato de ele tê-la esquecido, convenceu-se.
"Como eu sou boba", pensou decepcionada.
Em seguida pegou sua bolsa e saiu batendo a porta com força. Precisava afogar suas mágoas.
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Doce Júlia
RomanceJúlia Albuquerque é uma mulher independente, divertida e apaixonada. Mas seus esforços para conquistar Mauro Gonçalves são frustrantes, pois ele a ver apenas como amiga. Mas Júlia não pretende desistir desse amor tão fácil assim, e a chegada de algu...