Capítulo 1

1K 56 1
                                    

Júlia olhou-se no espelho, e aprovou sua imagem refletida. A maquiagem estava leve, como costumava usar, mas seus cílios estavam incrivelmente longos, o que na opinião dela  deixava seu olhar ainda mais intenso.

Preferiu prender seus longos cabelos loiros em um rabo de cavalo, pois se sentia mais confiante com aquele penteado.

Inspirou o seu perfume. Floral e adocicado. Aprovou o seu cheiro.

"Ah, o Mauro vai adorar", pensou satisfeita.

Naquele instante a porta do seu quarto foi aberta, e uma senhora de cabelo preso em coque pediu licença para entrar.

— Como você está  linda, meu bem.— Elogiou-lhe a mesma.

Júlia abriu um largo sorriso. Em seguida deu uma voltinha um tanto desajeitada para mostrar-lhe o look. Júlia estava com um vestido vermelho que valorizava suas curvas. Os sapatos de salto alto deixavam suas pernas ainda mais torneadas.

— Obrigada. Que bom que você gostou, Neusa. A propósito, o Mauro já chegou?

—  Nem sinal dele...

Júlia assentiu com a cabeça, para o reflexo de Neusa no espelho, enquanto dava os últimos retoques na maquiagem.

— Julinha, você ainda vai precisar de mim hoje? — Indagou a senhora.

— Não, pode ir para casa — Júlia pensou por um instante. — Melhor, Neusa, você pode tirar o fim de semana de folga e só voltar na segunda. Eu tenho planos e caso Deus queira eu esteja certa, passo o fim de semana fora. — Concluiu voltando-se para ela.

Neusa franziu o cenho.

— E aonde que você tá pensando em passar o fim de semana, menina?

Júlia enrubesceu.

— Ah, Neusa, na verdade Mauro me convidou pra jantar como você bem sabe. Acredito que hoje ele vai finalmente se declarar pra mim. E sabe-se lá o que pode acontecer depois, eu tenho esperado por isso há tanto tempo...

Júlia suspirou profundamente. Como esperava que seu anseio se tornasse mesmo real.

Neusa só balançou a cabeça em negativa. Ela conhecia Júlia desde que ela era ainda um bebê. Primeiramente, trabalhara como babá na casa do pai dela, dr. Henrique Albuquerque, e quando Júlia cresceu passou a desempenhar outras funções na casa. E finalmente, quando Júlia ao fazer 18 anos, decidiu que era hora de sair de casa, Neusa fez questão de acompanhá-la.

— Que foi, Neusa? Poxa, é meu aniversário. Eu posso sonhar, não é mesmo? — disse  Júlia com a voz manhosa.

— Não estou dizendo nada. Mas você precisa ter cuidado pra não se machucar. — Aconselhou-lhe ela.

Júlia se aproximou e abraçou Neusa. Como tinha carinho por ela. Quando sua mãe falecera, Neusa não lhe abandonara um minuto sequer. Sempre  sendo sua fiel e dedicada amiga. Beijou as mãos negras, que tanto carinho já haviam lhe dado.

— Eu sei e agradeço sua preocupação, mas vai ficar tudo bem — tranquilizou-a, oferecendo-lhe em seguida seu melhor sorriso.

— Eu volto na segunda, então. Mas vou deixar uma comidinha na geladeira pra você esquentar quando tiver fome.

— Ok. E não esqueça  de levar  bolo pra  sua família. Senão, vai acabar estragando.

Neusa sempre fazia um bolo de chocolate para Júlia, seu preferido, no dia do aniversário dela e naquele ano não havia sido diferente.

— Tá bom, obrigada. Agora, eu  vou só terminar de limpar a cozinha e já vou pra casa.

Júlia acompanhou Neusa, mas foi para a sala de estar esperar por Mauro. Ele já devia estar chegando. Os dois haviam combinado de jantar juntos em comemoração ao seu 23° aniversário.

Na verdade, Mauro a convidara há quase um mês. E aquele convite a fizera sonhar o mês inteiro. Não que Mauro não saísse com ela em seu aniversário, mas ele costumava chegar de repente no apartamento ou na loja dela e eles lanchavam alguma coisa, às vezes o bolo da Neusa.

Mas dessa vez Júlia sentia que seria diferente. Afinal, um jantar em um dos melhores restaurantes da cidade, com vista para o mar não era programa de amigos. Sim. Mauro finalmente se declararia para ela.

Júlia sorriu para si mesma.

Desde que conhecera Mauro Gonçalves ela sonhava com o dia em que ele perceberia que a amava. Não apenas como amiga,  mas como mulher.

Júlia consultou as horas.

Nossa, 19h30.

Mauro havia combinado de ir buscá-la às 19h00 horas. Isso queria dizer que O Sr. Pontual estava atrasado.

Júlia sorriu.

É... aquela não era uma noite qualquer mesmo. Acomodando-se no sofá, abraçou o travesseiro com um dos braços.

Ela então decidiu visitar as redes sociais enquanto esperava por ele. Recebeu algumas felicitações por seu aniversário, agradeceu e deixou o celular por um momento.

Já 15 minutos haviam se passado e Mauro ainda não havia chegado. Júlia estava ficando nervosa e ansiosa, pois não era do seu feitio deixá-la esperando.

Levantou-se e ficou andando pela sala. Pegou o celular, olhou na rede social e viu que ele só estivera on line à tarde.

Neusa apareceu no vão da porta com um semblante acolhedor.

— Júlia, tudo bem?

— S...sim. — Ela hesitou. — O Mauro ainda não chegou.

— Ele deve ter pego algum engarrafamento. Você quer um copinho d'água?

— Não. Obrigada.

— Eu ainda vou ficar aqui uns 10  minutos. Se precisar de algo, me chame. — Júlia agradeceu.

Pegou o celular e discou o número de Mauro. " Fora de área ou desligado", respondeu a mensagem eletrônica.

Ela respirou fundo. Então, ligou para a residência dele.

— Júlia, o dr. Mauro  ainda não chegou do escritório, não.

— Tem certeza, Alice?  Já são quase 8 da noite.

— Por aqui ele não apareceu. Mas quando ele chegar, aviso que a senhora ligou.

Júlia agradeceu e desligou.

Será que ele havia esquecido do aniversário dela? Ou pior, e se algo de grave tivesse acontecido com ele no caminho? Júlia fez o sinal da cruz fazendo uma oração silenciosa para que Mauro estivesse bem.

Enviou algumas mensagens para ele. Nada.

Foi aí que teve a ideia de ligar para o escritório. " Como eu não havia pensado nisso antes?"

— Escritório de advocacia Gonçalves e Lopes, Miriam, boa noite.

Não era a voz de Rute, a secretária do Escritório, constatou ela.

— Boa noite. O Mauro está?

— O Dr. Mauro está em uma reunião, quem deseja? — respondeu uma voz pouco gentil do outro lado da linha.

Júlia respirou fundo. Um nó se formou em sua garganta  e ela desligou o telefone. Não por causa da secretária antipática do escritório. Mas pelo fato de que  pela primeira vez, Mauro havia esquecido  do seu aniversário.

Júlia tentou segurar, mas o desapontamento a atacou em cheio e ela se esforçou para não chorar.

Justamente quando ela achava que ele havia se dado conta de que ela era a mulher certa para ele. E pior, para ficar preso no trabalho, isso se é que realmente estava trabalhando e não de casinho com a secretária nova, já que não era comum o escritório funcionar àquela hora.

Não. Júlia repreendeu-se.

Mauro não era esse tipo de homem. Se ele ainda estava no escritório, era bem do feitio dele está trabalhando mesmo. Mas isso não mudava o fato de ele tê-la esquecido, convenceu-se.

"Como eu sou boba", pensou decepcionada.

Em seguida pegou sua bolsa e saiu batendo a porta com força. Precisava afogar suas mágoas.

Doce JúliaOnde histórias criam vida. Descubra agora